A Galeria Nara Roesler | São Paulo apresenta Tumulto, Turbilhão, segunda individual de Lucia Koch na sede paulista da galeria. As duas obras que dão título à exposição são responsáveis por instaurar a atmosfera que recebe os demais trabalhos que compõem a mostra. Ocupando o salão principal da galeria, Tumulto é um cruzamento de cortinas diagonais que recortam o espaço, gerando um acúmulo de camadas semitransparentes. Parte destas cortinas-filtros parece atravessar as paredes, continuando para além das salas de exposição.

Essa desordem calculada é o núcleo gerador da exposição, que tem no eixo de Turbilhão seu contraponto. Esta obra se propõe como uma espécie de antivitrine, com a abertura da grande janela de vidro do espaço expositivo preenchida inteiramente por uma treliça vermelha. Nela é instalado um grande círculo (recortado da mesma treliça) que se move vagarosamente com a ajuda de um motor, criando assim um efeito moiré, que pode ser visto tanto de dentro, como de fora da galeria. Durante o dia, o ar e o ruído da rua atravessam a obra e são sentidos na exposição. À noite, com a luz do espaço acesa, o trabalho pode ser visto em movimento constante por quem passa na rua.

Assim como Turbilhão, Trabalho Noturno ecoa a experiência de A Longa Noite, instaurada por Lucia Koch no SESC Pompéia em 2018, e dos workshops em que o público era convidado a construir estruturas temporárias com as hastes de madeira vermelhas ali deixadas pela artista. Em uma sessão com estudantes de Arquitetura da FAU, promovida pelo grupo Lero-Lero, foi criada uma peça de treliça recortada com forma semelhante às janelas do ginásios do SESC, que girava - manualmente - fixa ao portão de treliças original. O experimento que deu origem a estas esculturas cinéticas foi feito por Vitor Martins, Thalissa Bechelli, Gabriel Hirata e Sariana Monsalve, que foram convidados a colaborar com a artista e Leo Padilha, na transposição da peça original para uma nova escultura, autônoma, e também na criação de Turbilhão.

Muitas das respostas aos grandes e pequenos colapsos que vivemos hoje, são criadas coletivamente. Assim acontece em Tumulto, Turbilhão, quando Lucia propõe colaborações e participações de artistas convidadas: Tramatura, que será apresentada na abertura da exposição, é a performance criada pela coletiva Balaiada Qualira - formada pelas artistas Eliara Lua, Flora Maria, Ana Musidora e Jo dos Santos. Visitando A Longa Noite no SESC, reagiram espontaneamente ao espaço transformado e as hastes oferecidas à experimentação, e foram convidadas por Lucia a explorarem novamente aqueles elementos com seus corpos mas em outro espaço sob outra luz.

Além de Tramatura, a Balaiada exibirá a videoperformance Eclipse, feita com Aline Belfort. Projetada em cinemascope, criará uma espécie de janela para imagens de ações experimentadas fora dali. O uso de filtros de cor nas imagens de certa forma evoca a luz violeta das primeiras ações, mas as razões de Tramatura e Eclipse são próprias daquilo que seus corpos experimentam desde então, quando tramam, atravessam, transformam e mudam de lugar.

Recorrente na obra de Lucia Koch, a idéia de “filtro” remete àquilo que opera para transformar a luz de um espaço dado. Em 2007 Lucia criou o drink-obra Filtro, para uma exposição no Centro Universitário Maria Antonia, explorando a indução de estados alterados através da mistura de substâncias, associada a instalação de filtros para cinema nas janelas do espaço vazio. Como teve seu uso limitado pela instituição naquela ocasião, Filtro será servido pela primeira vez ao público no dia da abertura.

Simultaneamente à inauguração da mostra na galeria, acontece o encerramento de Casa de Vento, instalação de Lucia Koch na Casa de Vidro de Lina Bo Bardi, obra emblemática e residência da arquiteta.