Mendes Wood DM São Paulo tem o prazer de apresentar a primeira exposição individual da artista Mimi Lauter no Brasil. A mostra reúne pinturas recentes em bastão de óleo sobre papel na Sala Norte da galeria. A pesquisa de Lauter extrai de diferentes mitologias, literaturas e acontecimentos históricos o caráter das relações entre imagem e existência. Para além de referenciar a história da pintura, principalmente o período entre 1886 e 1905, a artista provoca o fundamento estético para questões psicológicas.

Phlegethon é o nome dado a um dos rios de Hades. O rio também aparece na Divina Comédia de Dante no 7º Círculo do Inferno, onde as pessoas violentas se afogaram no rio de sangue fervente. Quanto mais grave o crime, maior a parte imersa. Como a função deste rio era torturar as almas, tinha que preservá-las, para que pudesse torturá-las por mais tempo. No entanto, para isso, o rio possuía águas curativas, tornando-se conhecido como Rio da Cura.

Essa dicotômica relação de vida e morte, ruina e origem, é o pretexto que se encontra no meio da abstração e figuração nos desenhos de Mimi Lauter, assim como a relação da reprodução da história ou da história da arte em si, evocando fortes referências aos pós-impressionistas. Os corpos viscerais que se desenham a partir do pastel oleoso sobre o papel em cores saturadas exercitam um processo de vitalidade e ao mesmo tempo ruptura da forma.

A exposição apresenta um mundo tomado por um dilúvio no que diz respeito a uma destruição liquida, uma destruição que se dá também por um elemento vital, a água, como se a nossa fonte de vida também fosse a nossa destruição. A musicalidade também se apresenta na mostra de uma maneira peculiar, através da narrativa mitológica de Orfeu e Euridice, em uma das versões do mito, é atravessando Flegetonte que Euridice tropeça e chama o nome de Orfeu, que ao olhar para trás quebra o tratado feito com Hades e assim perde o seu amor para sempre, compondo assim a canção mais triste já ouvida em todos os mundos possíveis.

A pintura de Lauter acontece na forma, mas se expande nos paradoxos, nas mitologias e principalmente na sensação de incerteza, ela questiona as possibilidades da imagem através da história por trás dela, ao mesmo tempo em que ela entrega uma visão, ela mesma a toma do expectador e decodifica-la é quase como pisar em um campo minado ou como provocar um dilúvio de ideias sobre o que é a imagem.

Mimi Lauter (1982, San Francisco) vive e trabalha em Los Angeles, USA. Suas exposições individuais incluem Sensus Oxynation, Blum & Poe, Los Angeles (2018); Miniatures, Shane Campbell Gallery, Chicago (2018); Devotional Flowers, Derek Eller Gallery, New York (2018); Interiors, Tif Sigfrids, Los Angeles (2017); A Carnival of Musical Echo, Shane Campbell Gallery, Chicago (2015).

Suas exposições coletivas incluem Selections from the Marciano Collection, Marciano Art Foundation, Los Angeles (2019); Art for Art’s Sake: Selections from the Frederick R. Weisman Art Foundation, Carnegie Art Museum, Oxnard (2016); Paper in Practice; Made in L.A. 2012, organized by the Hammer Museum in collaboration with LAXART, Los Angeles (2012).