Casa Triângulo tem o prazer de apresentar a sétima exposição individual de Alex Cerveny.

A mostra traz mais de uma centena de desenhos e pinturas sobre papel, linho, pergaminho e aramida (fibra sintética muito leve e resistente). Em contraste com a amplitude da galeria, a exposição reúne uma coleção de obras elencada pela qualidade do traço, e que portanto, devem ser vistas de perto.

A seleção de desenhos e pinturas inéditas registra o olhar sobre um extenso período na produção do artista, trazendo uma aquarela de 1999 em contraposição às duas pinturas mais recentes do artista que em que se lê “Tanto importa o não ser, como haver sido”, verso extraído da poesia Ao dia do juízo do baiano Gregório de Mattos (1639-1696). São escolhas reveladoras de sua habilidade em encontrar o equilíbrio entre coerência e diversidade ao longo do tempo.

Sobre o trabalho de Alex Cerveny, Renato Rezende observa: “Ancorado em uma técnica exímia e paciente, seu trabalho, compreendendo perfeitamente e comentando com astúcia e certa compaixão a complexidade e a ridícula sublimidade do mundo contemporâneo, é capaz, no entanto, de transubstanciá-lo em narrativas plenas de espiritualidade, sentido e humanidade”.

A obra-chave, eixo poético de toda exposição, apresenta-se em um alfabeto de capitulares criado para o livro Todos os lugares que o artista lança ainda este ano pela editora Circuito. Cada letra possui em seu desenho uma especulação sobre o corpo masculino em aquarelas de rara minúcia.

Outros destaques da mostra são a pintura inédita José interpretando os sonhos do faraó, e uma cena de caça na ancestral Jacarepaguá. Na primeira, o tema bíblico e a referência à psicanálise tornam-se secundários diante do transbordamento onírico que ela nos oferece. Alex levou sete anos trabalhando nessa tela que exibe uma “cápsula do tempo” honrando uma extensa lista de nomes de atores como Rainer Werner Fassbinder, Pier Paolo Pasolini junto a atores brasileiros, entre paisagens insinuadas. É uma obra que evidencia como poucos a pulsão narrativa do artista. Na segunda, um precioso altar de 30 cm, a escolha do suporte, painéis de aramida para confecção de colete à prova-de-bala, nos diz algo sobre a naturalização do estado de violência em que vivemos.

Além dos trabalhos originais de próprio cunho poético, Alex apresenta ilustrações para um livro de contos de Valter Hugo Mãe; para A Origem da Espécies, de Charles Darwin e para um romance de José Eduardo Agualusa, parcerias editoriais recentes.

Alex Cerveny nasceu em 1963, em São Paulo, onde vive e trabalha. Dentre suas exposições individuais nos últimos anos, destacam-se: Palimpsesto, uma retrospectiva de sua obra gráfica no Museu Lasar Segall, São Paulo, Brasil (2019); Glossário dos Nomes Próprios, Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil (2015); Casa Triângulo, São Paulo, Brasil (2015) e a III Mostra do Programa de Exposições, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, Brasil (2012). Dentre as exposições coletivas nos últimos anos, destacam-se: Nous Les Arbres na Fundação Cartier, Paris, França (2019); Da Tradição à Experimentação, Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, Brasil (2019); Queermuseu - cartografias da diferença na arte brasileira, Parque Lage, Rio de Janeiro, Brasil (2018); Homo Ludens, com curadoria de Ricardo Sardenberg, Galeria Luisa Strina, São Paulo, Brasil (2016); Os Muitos e o Um, curadoria de Robert Storr, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil (2016); Clube de Gravuras: 30 Anos, curadoria de Cauê Alves, Museu de Arte Moderna, São Paulo, Brasil (2016); En y entre geografias, Museo de Arte Moderno de Medellín, curadoria de Emiliano Valdes, Medellín, Colômbia (2015); Figura Humana, curadoria de Raphael Fonseca, Caixa Cultural, Rio de Janeiro, Brasil (2014); 30a Bienal de Artes Gráficas de Ljubljana, Liubliana, Eslovênia (2013); Trienal Poli/Gráfica de San Juan, San Juan, Porto Rico (2012).

Em 2012, recebeu o Prêmio Marcantonio Vilaça, da Fundação Nacional de Artes (Funarte) pelos 64 originais em cliché-verre do livro Pinóquio, a história de um boneco, lançado pela editora Cosac Naify no ano anterior. Em 2016, foi um dos vencedores do Prêmio ProAC Livro de Artista com o projeto O desenho visto do céu, um relato fotográfico e literário sobre as expedições às Linhas de Nazca de que participou entre 2005 e 2011 junto com a equipe da Associação Maria Reiche, da Universidade de Ciências Aplicadas (HTW) de Dresden, Alemanha.