A Galeria Millan tem o prazer de anunciar a exposição Apresentação : Ruku, individual do artista e curador indígena da etnia Makuxi Jaider Esbell. Com curadoria do próprio artista e assistência curatorial da antropóloga Paula Berbert, a mostra reúne cerca de 60 obras, incluindo pinturas, objetos e desenhos, que destacam a diversa produção do artista.

Partindo da noção de artivismo — neologismo conceitual que abrange tanto o campo da arte quanto das ciências sociais —, Esbell combina pintura, escrita, desenho, instalação e performance para entrelaçar discussões interseccionais entre cosmologias, narrativas míticas originárias, espiritualidade, críticas à cultura hegemônica e preocupações socioambientais.

Suas pesquisas mais recentes vem se aprofundando também no txaísmo – modo de tecer relações de afinidades afetivas nos circuitos interculturais das artes contemporâneas pautadas pelo protagonismo indígena.

Desde 2013, quando organizou o I Encontro de Todos os Povos, Esbell assumiu um papel central no movimento de consolidação da Arte Indígena Contemporânea no contexto brasileiro, atuando de forma múltipla e interdisciplinar e combinando o papel de artista, curador, escritor, educador, ativista, promotor e catalisador cultural.

Para a exposição no Anexo Millan, o artista exibe um conjunto, produzido entre 2019 e 2021, que se debruça sobre as visões do artista em torno da árvore-pajé, Jenipapo ou Ruku, um “fruto-tecnologia e uma de minhas avós” nas palavras de Esbell, do qual se produz a tinta natural aplicada por inúmeros povos indígenas em pinturas corporais e utilizada em cerimônias rituais.

Assim descreve o artista em uma passagem de seu texto curatorial para a mostra:

“Assino, como índio que sou, essa Apresentação. É que depois de tanto arrodeio estamos ainda, e finalmente, frente a frente e não há mais para onde ir. Eu sei que sou mesmo quem me apresento e dito me foi que desse o primeiro passo. Te convido para estar ao meu lado. Deixei as armadilhas em outra casa, agora me desnudo pleno. Acredite, te trago um raro presente, aquilo que nunca mente. Queres a tua alma de volta? Disso entendemos bem, pois coube de virmos primeiro e sinto que também já não sonhas.

Desde antes do tempo vir a ser tempo, as plantas partilham entre si a maestria da vida: são portas para portais de mais mistérios. Hoje em crise, humanos, que nos achamos, ainda temos, talvez, as últimas chances de nos conectarmos ao todo. Uma moita de mato, por menor que seja o ramo, contém ali todo o antídoto para o veneno que é a megalópole: o estouro da aldeia, a perdição dos sensos. Toma um chá e cessará a febre, toma um chá e curará a dor, toma um chá e falará com Divindades. Isso nem deveria ser segredo, embora ainda seja - segregação.”