Sua pintura parece retratar não apenas um lugar, mas o espírito do lugar. Uma arte de sensibilidade intensa, que, apesar de simples, faz as suas pinceladas impressionistas figurar entre as mais belas retratações da eterna cidade-luz.

“Nós sempre teremos Paris”. A memorável frase do clássico Casablanca (EUA, 1942) remete-me, além da película, também aos quadros de Édouard Léon Cortès. O que seria de Paris sem Cortès? O que seria de Cortès sem Paris? O que seria da arte sem Cortès e sem Paris? Dentre incontáveis nomes que sempre fizeram da cidade um reduto artístico de todas as vertentes, está o de Édouard Léon Cortès. Pós-impressionista, era chamado de “o poeta parisiense da pintura” ‒ tamanha sua destreza em aludir a paisagens urbanas de Paris.

A paixão de Cortès pela cidade era excepcional, levando seu talento ao encontro não somente dos monumentos, movimentos e pessoas, mas também da própria alma de Paris. As pinturas de Édouard estão entre as mais famosas e expressivas referências da capital francesa de todos os tempos.

O pintor nasceu nos subúrbios de Paris em abril de 1882. Ainda jovem, aprendeu a pintar com seu pai, que também era pintor. Foi para Paris estudar e já com 16 anos exibiu sua primeira tela, na Sociedade dos Artistas Franceses, intitulada Le Labour que foi muito bem recebida pela crítica e pelo público. Isso o destacou como uma das principais promessas artísticas da época. O pintor destacou-se, de fato, e com o passar do tempo expôs diversos trabalhos em grandes eventos culturais e mostras da cidade. Recebeu vários prêmios e foi reconhecido pelo seu extraordinário talento com os pincéis.

Ele, entretanto, não se focou em expressões ou na boémia, como fez Toulouse-Lautrec, da mesma escola artística. A arte de Édouard era mais serena, ainda que violentamente significativa. Para ele, importava capturar as ruas, as cores, o espírito parisiense. Era a Paris de todos os dias, de seus olhos.

Usava infinitas variações para identificar os tons e cores das mudanças de estação e do clima. Seu trabalho nunca teve um estilo sofisticado. Sua técnica era simples, mas inconfundível. Sua pincelada parece vir ao acaso, com despreocupado acerto. Gosto de Édouard porque sinto que fez sua arte de maneira tão espontânea quanto um violinista que fecha os olhos e toca os acordes que vêm à sua mente e coração.

Os quadros de Édouard são capazes de deixar-nos em estado de suspensão. Transportam-nos à própria Paris por meio de suas cores inquietas, como se dançassem para nós. Observar seus quadros é observar alguma cena através de uma janela com gotas de chuva a escorrer por ela. Sua obra parece estar viva diante dos olhos.

Édouard acabou por regressar a Lagny, comunidade em que nasceu, e lá viveu o resto de sua vida. Porém, jamais deixou de ir a Paris para inspirar-se sempre que podia. Morreu em 1969. Cortès deu-nos a sua Paris, viva e poética, em uma paleta colorida e apaixonada. Se um dia eu puder dizer “para sempre Paris”, será por causa de Édouard Léon Cortès.