“Toda a vez que pinto um retrato perco um amigo”, disse o pintor John Singer certa vez. Sargent nasceu na bela Florença, Itália, no dia 12 de janeiro de 1856. Seus pais eram americanos mas ele estudou arte em Paris antes de se mudar para Londres. Sua mãe era uma artista plástica amadora e seu pai era ilustrador.

Vendo nele uma criança interessada em atividades ao ar livre e muito observadora da natureza, seu pai decidiu dar-lhe cadernos de desenho. Sua mãe dizia que, se pudesse dar-lhe condições melhores de estudo da arte, se tornaria um artista em pouco tempo, pois esboçava muito bem, com traços rápidos e corretos.

Sargent começou seus estudos de arte aos 13 anos de idade. Com o pintor alemão Heinrich Carl Welsch aprendeu aquarelas e foi discípulo de Charles Auguste Émile Durand, conhecido como Carolus-Duran, com quem aprendeu as técnicas arrojadas e métodos modernos da arte de pintar retratos.

Pintar retratos era a melhor maneira de promover a carreira artística na época. As obras eram apreciadas em salões e o artista ganhava comissões por isso. E como já havia demonstrado capacidades como retratista, não demoraria muito tempo para que suas pinturas fossem expostas.

Em 1877 Sargent pinta o retrato de sua amiga Fanny Watts, obra que lhe garantiu a admissão na École des Beaux-Arts. No ano seguinte cria Oyster Gatherers of Cancale, uma pintura impressionista. Com toda essa exposição Sargent se tornou amigo de pessoas influentes e de grandes personalidades do mundo da arte como Degas, Rodin, Monet e Whistler. O sucesso veio a partir de 1880: eram retratos de mulheres como Madame Edouard Pailleron (1880) e Madame Ramón Subercaseaux (1881), que receberam críticas positivas.

Em 1882 pintou The Daughters of Edward Darley Boit. No retrato estão Mary Louisa, Florence, Jane e Julia, membros da família milionária dos Darley Boit, que faziam parte da comunidade norte-americana na Europa. Sargent dizia que seu quadro tinha como modelo Las Meninas, porém num tom mais sombrio e pouco acolhedor, ao contrário da obra de Velázquez, em que as meninas aparecem em um ambiente mais descontraído. No mesmo ano pinta uma de suas obras mais amplamente exposta e mais amada, Lady with the Rose, um retrato de Charlotte Burckhardt, amiga próxima e seu possível par romântico.

Sargent, que gostava do reconhecimento internacional, acreditava que sua consolidação como pintor de retratos viria com a apresentação do Portrait of Madame X (1884), no Salão de Paris. Mas, ao contrário do que esperava, o resultado foi um escândalo. Além de ter sido caracterizada como uma obra superficial, pela sutileza de técnicas, capacidade que inspirou admiração anos mais tarde, o quadro representa a figura em corpo inteiro de Virginie Amélie Avegno Gautreau, frequentadora da alta sociedade francesa, famosa por sua beleza e rumorosas infidelidades. Na primeira versão do quadro, Virginie aparece com uma das alças do vestido caída sobre o braço. Um ato muito audacioso e sensual para a época. Diante da situação escandalosa Sargent recolocou a alça do vestido na posição normal, mas era tarde demais. A reação provocada pelo retrato se tornara irreversível. O artista foi alvo de comentários negativos e declarou que não pintaria mais.

Devido às críticas negativas, decidiu sair da França para morar em Londres, onde retomou sua carreira de retratista. Manteve o quadro de Virginie consigo por muitos anos e, após o falecimento dela, Sargent o vendeu para o Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque, onde se encontra até hoje. Era seu quadro favorito, e o pintor afirmou em 1915: “Eu acho que é a melhor coisa que eu fiz”.

O artista, sempre que possível, visitava as residências de seus clientes para observar seus guarda-roupas e escolher a vestimenta apropriada para retratá-los. Alguns retratos eram feitos nas casas dos clientes, outros em seu estúdio. Podemos observar isso em obras como Nonchaloir (Repose) (1911), Robert Louis Stevenson and His Wife (1885) e, principalmente, em Dr. Pozzi (1881). Suas obras levavam cerca de oito a dez sessões para ficarem prontas. Às vezes parava de pintar por alguns minutos para tocar piano e conversar com seus modelos. Seus retratos custavam em torno de US $ 5.000, um valor considerável para a época. Mas Sargent recebia valores altíssimos por alguns, como o de Almina Wertheimer (1908). A judia milionária gostou tanto de seu retrato que Sargent acabou pintando todos os familiares da moça logo em seguida. Ele recebeu sua maior comissão vinda de um único cliente.

Depois passou a dedicar-se às paisagens. Algumas delas, como Santa Maria della Salute (1904), eram pintadas através da perspectiva das gôndolas de Veneza. Nos últimos anos de vida produziu aquarelas sobre a fauna, a flora e os povos nativos de algumas regiões que visitou.

Durante toda a sua carreira, Sargent, que em 1906 pintou o seu auto-retrato, criou cerca de 900 pinturas a óleo e mais de 2000 aquarelas e também pintou murais. Os mais importantes, que ilustram a história da religião e os deuses do politeísmo, podem ser vistos na Biblioteca de Boston.

Em 14 de abril 1925 Sargent morreu, enquanto dormia, de um ataque cardíaco. Está sepultado no Cemitério de Brookwood, em Inglaterra. Sua última obra foi o retrato a óleo de Graça Curzon, Portrait of Grace Elvina, Marchioness Curzon of Kedleston (1925), hoje na Currier Gallery of Art de Manchester. Algumas de suas obras pertencem a colecionadores enquanto muitas outras se encontram em diversos museus e galerias.