Quando o ambiente à nossa volta se torna por demais inóspito, para não se deixar solapar pela corrente impetuosa das adversidades da vida, é necessário recorrer a um quinhão de forças que reside no mais profundo de nossas almas e utilizar-se de uma reserva de energia desconhecida até de nós mesmos para buscar alternativas de superação para o problema.

Resiliência é uma palavra que tem sido cada vez mais usada atualmente para descrever a capacidade de resistência e superação do ser humano frente às adversidades da vida. Talvez o autor que melhor tenha abordado a questão seja Victor Frankel, que relatou corajosamente sua própria experiência em campos de concentração nazistas.

Em nosso dia a dia temos sido constantemente testados e desafiados neste quesito. Embora já tenhamos nos adentrado na Era de Aquários e nossa caminhada siga a passos largos sob vários aspectos - em especial na área tecnológica e nos avanços da ciência - quando se trata de comportamento e atitudes, uma boa parcela da humanidade parece que faz questão de se agarrar ao que temos de mais arcaico do homem de Neanderthal, se deixando guiar senão pelo instinto, pelo “faro” e pelas demandas de seu próprio ego. Quando fatalmente nos deparamos e somos atingidos por essa ordem grotesca e primitiva de ser e funcionar, não é possível deixar de sofrer um impacto, pois são níveis muito diferentes de densidade da alma que se entrechocam, os quais refletem formas muito diferentes de ser e de viver.

Mas do que se constitui ou como pode ser desenvolvida nossa resiliência? Onde a alma vai buscar sua reserva extra de energia para não capitular, para não se entregar, enfim... para resistir bravamente? Talvez o elemento disparador possa ser a altivez do espírito e uma certa tenacidade que se manifesta na determinante recusa em aceitar que ao fim e ao cabo, tudo se resuma em um amontoado de entulho, poeira e lixo.

Não! “Hei de fazer nascer uma flor....”

Esta é uma escolha consciente que está acessível a quem quer que não se conforme com uma ordem distorcida e corrompida de coisas. A opção de dar um novo final para a história posta não se trata tampouco de viver num mundo à parte ou fantasioso, mas de dar a sua contribuição no mundo real para a construção de um lugar para se viver onde a beleza, a leveza e o perfume possam coexistir ao lado da lógica racional, da perfeita simetria e da linearidade de pensamento. E que a humanidade possa se orgulhar de seu próprio legado!

Sobretudo é necessário disposição para arregaçar as mangas e trabalhar. Afastar o lixo e o entulho e enfim, preparar o solo para a semeadura.

Mas como desenvolver a resiliência em si? Entendo que a garantia da chamada “zona de conforto” vem na contramão da construção da mesma, pois o ser humano funciona de acordo com a lei do menor esforço (ou a lei da inércia) e consegue se adaptar às situações mais degradantes para não ter que fazer suar a camisa.

Também é necessário ter coragem. Se o mundo que aí está não tem a “cara” de nossa casa e não se apresenta a nós como um bom lugar para se viver, é preciso começar fazendo a faxina interna. Eliminar adiposidades desnecessárias, fazer o luto de perdas antigas, aceitar a grande lei natural que nada dura para sempre e que tudo é um constante devir. Os ciclos se fecham para que outros novos possam se abrir. É sempre bom repetir que é sábio viver de acordo com as leis da natureza. Realizar a leitura sobre o mais simples que aí está cotidianamente escancarado aos nossos olhos costuma ser dos mais dolorosos e difíceis aprendizados.

Sem dúvida, o planeta Terra tal como o conhecemos, é um bom lugar para se desenvolver aspectos deficitários de nossa personalidade. E a tenacidade, um atributo que falta a muitos, talvez seja um desses elementos. Tenacidade para, apesar da dor e em meio à dor, fazer ressurgir as belezas da alma e acreditar que viver nesse mundo ainda vale a pena e que deixaremos o planeta diferente com nossa passagem.

Sempre é tempo de fazer nascer uma flor...