Todos sabemos no nosso íntimo que as adversidades nos tornam mais fortes, porém, quando temos de as enfrentar, nem sempre nos lembramos que há uma saída mais à frente. Há uma luz ao fundo do túnel.

Exemplo vivo disso é Viola Davis, vencedora do Óscar para Melhor Atriz Secundária, em 2017. Apenas me apercebi da existência da atriz em Como Defender um Assassino e fiquei deveras impressionada com o seu talento, com a sua coragem para mostrar um lado tão destroçado e vulnerável, no seu papel de Annalise Keating. Achava incomum a sua capacidade para alternar entre uma personalidade tão forte e segura de si e simultaneamente tão deturpada, frágil e atroz, devido aos traumas do passado. Mal sabia eu que Viola tinha vivido uma infância e juventude ainda mais difíceis que as da sua própria personagem.

Cresceu numa família extremamente pobre, vivendo em barracas ou casas em ruínas. À noite, tinha de amarrar panos ao pescoço para evitar ser mordida pelos ratos. O seu pai era alcoólico e muito duro com os filhos, batendo inclusivamente na mãe. Muitas vezes, era na escola que tinha a sua única refeição do dia, vendo-se obrigada a vasculhar contentores do lixo e a roubar para comer mais alguma coisa. O seu percurso escolar foi marcado pelos seus desacatos e mau comportamento e pelo abuso que sofria por parte dos colegas. Quando conseguiu uma bolsa para estudar Inglês na faculdade, não se conseguiu enquadrar e acabou por desistir, entrando numa depressão profunda.

Viola afirmou que, quando se é pobre, não se tem escolha: “Temos de sonhar em grande ou então não sonhar sequer” e que tinha de representar para se sentir feliz. Acabou por se formar em representação e ser aceite na conceituada Juilliard, em Nova Iorque. Todavia, nem isso a tornou mais confiante, acreditando que nunca conseguiria sequer um papel secundário, por não ser bonita o suficiente.

Apesar de tudo isto, Viola tinha em si uma força vital que nunca a deixou desistir. Ia conseguindo papéis no teatro, mas nunca em televisão ou cinema, apesar de todas as audições que fazia. A fama chegou tardia, aos 45 anos e foi-se solidificando nos últimos anos.

Hoje, Viola Davis é uma mulher de sucesso, premiada pelo seu trabalho, com uma família feliz. É uma mulher extremamente forte e corajosa por partilhar o seu passado difícil com o mundo. Provavelmente porque sabe que, sem ele, não estaria onde está hoje. Sem as adversidades que a vida lhe colocou à frente, não conseguiria transmitir o mesmo sentimento, a mesma força, a mesma vulnerabilidade no ecrã.

Não escolhemos o que a vida nos coloca no caminho, mas escolhemos a forma como reagimos ao que aparece. Escolhemos sonhar em grande ou não sonhar. Tentar todas as vezes até conseguirmos, ou desistir. Lutar ou reclamar. E fazemos essa escolha não uma vez, mas todos os dias, porque cada dia conta. O que vai escolher hoje?