A tristeza sempre decorre de interrupções: perdas, mortes, mudanças não desejadas, ou ainda, é o esclarecimento de processos que se delineavam, gerando saudade e frustrações. Ficar triste é a grande dor diante do abrupto, ainda que pressentido e esperado. A unificação desses opostos - abrupto e esperado - é costurada pela tristeza, linha que acende e apaga vivências, encontros e referenciais, criando seus desdobramentos de saudade, de nostalgia.

A morte de um filho, de um ente querido, de animal estimado, provoca tristeza. É o desaparecimento dos sinais, da presença, das vivências. Tudo fica branco e sem marcas: o que agora são sinais é a lembrança de antes. O presente é engolido, só a lembrança, a memória impera, realizando a magia de trazer de volta, de fazer ouvir e ver tudo como era antes. Nesses momentos, tristeza é um abismo, a quebra que impede continuidade, satisfação e tranquilidade. A persistência desse processo transforma o presente em receptáculo de lembranças, instala a nostalgia, a saudade. Esse olhar para trás e lá se deter, quando muito prolongado transforma-se em um poço onde tudo é tragado, guardado e assim surgem revelações, a tristeza foi o sinal, a senha para atualização dos processos de não aceitação de si mesmo, da realidade, do limite.

Ficar triste, ser tomado pela tristeza é um encontro frequente quando se vivencia afetos, quando esses são transformados, quando são perdidos - separações, mortes, acidentes - e desaparecem. O desaparecimento, a ausência do que detinha e significava, causa tristeza. É o escuro que tudo apaga, obscurece e nada permite enxergar, salvo aos tropeços. Tristeza é a queda no vazio da realidade quando a mesma é transformada, quando é um marcador apenas de temporalidade: Antes e Depois. Esta tensa transição é a passagem que estreita, angustia e faz chorar. Conviver com essa tristeza passa a ser uma marca, um pano de fundo, uma referência, um contexto que permite transformação e novas vivências ou gera persistência, posicionamentos destruidores da dinâmica do estar-no-mundo.

Tristeza é uma ocorrência, é processo de vida, é a passagem, o desaparecimento do que nos detinha, do que significava. Transformá-la em ponto de apoio, em referencial a partir do qual tudo é percebido, transforma esse aspecto do encontro, das vivências, em um poço sem fundo para justificar a não aceitação de limites, de perdas, separações e mudanças.