Sendo um ser humano as chances de que você seja viciado são bem grandes. E se tudo que nós sabemos sobre vício estiver errado?

O que você acha que aconteceria se você usasse cocaína 3 vezes ao dia durante 3 dias seguidos? Você ficaria viciado. Pelos menos essa é a estória que a gente conhece. Existem substâncias químicas que causam dependência. Logo o seu corpo se torna dependente destas substâncias. E você não consegue mais largar. Mas vejamos por uma outra perspectiva. Digamos que depois de ler este texto você saiu na rua, foi atropelado e quebrou a bacia. Você seria levado para o hospital onde seriam injetados altas doses de diamorfina durante semanas ou dependendo do caso até meses. Diamorfina é heroína, uma droga bem mais viciante que cocaína. Inclusive a diamorfina é bem mais potente que a própria heroína que as pessoas encontram para vender na rua. Então pela logica depois do tratamento você deveria estar completamente viciado, certo? Mas não é isso que acontece.

A teoria que temos de como se estabelece uma dependência química vem de uma serie de experimentos bem simples que foram feitos no começo do século XX. No qual os pesquisadores botavam um rato na gaiola com duas garrafas. Uma delas com água pura e uma com água misturada com cocaína ou heroína. Os ratos quase sempre escolhiam a água com droga e acabavam viciados e morrendo de overdose bem rápido. Logo a conclusão: droga causa vício, que causa morte.

Mas no final dos anos 70 um professor de psicologia chamado Bruce Alexander notou um detalhe muito interessante: o rato tinha uma vida horrível. Ele ficava o dia inteiro na gaiola sem nada pra fazer além de usar as drogas. Então ele resolveu criar a Ratolândia, um verdadeiro paraíso para ratos.

Dessa vez a gaiola tinha um monte de túneis, bolas coloridas, rodinhas para correr e principalmente outros ratos para brincar e fazer sexo a vontade. E as duas mesmas garrafas. Uma com água pura e uma misturada com cocaína ou heroína. Resultado? Os ratos quase nunca escolhiam a água com droga, e nenhum deles ficou viciado e nenhum deles morreu de overdose.

Ou seja, partimos de uma taxa de mortalidade de 100% nos primeiros estudos para 0% nos segundos estudos. O que demonstra que se seguirmos o padrão e acreditarmos nas teorias antigas sobre dependência estaremos também indo na direção contrária a cura ou solução.

E se a dependência química for simplesmente uma adaptação a sua gaiola? Ou em termos humanos, uma adaptação ao meio em que você vive. Talvez nem devêssemos chamar de dependência ou vício, mas sim de conexão. Quando estamos felizes, completos e saudáveis nos conectamos com a família, com os amigos e com outras pessoas. Mas quando estamos com raiva, dor ou depressão nos conectamos com qualquer coisa que vá nos provocar alguma sensação de alívio.

Essa conexão pode ser com cigarro, álcool, redes sociais, comida, videogame, filmes pornôs ou cocaína. O vício nada mais é do que o sintoma da desconexão social que cresce cada vez mais com o passar dos anos. Quando solitarios recorremos a meio degradantes para aliviar nossos problemas. E as coisas ainda pioram com a maneira como a sociedade trata os dependentes químicos. Ao invés de conexão social, suporte emocional e apoio psicológico, isolamos, prendemos e condenamos. A maior falha na suposta guerra contra as drogas.

E foi-se o tempo que as drogas eram nosso maior problema. O vício em redes sociais, videogames e pornô tem se tornado uma epidemia nos tempos modernos.

Como indivíduo temos que viver em meios saudáveis e criar conexões com pessoas que nos façam bem. Como sociedade temos que solucionar este problema unidos e com empatia. Temos que viver em uma espécie de Ratolândia ao invés de vivermos em nossa própria gaiola, que é a atual tendência mundial.

O oposto de dependência não é sobriedade. O oposto de dependência é conexão.