O pássaro ao voar precisa se desgarrar do chão...
Não existe voo sem que você se afaste do chão.

“Estando lá em cima, vou me apoiar em quê?
Quais serão meus pontos de apoio?”

Não há nada sólido lá em cima...

Lugares altos causam vertigens...

Quem de nós já não sentiu o chão ruir sob seus pés e buscou um ponto de apoio que fosse, não o tendo encontrado?

Quem de nós já não ficou “de molho” da noite para o dia em uma situação de doença e/ou impossibilidade física, tendo sido obrigado a se “debruçar” assim sobre os mistérios das finitude e fragilidade humanas?

Quem de nós não viu as coisas girarem ao seu redor, perdendo momentaneamente sua âncora e seu contato com a realidade?

Momentos de mudança e transição, pela sensação de instabilidade e insegurança que provocam, podem nos causar vertigens (literalmente) e nos fazem buscar desesperadamente uma coluna que ainda esteja de pé para nos apoiarmos. Nesta condição são muitas as perguntas e também muitas as hipóteses prováveis.

Certezas, nenhuma.

Mesmo assim, continuamos tentando lapidar nosso espírito na tentativa de descobrir onde foi que erramos. Será que não cuidamos devidamente de nossa saúde, sobrecarregamos nosso corpo físico? Fomos grosseiros ou estúpidos com pessoas de nossas relações ou estamos simplesmente fazendo o resgate de dívidas cármicas?

De qualquer forma, a situação exige que seja feita uma adaptação e que se use de versatilidade, visto que as coisas podem sair de seus lugares de repente. Não se desprender de valores-base para superar desafios pode auxiliar muito no exercício da tarefa.

Sobretudo, buscar em si sua própria fonte de inspiração. Há uma tríade muito valiosa à qual podemos recorrer sempre: nosso bom senso, nossa sensibilidade, nossa intuição.

O bom senso nos ajuda a discernir das alternativas possíveis qual a resposta supostamente mais adequada. O refinamento da sensibilidade nos possibilita discernir o denso do leve, nos auxilia a enxergar a beleza embotada na superfície mais rugosa, a divisar um facho de luz na escuridão. A intuição antecipa e maximiza o rumor dos acontecimentos e nos fornece preciosas pistas sobre as ferramentas que devemos usar e como nos prepararmos para os fatos.

Ocorre que, em algumas situações, debalde nossos esforços, somos pegos realmente de surpresa no momento em que o nosso estômago se contorce em ânsias para expelir a bile esverdeada e tudo parece “despencar”... Neste caso, faz-se então necessário manter a calma e saber esperar. Assistir a passagem das horas e, sobretudo, ater-se à nossa respiração.

Em altos brados recebemos um “- Alto lá!”, um STOP em letras garrafais que diz: - “Pára tudo que você está fazendo lá fora e olhe para dentro de si.”

Ter o controle da ansiedade em um momento de crise física ou psicológica é, de fato, uma das lições mais difíceis para o ser humano. Saber que de uma forma ou de outra, aquele mal-estar terá fim e que é necessário que se aprenda ali uma lição. No mundo em que vivemos fomos todos “formatados” para o sucesso e a exibição do mesmo aos outros. Não conseguimos, pois, avaliar que são estes os nossos maiores momentos de superação.

Os momentos de agonia vividos entre quatros paredes, que não são propícios para nenhuma selfie e que tampouco temos a coragem de publicá-los no Facebook, são os que fortalecem nossas almas e não servem para o apanágio de nossos egos. Eles dizem muito de quem somos e do que somos capazes...

Em nossa onipotência, precisamos todos os dias recapitular que na vida nada é perene e que desta vida nada levamos. Portanto, estar sempre ciente de nossa própria relatividade e de tudo que temos como sólido e estável, é algo muito importante.

Supostamente, é quando nos avizinhamos da morte e passamos por ela de alguma maneira, que estamos prontos para o renascimento.

Lembrando que o processo da transmutação se dá quando velhos esquemas sobre os quais nos apoiávamos são destruídos para que algo novo e resplandecente possa ressurgir em seu lugar. O fogo da chama violeta está aí para destruir todo um passado de imperfeições e limpar o nosso caminho para que uma experiência inteiramente nova possa florescer. Nesse momento de transição, entretanto, sem o conhecimento dos planos do Criador, tudo que os nossos sentidos nos dizem é que a nossa cabeça precisa ser apoiada e recolocada em seu lugar...

Manter-se sereno na tormenta: a lição a ser aprendida.

Um teste de força interior para que a alquimia da transmutação enfim se complete e se realize por inteiro. Boas-vindas à nova ordem que se anuncia!!!!