Ninguém morre no país da Saudade. Como nos sonhos...

(Eduardo Lourenço)

Falemos, então, de eternidade!

Encaremos os jogos de espelhos pessoano, que Eduardo Lourenço tanto admirava...Fitemos a ausência como a sombra presente que precisamos de iluminar...joguemos às escondidas com os nossos próprios heterónimos que teimam em assombrar o nosso corpo com vozes de além...

Deixemos os biombos fazerem parte das nossas biografias e que o enigma, o mistério do Ser Português, se revele no desfazer da tabuada do Tempo e a eternidade subir ao trono!

Constatamos que existe um Passado e um Futuro na Monarquia Lusitana que se espelha em Alcobaça; nesse Mosteiro onde surgem os túmulos “ dos dois amantes de Absoluto, D. Pedro e D. Inês, aqueles que foram cantados pelo cronista Fernão Lopes …”. Dalila Pereira da Costa sublinha o seguinte: “ A eleição deste mosteiro, no centro do reino, para ser custódia de tal louvor de amor, poderá dizer-nos que o amor é a chave e raíz de todo o segredo e força deste reino. O Amor indo até ao fim do mundo, assim, unidamente se fechará o anel do tempo, no mundo, desde a sua criação até à sua consumação”.

Antes de Inês e sua coroação como rainha e Deusa do Amor, existe todo um corpo feminino na Pátria Portuguesa que se ergue no culto votado à Lua e testemunhado em ídolos cónicos, santuários, espirais, epifanias de figuras marinhas, como sereias e mulheres marinhas; toda uma Ode Marítima Pessoana que nasce do complexo mítico da Terra- Mãe. Uma realidade cósmica que possui a água como símbolo “ e o Mar é o seio da Grande Deusa”.

Ele, água, muito muito Azul, marcará a identidade do nosso Povo peninsular como possibilidade de salvação ou perdição.

As tais divinas trevas de que Portugal será filho?

Somos uma civilização que circunda em espiral.

Os Descobrimentos levaram a nossa civilização circularmente por esse Mundo Fora e com eles levaram o corpo Feminino da Saudade; da Grande Deusa. Uma Deusa que dá Esperança, a Esperança do Amor e Regresso à Terra-Mãe. E assim o Mar torna-se Stella Maris.

Da ligação fundamental entre este mundo e o Outro, vamos apontar um reinado de Luz Maior. O reinado de D. Dinis e D. Isabel. O poder criador desse estará dito na complementaridade da terra e céu, dos nomes históricos do par soberano : o Rei Lavrador e a Rainha Santa.

Em termos de Arcanologia, estamos perante o Arcano XXI; O Mundo. Este Arcano é um ovo que insinua ser a semente de uma Nova Jornada. Dessa forma, sempre que tivermos um sentimento de “ Chegada” e houver um momento de realização e de cura, um novo desafio surge, uma nova descoberta da velha jornada espiralada. Trata-se da sabedoria acumulada ao longo do percurso e que pode ser partilhada em doação plena, de coração aberto à incondicionalidade do Amor.

O mundo é a Anima Mundi,a Alma do universo que está integrada em cada sujeito, a culminação da Grande Obra dos Alquimistas. É o “ eu” verdadeiro e último, no qual o espiritual governa o material.

Deste modo, foram os Descobrimentos governados e nascidos: pela Saudade. D. Dinis é o primeiro Rei Português da Saudade, porque foi o primeiro Rei português do Amor. Encontramos aqui o arquétipo do Homem Português: como navegante, trovador e lavrador, poeta, que reencontra na Distância o re-conhecimento do amor.

Em termos hermenêuticos e como afirma Ricoeur o mundo é um texto para ser decifrado e nós sujeitos, apropriamo-nos dele para depois nos distanciarmos e conseguirmos a nossa auto-compreensão, auto-conhecimento e evolução da consciência.

No Ser- e -Estar no- Mundo Português a geografia da Saudade e o Sonho incubam-se na eternidade alquimíca que fazem de nós Heróis do Mar. Mar de chegada e partida, de uma e outra onda, nunca a mesma, de marés e marinheiros, de emoções , enlaces , onde “para além de nós, estamos nós ainda”, como afirmou Virgílio Ferreira.

Naveguemos.