Entender os mecanismos e a estrutura do poder como sinônimo de apoio faz perceber a força dinamizadora do comportamento humano e consequentemente seu paradoxal estabelecimento posicionado. Somos seres em movimento. Estamos em um mundo - sociedade - onde tudo se relaciona. Relacional é todo o sistema, a dinâmica geral que nos configura e define. Este caminhar e deslizar exige sempre base, espaço. Quando o espaço, ou seja, quando nossas bases são transformadas em apoio, estacionamos e acumulamos outros referenciais. Esses referenciais são sistemas que atritam a dinâmica ao estabelecer pontos, bases de apoio que sustentam, oprimem e esmagam.

O que apoia, oprime. E quando as relações entre apoio e opressão são rompidas surgem pontos polarizadores que transformam essas relações criando outras. Não é mais a mesma vivência dialética que ocorre na contradição o que apoia, oprime, surge uma nova configuração: o poder do opressor - o agressor - e o poder do oprimido - a vítima. A figura do opressor e a figura do oprimido estabelecem pontualizações ao quebrarem a dinâmica relacional do que apoia, oprime, criando outra dinâmica na configuração do poder.

Poder é a força que apoia e que estrutura posicionamentos como: o poderoso e o oprimido. É paradoxal, mas embora antiteticamente diferentes são iguais, pois são estruturados pela mesma força diversificada: o apoio. O apoio que esmaga e o apoio que sustenta. Tudo é definido pelas convergências e divergências, pela questão do direcionamento, de para onde se olha, de para onde as situações confluem. Apoio é o poder, é o que dá força e segurança tanto quanto é o que quebra dinâmica, pontualiza pela polarização de referenciais e objetivos. Estar apoiado no que se amealhou cria os poderosos donos da riqueza, tanto quanto os baluartes da fé, do saber, da caridade, da boa vontade e justiça. O poder dá segurança e permite tranquilidade. O poder também cria precariedade, insegurança e permite intranquilidade e dúvidas. Como entender esse paradoxo? Basta considerar que tudo que apoia, por definição se constitui em outros processos que atravessam, que são interseções, que cortam dinâmicas, mudam direções e caminhos além de criar fulcros: os próprios apoios.

Apoios são sempre aderências. Segurar-se na aderência enfraquece, desumaniza. É o processo coisificador no qual tudo passa a significar pelos indicativos: o dinheiro, o sucesso, a sapiência, a inteligência, a proteção recebida, a ajuda na pobreza, na doença, a vitimização. Essa transformação da parte em todo, desvitaliza. As modificações das totalidades - ou seja a individualidade - em parcializações, por exemplo em sociedade, família, capacidade e incapacidade, fragmentam e estigmatizam. É exatamente nessa fragmentação que surgem estigmas poderosos como o amor que tudo redime, a boa vontade que tudo explica, o dinheiro que tudo resolve. A desvitalização do humano, sua desumanização começa quando ele se apoia - é a quebra da trajetória - criando ilhas de apoio, de poder. Transformar as possibilidades em necessidades satisfeitas e aplacadas estrutura vazio, medo e exila o indivíduo das dinâmicas relacionais ao mantê-lo fixado na preservação do que lhe aplaca e satisfaz. Essa necessidade de cuidado é restritiva, demanda penhoras, concessões e acertos. Podemos dizer que quanto mais apoiado e mais seguro, mais imobilizado o indivíduo se encontra. O poder da certeza do sucesso sempre é conseguido pelo acúmulo seja de dinheiro, de benfeitores, de proteções, seja da impunidade e até mesmo de direitos. E quanto mais poderoso, mais apoio, consequentemente mais inércia, mais manutenção do adquirido, submetido e conquistado.

Quando se busca o poder geralmente não se percebe a quantidade de estagnação, de apoio, de carência e medo que isso implica. O desenrolar do processo deixa claro o comprometimento alienado para que se consiga realizar os propósitos de segurança, destaque e vitórias. Sempre partindo de uma insuficiência que se quer sanar - não aceitação de si, do outro, do mundo - se busca poder para assim ter como transitar sem cair, sem ser esmagado. É o medo e a insegurança que sempre funcionam como diretores de roteiros, de mapas para orientação nessa busca (formação de grupos, clubes etc.). O poderoso é sempre fraco pois é apoiado, camuflado por aderências. Também os movimentos sociais estruturados na busca do poder revelam bem esses aspectos, sua brevidade e contingência, como por exemplo colocar uma meta, buscar adeptos ou seguidores, estabelecer um sistema, enfim, regras que nada têm a ver com seus constituintes, e assim, ditadores e poderosos tudo destroem e negam, pois isso é necessário para manter o apoio: manter os oprimidos enquanto submissos às crenças, ao apoio buscado e desejado, mantendo, desse modo, todo o processo de alienação e poder.