Um dos aspectos mais temidos pelos governantes são os movimentos descontrolados em massa, pois isso pode gerar caos e colocar em risco a própria sobrevivência da sociedade.

Embora o movimento de massas seja um aspecto de estudo e análise da sociologia, há um componente psicológico fundamental: as emoções. Elas fazem parte de nossa vida, estejamos ou não conscientes disso, e estão presentes em cada uma das ações e decisões que tomamos, daí a importância de seu estudo.

Entre os teóricos das emoções, há duas correntes principais: aquelas que consideram as emoções como um conceito unívoco e inseparável, que se estende dos afetos positivos aos negativos, em um continuum; e aquelas que as consideram um conceito multidimensional, composto por elementos cognitivos, comportamentais e fisiológicos.

A emoção pode ser considerada como um “estado” particular do sujeito, permitindo que ele perceba e responda ao ambiente (em modo de excitação). Simplificando, podemos considerar três estados possíveis, o positivo (alegria ou felicidade), o neutro (indiferença) e o negativo (tristeza, descontentamento ou infelicidade).

Seria, portanto, uma maneira de perceber e responder ao meio ambiente. Mas, quando esse estado se torna crônico, passa a ser considerado uma “característica” da personalidade, ou seja, o indivíduo o transforma em seu modo habitual de responder a uma estimulação interna ou externa.

Quando estados emocionais crônicos estão “desajustados”, desvios anormais do processamento emocional aparecem, variando da acentuação de traços ansiosos ou fóbicos a patologias, como Transtorno de Ansiedade Generalizada ou Transtorno Depressivo Maior. Além disso, deve-se ter em mente que o ambiente pode impactar na emoção de alguém, em como percebemos e sentimos; portanto, quanto mais “sério” esse ambiente é, por exemplo, pondo em risco nossas vidas ou a de nossos entes queridos, maior a probabilidade de que o referido evento “marque” emocionalmente a pessoa. Circunstância que faz com que, diante de uma crise de saúde como a vivida atualmente, deva-se tomar cuidado especial com aspectos emocionais, para evitar que pessoas confinadas sofram algum tipo de disfunção em nível emocional exatamente pelas circunstâncias em que vivem, razão pela qual alguns governos fazem recomendações a esse respeito.

As emoções são talvez um dos elementos mais estudados nas neurociências, uma vez que é uma característica diferenciadora entre seres humanos e animais, que são dominados por seus instintos, incapazes de controlar ou “cultivar” suas emoções.

Apesar de, nos primeiros anos de vida, o desenvolvimento “instintivo” humano ser equiparado ao de qualquer outro animal, ele se separa gradualmente à medida que a linguagem surge e, acima de tudo, o controle das emoções.

Hoje em dia, a neurociência entende que a maioria das decisões tomadas é de natureza emocional e que é pelas emoções que “o mundo é visto” em primeiro lugar, só depois as decisões tomadas podem ser racionalizadas. Pelo menos é assim que lidamos diante de diferentes alternativas, das quais temos de escolher apenas uma opção e descartar o restante.

No caso das massas, sabe-se há muito tempo que as emoções mobilizam as pessoas a optarem por um caminho ou por outro, de modo que os grupos de poder possam “direcionar” seus seguidores a cumprir ou não as normas estabelecidas; daí a importância que grupos políticos e instituições civis e religiosas mantenham o mesmo discurso para não “dividir” a sociedade em uma situação de crise.

Ou seja, independentemente de suas próprias crenças, os líderes designados ou “naturais” mobilizam as pessoas com base nas respostas afetivas positivas geradas por esse eles, gerando desconfiança do que os outros dizem.

De fato, dada a necessidade urgente de buscar informações e, em alguns casos, a falta de respostas das autoridades, houve vários youtubers que antes não eram ouvidos por ou seguidos por quase ninguém e que se tornaram líderes naturais, oferecendo informações e explicações para “sanar” a curiosidade, embora suas palavras nem sempre se encaixem no discurso oficial das autoridades de saúde. E, aproveitando essa “lacuna de informação”, houve um aumento exponencial de boatos sobre a covid-19, sua transmissão ou como "curá-la", razão pela qual o departamento de Saúde realizou uma campanha contra a desinformação.