Você se considera pronto (a) para o que "der e vier"?

Digo isto porque todos os dias a vida nos apresenta situações novas, intercorrências para as quais devemos apresentar alguma resposta. Muitas vezes somos surpreendidos por perdas abruptas, acontecimentos que parecem vir na contramão de nossos objetivos ou ainda, demandas do mundo exterior para as quais somos constantemente solicitados. Vivemos em um continuo estado de alerta e de atenção ("com o coração na mão", em linguagem popular) como se um perigo iminente (real ou imaginário) estivesse sempre a nos assombrar a consciência. No momento estamos sob a ameaça de um vírus invisível, mas pode ser qualquer coisa.

Do ponto de vista monetário, a vida se torna cada vez mais cara e se não ficamos espertos passamos o nosso tempo investindo nossas energias para pagar contas...

Até mesmo para aquele que tem tempo e sossego para se espraiar na areia do mar e cujas preocupações se perdem na linha do horizonte sem fim do mar azul, este também pode ser surpreendido por um maremoto, um tsunami. A vida é um constante pulsar, tudo está em permanente movimento, e a aurora que desabrocha prenhe de cor e luzes também pode trazer consigo o negrume da morte.

Os contínuos altos e baixos da vida exigem munir-se de algumas atitudes essenciais que nos ajudam a estar melhor paramentados, se não quisermos ser pegos de calças curtas:

1. Sintonizar-se na frequência do aqui e agora

É fundamental agirmos norteados por essas duas referências fundamentais se quisermos imprimir mudanças às nossas vidas. Tal qual uma bússola, não há outro tempo e outro lugar para orientar as nossas ações senão aquele no qual estamos situados. O aqui e agora abrem o campo, apresentam circunstâncias e um leque de possibilidades à nossa escolha.

2. Desapegar-se do passado

Quem vive do passado vive de lembranças, cultua algo que já se foi, se perde entre profundos sentimentos de nostalgia e tristeza, principalmente porque todo aquele cenário já não está mais disponível para ser resgatado, vivido e usufruído. Quem vive do passado tem sua mente ocupada por peças antigas, certamente valiosas e altamente catexizadas, mas que, no entanto, roubam o lugar do novo. Quem vive do passado não pode viver o presente e ao mesmo tempo está livre das inseguranças, das instabilidades e das incertezas do aqui e agora. Nada de bom ou ruim pode acontecer com ele, estando desta forma anestesiado e "protegido" do efeito positivo ou negativo das circunstâncias da vida sobre si mesmo (a).

3. Desapegar-se de sentimentos negativos

A amargura, o ressentimento, a mágoa, a raiva, a tristeza, a desesperança, a solidão e o medo, tal como uma nuvem negra estacionam sobre a nossa cabeça e os mantemos presos a nós através de uma corda invisível. Nós nos acostumamos a viver na companhia destes sentimentos e nos apoiamos neles tal qual uma âncora, e enxergamos o mundo e as pessoas através da lente da tristeza, da desesperança, da solidão... Paradoxalmente, a nuvem negra da solidão nos faz companhia. Temos medo de cair e de perder o chão, se soltarmos a corda. Viver à roda destes sentimentos nos proporciona, portanto, uma falsa sensação de segurança.

4. Dispor-se a construir um mundo novo e uma nova história a partir do momento presente

Segundo Mia Couto a infância não é uma coleção de memórias:

A infância é quando ainda não é demasiado tarde.

É quando estamos disponíveis para nos surpreendemos, para nos deixarmos encantar. A nossa história recomeça todos os dias a partir do momento que decidimos escrever um novo final para ela. Este novo final abre sempre novas perspectivas e novos ‘re-começos’.

5. Ter uma autoestima elevada

A conquista de uma autoestima elevada é uma meta a ser cultivada e perseguida. Ninguém já nasce com autoestima elevada. As experiências que temos em nossa infância com nossos primeiros amores (nossos pais) constituem o arcabouço sobre o qual construímos nossa autoestima. Quem não passou por experiências favoráveis nessa fase do seu desenvolvimento psicológico tem um desafio a mais: construir a própria autoestima contando apenas consigo mesmo e com os recursos que a vida for lhe proporcionando. Você verá que eles existem e que são muitos!!! O passo seguinte é descobrir que pode! E pode muito mais...

6. Aprender a agir independente da aprovação dos outros

Quem tem uma personalidade com contornos bem definidos sabe o que quer e o que é melhor para si. Não vivemos para os outros, mas para nós, visto que não é o outro que paga nossas contas nem enxuga nossas lágrimas quando recostamos a cabeça entristecidos em nossos travesseiros. Por que então depender de sua aprovação? Por conta de um transitório sentido de aceitação que pode evanescer-se da noite para o dia? Se estamos seguros de nossa verdadeira essência, de quem somos, não precisamos que outra pessoa venha dizer o que é bom para nós...

7. Desenvolver confiança em si

Você só desenvolve autoconfiança quando se põe à prova. Ninguém já nasce pronto e acabado. É nos constantes processos de superação que acabamos descobrindo que somos capazes, que podemos mais. É na humildade de aprender com os erros cometidos e na tenacidade de quem busca a melhor resposta tentando fazer de novo e de novo (técnica de ensaio e erro), que percebemos que damos conta da tarefa e desta forma nossa autoconfiança cresce.

8. Apresentar agilidade de resposta

Manter-se ágil é fundamental. Estou falando não só de flexibilidade das juntas, mas de agilidade de pensamento e prontidão na resposta, o que se apresenta no nível comportamental. Nosso tempo de reação1 precisa ser breve, pois as oportunidades que a vida nos proporciona são momentos fugazes, que, se estamos com as nossas 'antenas' ligadas, podemos aproveitar para nosso crescimento e evolução.

9. Cultivar um estado permanente de disponibilidade interna

Estar disponível pressupõe um estado de abertura e prontidão para receber estímulos do mundo exterior e de responder aos mesmos: estar aberto para o outro, estar aberto para a vida, estar aberto para situações novas enfrentando sempre novos desafios. Estas são atitudes fundamentais para se continuar vivo, pois quem se fecha para a vida coloca um ponto final em sua história, o que abre as portas para a deterioração física, mental, intelectual, emocional. Neste caso, a lei da inércia vai estar predominando, pois haverá uma tendência de retorno ao estado de repouso que caracteriza a morte.

10. Reservar um momento para recarregar as baterias

Permitir-se dar uma pausa entre os afazeres diários, permitir-se relaxar é essencial para manter a saúde física e mental. Tenha isto como conduta e prática habitual em seu dia a dia. Estar descansado e no auge de sua vitalidade lhe permite enxergar com clareza para tomar decisões e ativar o estado de prontidão para a vida.

Os quesitos acima elencados podem servir como um parâmetro e um ponto de partida para nos auxiliar em nosso processo de desenvolvimento. Não devem ser vistos como um estado idealizado de consciência, mas são critérios importantes para quem se empenha em atingir sua meta. Tal como foi salientado, ninguém já nasce pronto, mesmo que tenha nascido em 'berço de ouro' no amplo sentido desta expressão. Não importa a sua idade, sua conta bancária, seu nível sociocultural, onde você vive, com quem mora, sua profissão, o status que ocupa na sociedade, a cor de sua pele, sua escolha afetiva. Se você respira e tem um coração que bate no seu peito, a pergunta a ser feita é: quem eu quero me tornar?

Pense nisso.

Nota

1 Tempo de reação: intervalo de tempo entre a emissão do estímulo e a resposta que apresentamos ao mesmo. predominando, pois haverá uma tendência de retorno ao estado de repouso que caracteriza a morte.