As vivências psicológicas fundamentam-se em sentidos que atribuímos, em significados e propósitos decorrentes de encontros, frustrações e desejos. Entender essa dinâmica é fundamental para a compreensão dos relacionamentos humanos. A questão dos significados e sentidos é a base da semântica - estudo do significado e relação com o significante; o significado se associa ao contexto e o significante é associado à forma, palavras ou sinais. Em psicoterapia, observar os processos individuais e a atribuição de sentidos e suas distorções, é basilar.

Descobrir-se pouco ou muito importante, sentir-se aquém ou além dos outros cria isolamento. Nesse contexto, estruturado como ponto de referência, o indivíduo se transforma em compasso, em régua medidora que atribui significado a vivências suas e dos outros. É a maquina aferidora, contabilizadora do que acontece. Com esses indivíduos as descobertas, as novidades estabelecem parâmetros que engolem significados intrínsecos aos processos e passam a ser orientadores de comportamentos, gerando significados comparativos como: superior e inferior. Exilando-se do mundo, virando alfa e ômega, princípio e fim dos processos a pessoa se pontualiza, abolindo, desse modo, as redes configurativas de suas vivências, de seus encontros. Tudo é reduzido a comparações tais como: conseguir ou falhar, acertar ou errar, manter ou perder. Sua vivência diária consiste em verificar lucro, chorar perdas, deter-se no medo, na apatia ou na depressão, tanto quanto, pela propulsão de aplausos, deter-se nos lucros e vantagens, estacionar nos pódios da ansiedade, da competição e das vitórias (sempre vigiando, pois constatações frequentes ameaçam). Virar produto cobiçado, ser bem sucedido, ou virar resíduo incômodo, lixo marcado pelo insucesso, é o cotidiano, é o significado dado ao estar no mundo com o outro.

Como transformar esses acúmulos de rendimentos ou perdas, de afirmações ou depreciações? Mudando a atitude, observando que na vida o como é o fundamental, e que ao negá-lo em função de porquê ou para quê, se aliena, se abate pela vergonha e medo, se perde em usuras e ganâncias. O que é visto como obstáculo não é apoio, não deve ser pensado como base para apoiar e justificar objetivos de vida. Perceber o outro como o opositor ou como o que ajuda, o objeto que alavanca ou derruba é uma semântica aniquiladora, gerada pela não aceitação de limites, de impossibilidades e possibilidades, vem da busca desenfreada de querer ser o centro, o vencedor "como os poderosos, os ricos, os bem sucedidos, ou os belos e inteligentes".

Significados estruturantes de aceitação, de bem-estar são encontrados nas continuidades de vivências presentes, nas quais o presente é percebido no contexto do presente e não no das vivências passadas ou no das aspirações futuras. Presente vivenciado enquanto presente jamais implica em distorção, em mecanização, tanto quanto quando as experiências do presente são filtradas pelo antes (passado) ou depois (futuro) sempre implicam em distorções, em posicionamentos de medo, vergonha, ansiedade, expectativa, inveja, certeza/incerteza e dúvidas, por exemplo. Viver o que se vive é totalmente diverso de viver o que se precisa viver, o que se quer ser ou o que se quer conseguir, atingir ou evitar.