Durante um fim-de-semana muito completo, vimos e ouvimos 16 empresas e startups de renome nacional e internacional, e convivemos com mais de 600 participantes e 40 jornalistas, num evento que provou que é possível marcar a diferença fora dos grandes centros de Lisboa e Porto. A Get Digital, empresa organizadora do evento, acreditou que Leiria tinha tudo para ser uma excelente anfitriã para o evento, sendo inclusivamente o berço de algumas das empresas convidadas, como é o caso da La Redoute. Leiria esteve certamente à altura de receber esta inspiradora conferência no âmbito do marketing digital, acolhendo-nos de braços abertos e partilhando connosco edifícios históricos e boa comida.

Sendo o networking uma das grandes mais valias do evento, usufruímos de momentos pensados especialmente para o efeito, como a Welcome Drink de sexta-feira, no Hotel Tryp, e a After-Party de sábado, no Mercado de Santana, onde foi ainda possível assistir ao jogo de Portugal - Áustria. A Get Digital foi ainda mais longe e criou uma App que permitia falar com todos os participantes em chat privado, assim como o agendamento de reuniões.

Durante os dois dias de conferências, no Teatro José Lúcio da Silva, os empresários partilharam connosco a sua história e o percurso das suas empresas, falando sobre como começaram, os desafios que enfrentaram e o que fez realmente a diferença na escalada até ao sucesso.

Destacaram-se algumas tendências, nomeadamente a omnicanalidade ou omnichannel, que implica que a empresa não está só presente nos vários canais digitais, como acontece no multichannel, mas também tem presença física, integrando mais este canal. Ou seja, ao contrário do que se possa pensar, a tendência parece não ser o e-commerce, mas sim o commerce, estar presente em todo o lado. É esta a aposta da Farfetch, por exemplo, que permite que se experimente, levante e troque roupa, em boutiques locais, apesar de ser uma loja online. A omnicanalidade está também nos planos do Paypal e da E-goi, e é vista como um factor para o sucesso das empresas por Francisco Costa, CEO da Odisseias, que referiu o caso da Amazon, que está a abrir livrarias físicas nos EUA. A La Redoute, por seu lado, não considera investir em lojas físicas, pelo menos para já.

Outra tendência das empresas que se destacam pela tecnologia como é, mais uma vez, o caso da Farfetch, da E-goi, da Cuckuu, da Odisseias e da Google é o facto das equipas que desenvolvem a sua tecnologia pertencerem à empresa em vez de serem subcontratadas. A Farfetch conta com uma impressionante equipa de 400 engenheiros informáticos a trabalhar no Porto e pretende contratar mais 100 até ao fim deste ano.

Sozinhos não vamos a lado nenhum

Esta foi uma das principais mensagens transmitidas durante a conferência. David G. Santos, que aproveitou a conferência para anunciar a sua saída da Up To Start para iniciar a Intellcorp, referiu que "sem companheiros, mais vale dormir". Tim Vieira, conhecido do público pela sua participação como investidor na primeira edição do Shark Tank português, afirmou que nunca esteve sozinho na sua jornada como empreendedor, teve sempre sócios. Já Bruno Salgueiro, partilhou connosco algumas Dicas do Salgueiro, relativas ao empreendedorismo, sendo uma das primeiras "Nunca és tão bom quanto as pessoas que te acompanham", revelando ainda que "Sozinho não ia a lado nenhum". Miguel Gonçalves, da E-goi, referiu as parcerias que a empresa desenvolveu como um dos grandes motores de alavancagem para o seu crescimento, juntamente com a sua oferta Freemium e o programa de afiliados. A startup Cuckuu leva esta máxima tão a sério, que todos os elementos da equipa vivem na mesma casa.

"Fail fast! And learn faster"

Foi com esta frase que Miguel Monteiro, CEO da FixeAds, empresa que desenvolveu o OLX, Imovirtual, StandVirtual, entre outros sites de classificados, terminou a sua apresentação. Foi também uma das mensagens mais repetidas durante a conferência. "Youtubo de Ensaio", a quarta Dica do Salgueiro, referia-se precisamente a fazer experiências e arriscar como uma forma de descobrir tendências e públicos-alvo. Miguel Gonçalves, da E-goi e Francisco Costa da Odisseias, também defendem que a melhor forma de crescer é ter uma ideia parcialmente desenvolvida e ir testá-la para o mercado, para a adaptar ao que o cliente realmente quer. Não insistir muito tempo no erro.

Tim Vieira revelou que já viajou muito e que não há melhor do que Portugal. Afirmou ainda que, ao contrário do que os portugueses pensam, o problema de Portugal não é sermos um país pequeno. Tim acredita que somos um povo desenrascado, estamos numa localização central, perto de tudo, falamos inglês com facilidade, ao contrário da vizinha Espanha. Para ele, o nosso problema é não acreditarmos em nós próprios e não nos incentivarmos uns aos outros a levantar quando caímos. Existe uma falta de abertura por parte das empresas, que continuam a achar que "o segredo é a alma do negócio", e um certo prazer em ver os outros falhar. Contudo, Tim diz que isso está a começar a mudar com as startups que estão a crescer e a arriscar. A saber falhar e recomeçar. Porque é preciso persistir e saber que vamos falhar muitas vezes. Segundo as estatísticas, apenas 1 em cada 10 empresas tem sucesso, mas quando os empreendedores tentam uma segunda vez, 1 em cada 3 empresas consegue vingar, pelo que a prática realmente parece levar à perfeição. Como disse António Poças, presidente da inCentea, "Não há empreendedorismo sem insucessos".

Desta mensagem ressalta-se ainda a persistência e a consistência como fatores decisivos para o sucesso. A persistência, juntamente com a humildade de "não saber nada" e uma estratégia de marketing + produto, foi a receita para a Uniplaces crescer 500% em 3 anos. Sendo que André Albuquerque (Uniplaces) sugere que se redefina o Santo Graal, ou seja, que se passe do foco no problema, para o foco na solução. Que as empresas se foquem em perceber porque é que as pessoas escolhem o seu produto, e desenvolvam tanto o produto como a estratégia de marketing para responder ainda melhor à necessidade que de facto resolvem.

Por fim, Rui Pedro Alves, CEO da InvoiceXpress, defendeu um caminho menos percorrido atualmente pelas startups, o bootstrapping, isto é, começar uma empresa com pouco capital e ir reinvestindo os lucros e crescendo lenta mas consistentemente, por oposição a recorrer ao capital de risco. Tal cenário nem sempre é viável, como afirmou Filipa Neto, uma das fundadoras da Chic By Choice, empresa que necessitou de muito investimento inicial para poder arrancar com um modelo de negócios que consiste no aluguer de roupa de luxo.

Tudo somado, foi um fim-de-semana excelente, muito bem organizado pela Get Digital e com dicas valiosas para os empreendedores. Termino com uma frase de Rui Pedro Alves (InvoiceXpress), para incentivo de todos os presentes: "Encontrem a vossa fome e concretizem os vossos sonhos".