A Escola da Vez não é um apenas um projeto. É um modelo de revolução na educação em tempos de impactos nos avanços tecnológicos. Desse modo, a inclusão é necessária, mas, mais necessário é priorizar a vez pela voz de todos sob pontuação da ética num mundo regido pelas inovações tecnológicas. Para isso, a Escola da Vez desperta uma nova consciência coletiva na busca pela convivência e sustentabilidade no planeta Terra.

A partir de um cardápio de indicações de livros, poemas e filmes, os alunos e os internautas terão a chance de escolher o que deseja estudar. José Pacheco, da Escola da Ponte em Portugal, diz que “Escola não são edifícios, são pessoas”. As crianças precisam interpretar o mundo com uma consciência coletiva em relação aos espaços urbanos, as dimensões espaciais, a cartografia e a tudo que envolve a convivência humana.

Por sua vez, a Escola da Vez está em todas as dimensões, é um projeto que invade o passado, o presente e o futuro. E está em busca de um ser humano que interprete as redimensões do mundo entre as técnicas dos saberes dos povos, atrelado aos impactos das novas tecnologias.

Para tanto, há uma nova divindade que ilude a todos que estão conectados. O wi-fi é o novo paradoxo nas vivências humanitárias. Ele vem definir novos comportamentos e tendências que reafirmam um novo modo de pensar a vida dos humanos no planeta Terra. Temos então, as técnicas, e a busca do acesso às novas técnicas para garantia de novos conteúdos aos estudos científicos.

Com tantas inovações, o físico, cosmólogo Luiz Alberto Oliveira revela que poderemos avançar na “reformatação” dos seres humanos. Nesse ponto, como despertar para uma nova consciência coletiva no uso e nas interpretações da convivência e sustentabilidade da vida em sociedade? A reformatação do humano encontra-se também na transformação do modo de pensar a vida e o mundo. A potencialidade do ser humano encontra-se na capacidade em descobrir novas invenções para alimentar mais ainda as novas invenções. Desse modo, precisamos unir a arte das técnicas dos povos para gerar a vez a novas técnicas em detrimento da Cidadania do Afeto. Reformatar o ser humano sem perder a essência da capacidade da comunicação entre os limites da convivência humana para novos planos de compreensão do planeta admite um novo aspecto para aprendizagem. A questão está na vez. É a vez de novos acessos, novos riscos, novas façanhas de codificar o mundo. O modelo antigo de aprendizagem não consegue sustentação diante da divindade wi-fi.

Então, como produzir em todos os seres humanos independente de status ou papel social, um modelo de cidade onde todos tenham acesso com consciência ética? Essa consciência remete a um estado de convivência saudável no que se refere à limpeza, à prevenção, à saúde, à tecnologia, à arte, ao museu, à cidadania, às leis entre ouras questões encontradas nas ações dos seres humanos. É mais do que uma mudança de paradigma.

Há de se considerar que, necessitamos compreender “a canção dos homens”1. Uma tribo na África evoca e cria uma canção para cada criança que nasce, quando essa criança cresce cantam sua canção, se essa criança faz algo de errado eles cantam a mesma canção para lembrar sua essência. Com isso, essa tribo mostra entre os rituais e atitudes a partir de uma canção, a dignidade na convivência com todos da referida tribo. Devemos lembrar que mesmo com a dinâmica tecnológica não podemos perder a nossa essência que é o sentimento. O sentimento está nas palavras de todos os poetas. O poeta Fernando Pessoa queixava-se de tanto sentimento2.

A característica essencial dos seres humanos está na forma de conduzir os sentimentos. Diante disso, a Escola da Vez promoverá uma dinâmica aos novos tipos de conhecimentos. A partir da criação de cardápios elaborados pela equipe da própria Escola, os alunos terão a chance de escolher o que deve estudar para ser apresentando com algum produto durante um tempo determinado pela citada equipe. Os cardápios substituirão as ementas ditadas pelo mercado da educação. Teremos cardápios de vários temas como, mídia, tecnologia e jogos, convivência, educação financeira, engenharia para o meio ambiente, literatura, música, esporte, filosofia, arte e cultura entre outros temas. Nesse aspecto, os alunos terão a chance de se reunirem para criarem acesso aos novos conhecimentos e assim o mercado não ditará à educação, mas a educação precisará do mercado para expandir as novas descobertas.

Esse modelo já vem sendo alertado de outras maneiras pelo educador Daniel Pennec que diz que educação é emoção, pelo psiquiatra Cláudio Naranjo que argumenta que não devemos reproduzir e produzir uma geração de zumbis. Educadores que remetem a preocupação com a essência do ser humano, criar seres humanos para o amadurecer de uma nova consciência em relação a convivência no planeta Terra. Essa consciência vai além de ser um cidadão de bem, que vai de casa ao trabalho. Será um cidadão que desmonte toda forma que prejudique a vida dos seres humanos. O cosmólogo Luiz Alberto Oliveira diz que a maior invenção dos seres humanos foi à criação da cidade. E com isso temos uma responsabilidade para que a cidade continue sendo um lugar de efervescências de convivências. Nessa abordagem, os museus serão fundamentais por aglomerar a memória do passado vista no presente, refletida para um futuro próximo. Teremos vários tipos de museus, museu da assombração, dos amuletos, dos vícios, das peças em desusos, dos afetos entre outros.

Para o economista Adam Smith, “o homem foi feito para a ação”3 . Então, devemos aprender a interpretar a dinâmica do mundo. Hughes afirma que tivemos três revoluções titânicas que se articularam sem controle. A primeira revolução foi à econômica pela luta de terras e explorações dos recursos naturais, a segunda foi a revolução do Estado, uma nova doutrina para os modos de convivência, e a terceira a revolução religiosa pautada pela Reforma Protestante que representou a luta do nacionalismo, do capitalismo e do individualismo. Essas revoluções culminaram para outra revolução pautada na era dos algoritmos na produção de um novo cidadão, do cibercidadão. O sociólogo Zigmunt Bauman afirma que saímos da sociedade da disciplina e estamos na sociedade do desempenho. Para tanto, estamos também na sociedade das estatísticas. Por isso, é cabível de registro lembrar que não poderemos viver só de estatísticas, que segundo um grande amigo, “a estatística é a mentira oficial” (perdoe-me os renomados estatísticos). Então, a Educação será pauta para nova revolução, teremos novos projetos para adequar-se ao novo ritmo do mundo em detrimento da Inteligência Artificial e aso avanços tecnológicos. A educação passará por novas tendências.

O educador português Antonio Nóvoa argumenta que a entrada de uma escola deve começar pela biblioteca. Assim, a Escola da Vez pretende trazer a biblioteca como propulsora para novas descobertas em parceria com as buscas na internet. Por isso, os afetos serão vistos nas tarefas de casa. Os alunos terão a chance de cantar com os pais ou responsáveis, jogar, ler um livro, abraçar entre outros afetos para interpretarem os modos de convivência. Hoje, as tarefas de casa ainda são terceirizadas, são tarefas difíceis que na maioria das vezes são realizadas pelos pais ou responsáveis, ou ainda os alunos vão para aulas de reforço. As aulas de reforço movimentam outro tipo de Escola. Na Escola da Vez os alunos poderão encontrar apoio nos orientadores educacionais, sociólogos, assistentes sociais, psicopedagogos, psicólogos, físicos, químicos, matemáticos, artesões, músicos, brincantes entre outros profissionais para aprenderem a interpretar a técnica unida aos avanços das tecnologias.

Outra grande oportunidade oferecida pela Escola da Vez será o teatro. Os alunos poderão interpretar os novos conhecimentos pela arte da interpretação, misturando cenas da vida com os novos valores que surgem a cada dia. Aplicativos, documentários, filme cênicos, robôs farão parte como produto da Escola da Vez.

A criação dará espaço ao modo de codificação dos enigmas da vida.

Também, você pode questionar, mas como será o modo de avaliação na Escola da Vez? Avaliar não é tão fácil. Cada vez mais, o modo de avaliação será em detrimento da conquista do produto realizado pelos alunos. Ou ainda, cada Escola pode adotar à questão da vez como modo avaliativo. Dessa vez não deu certo, tentaremos mais uma vez. Ou, ainda solicitar aos próprios alunos novos modelos de avaliação.

Estamos vivenciando modelos de educação que estão pautados no ranço do século XIX. O despertar de uma nova consciência não deve ser apenas inserir os alunos na Escola, deve-se também oportunizar as novas convivências entre a dinâmica de conteúdos. Não estamos nem no início da revolução para um novo modelo de educação.

A revolução na educação passará também pela questão da percepção extrassensorial4, ou seja, passaremos a compreender outras formas de buscas para codificação e interpretação do mundo. Tudo isso pode até ser um projeto utópico, mas o escritor Eduardo Galeano concorda que a utopia serve para caminharmos na perspectiva de adaptação aos novos contextos para convivência social. Devemos caminhar para uma direção onde o mundo possa ser mais interessante. Os mistérios existentes na ciência devem ser alimentados para que surjam novos mistérios. O que temos de mais misterioso é a vida, temos que procurar um modelo ou vários modelos que nos leve a acessar os mistérios da arte de viver. O mestre em educação Bruno Tovar reflete sobre quais têm sido os critérios de avaliação para saber se estamos bem ou estamos mal na educação mediante as políticas públicas de educação no Brasil.

A educação deverá passar de sistemática para equivalência de dimensões. A escala moldará os novos atributos dos valores educacionais. Como diria Rubem Alves, “há Escolas que são gaiolas, há escolas que são asas”. A Escola da Vez é asa, permite o respeito na interpretação do mundo pelos novos acessos ao conhecimento. Não podemos deixar que os discursos da repetição atrapalhe as gerações de criadores e inventores. Temos que formar mentes para o despertar de uma nova consciência coletiva pela cidadania do afeto.

Notas

1 A canção dos Homens – Tolba Phanem: “Quando uma mulher, de certa tribo da África, sabe que está grávida, segue para a selva com outras mulheres e, juntas, rezam e meditam até que apareça a “canção da criança”. Nascida a criança, a comunidade se une para lhe cantar a sua canção. Logo, quando a criança começa sua educação, os habitantes da tribo unem-se novamente, e lhe cantam sua canção. Quando se torna adulto, novamente, unem-se e cantam essa melodia. Quando chega o momento do seu casamento a pessoa escuta a sua canção. Finalmente, quando sua alma está para deixar este mundo, a família e amigos aproximam-se e, como no momento de seu nascimento, cantam a sua canção para acompanhá-lo na viagem. Mas há outra ocasião na qual os integrantes desta tribo africana cantam a canção: se em algum momento da vida a pessoa cometer um crime ou um ato social aberrante. Levam-no até o centro do povoado onde as pessoas da comunidade, formando um círculo ao seu redor, cantam a sua canção com toda a alma. A tribo reconhece que a correção para as condutas antissociais não é o castigo: é o amor e a lembrança de sua verdadeira identidade. Quando reconhecemos nossa própria canção já não temos desejos nem necessidade de prejudicar ninguém. Teus amigos conhecem a tua canção e a cantam quando a esqueces. Aqueles que te amam não podem ser enganados pelos erros que cometes ou as escuras imagens que mostras aos demais. Eles recordam tua beleza quando te sentes feio, tua totalidade quando estás quebrado, tua inocência quando te sentes culpado e teu propósito quando estás confuso”.

2 Tenho tanto sentimento / Que é frequente persuadir-me/ De que sou sentimental,/ Mas reconheço, ao medir-me,/ Que tudo isso é pensamento,/ Que não senti afinal./ Temos, todos que vivemos, / Uma vida que é vivida / E outra vida que é pensada,/ E a única vida que temos/ É essa que é dividida / Entre a verdadeira e a errada./ Qual porém é a verdadeira/ E qual errada, ninguém / Nos saberá explicar; / E vivemos de maneira / Que a vida que a gente tem/ É a que tem que pensar (Tenho tanto sentimento, Fernando Pessoa).

3 HUGHES, Emmet John. Ascensão e decadência da burguesia. Rio de Janeiro: Coleção Traduções Escolhidas. Ed. Agir, 1945, pg 130.

4 “Percepção extrassensorial (PES) é a capacidade que certos indivíduos teriam de apreender uma informação sem a utilização de seus cincos sentidos. Os seres humanos e a maioria dos animais fazem uso dos cinco sentidos para captar informações sobre o seu corpo e o ambiente que os rodeia... Os cientistas que estudam a PES acreditam ser conveniente dividi-la em quatro categorias: telepatia, clarividência, pre-cognição e psicocinese. Estudiosos importantes da PES: William Crookes, Oliver Lodge, Charles Richet, Russell Wallace e Conan Doyle. Consultar a Revista Ego – Guia do Comportamento Humano. Nº13 editora Abril p. 205 – 208, 1974.