Numa linguagem esotérica do sagrado Feminino, sibilina e sibilante, Dalila Pereira da Costa sentencia a seguinte alquimia lusitana in A Ladaínha de Setúbal:

“Aqui, o principio feminino e masculino, terrestre e celeste, cruzando-se, como par soberano sagrado, D. Dinis e Santa Isabel, perfarão o hermafrodita primordial ou alquímico- duplo uno; o rei em si encarnará a natureza, como terra, a rainha o espírito, como céu. E será nessa união, que na nossa história, surge como par de soberania sacralizada”.

Em termos de Arcanologia, estamos perante o Arcano XXI: o Mundo. Este Arcano é um ovo que insinua ser a semente de uma Nova Jornada. Dessa forma, sempre que tivermos um sentimento de chegada e houver um momento de realização e de cura, um novo desafio surge, uma nova descoberta da velha jornada espiralada. Trata-se da sabedoria acumulada ao longo do percurso e que pode ser partilhada em doação plena, de coração aberto à incondicionalidade do Amor.

O mundo é a Anima Mundi, a Alma do universo que está integrada em cada sujeito, a culminação da Grande Obra dos Alquimistas. É o “eu” verdadeiro e último, no qual o espiritual governa o material.

Deste modo, foram os Descobrimentos governados e nascidos pela Saudade. Segundo Dalila, D. Dinis é o primeiro Rei Português da Saudade, porque foi o primeiro Rei português do Amor. Dalila acredita que é porque o Rei Trovador, Mestre Espiritual de Portugal, se separa da sua amada, procura a saudade, para nela encontrar o amor absoluto. Encontramos qui o arquétipo do Homem Português: como navegante, trovador e lavrador, poeta, que reencontra na Distância o re-conhecimento do amor.

Em termos hermenêuticos e como afirma Ricoeur “o mundo é um texto para ser decifrado” e nós sujeitos, apropriamo-nos dele para depois nos distanciarmos e conseguirmos a nossa auto-compreensão, auto-conhecimento e evolução da consciência.

Esta é uma magia operacional ( como afirma a escritora), a que se encontra nos cavaleiros do Amor; nos Descobridores, nos Poetas e até na arte hermética dos Templários incrustada no convento de Cristo em Tomar, mais precisamente na célebre Janela Manuelina do convento.

Para Dalila, a Janela simboliza, com a sua linguagem alquímica e templária, a missão histórica, divina, duma nação do Ocidente: Portugal.

“Será esse o Arcano último escondido no Convento de Cristo em Tomar- a representação da alquimia através da linguagem própria duma nação. Nela, o navegante e alquímico lusíada sustentará nos seus ombros toda a Grande Obra, representada pelo símbolo e pela acção; numa Demanda que se cruza na nossa espiritualidade enquanto Flor dos Mares: a Virgem Maria”.

Identificando esta Flor dos Mares com a Virgem Maria, como símbolo de uma integração energética da imaginação criadora e de um pragmatismo imediato; pelo poder do sonho e da matemática aplicada à náutica, encontramos a Esfera Armilar, a mandala de Portugal; numa totalidade anímica e cósmica; símbolo de realização pela intercessão da Senhora da Saudade, como união de Passado e Futuro, terra-céu: Arcano do Amor.

Um Arcano, este, sim, que podemos fazer engravidar de Novas Aventuranças e iluminadas Mandalas; potenciais sementes de mudança que a Mãe Pátria e seus Heróis do Mar entoam no seu hino!