Não só a escrita potenciou o desenvolvimento da Literatura, como a Literatura é fundamental para o processo de aquisição da escrita que por sua vez está directamente relacionado com o processo de leitura.

Como as histórias exercem fascínio em crianças de diversas idades, culturas e religiões, a literatura infantil acaba por ter tem papel determinante na aquisição da escrita e leitura. Entre muitos estudiosos destaca-se as considerações de Vygotsky. Este autor ressalta a importância do meio, como interacção do indivíduo com o mundo (processo interpessoal) para a formação do indivíduo, enfatizando o papel da linguagem para que a criança perceba o sistema simbólico-linguístico, processo intrapessoal. Este sistema é assimilado pala criança que tem papel activo em todo o processo. Ouvir, ver, raciocinar, transformar, formular hipóteses são processos contínuos entre a criança e seus interlocutores, isto inclui desde os diálogos quotidianos até a interacção directa com a leitura ou indirecta quando a criança assume o papel apenas de ouvinte. Nessas condições, é apenas uma questão de tempo até a criança reproduzir o sistema de comunicação oral e gráfica das pessoas com quem se relaciona.

Durante o contacto da criança com os sinais gráficos, há uma evolução gradual e sequenciada em nível pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético. Essa aquisição por nível retoma a ideia de Piaget na qual afirma que a aquisição de competências está relacionada com a maturação através da superação estágios de desenvolvimento. Portanto, seguindo Vygotsky e as interacções sociais ou seguindo Piaget e maturação individual, a literatura exerce papel de relevo na aquisição da escrita.

Literatura Infantil e a formação do Indivíduo

No contexto da Educação, a Literatura Infantil pode ser abordada por duas vertentes: instrumento de desenvolvimento da aprendizagem e instrumento de alfabetização. Embora o ideal para a formação do indivíduo seja que essas vertentes interliguem-se.

No sistema linguístico saussureano encontra-se o significante, o conceito, e o significado, a imagem acústica atribuída ao conceito. Então, para que uma criança aprenda a ler é importante a formação de conceitos, bem como a atribuição de significação. Esse significado vai variar conforme as relações interpessoais da criança.

A leitura do mundo é anterior a leitura da palavra e a leitura desta palavra implica a continuidade da leitura do mundo. Além disso, ler o mundo é reinterpreta-lo através de uma prática consciente. Nessa perspectiva, a leitura é maior que um decifração de signos e sons. É na verdade uma formação individual, logo é mais do que um instrumento de desenvolvimento de aprendizagem, é mais do que um instrumento de alfabetização.

Ler um livro pode ser extremamente significativo. A leitura tem um papel formador da personalidade tanto para aspectos positivos como negativos e permite a reconstrução da identidade. Entretanto, assim como o texto reinventa o mundo real, o mundo real apodera-se do texto. Quem nunca se deixou influenciar por uma personagem ou viu em si o reflexo de um herói ou vilão? Muitos personagens são ícones, saltam das páginas e passam a fazer parte do nosso imaginário, impregnando muitas vezes o nosso discurso: Bela Adormecida, está na hora de ir para a escola ou Trabalho como uma gata Borralheira (Jardim 2003) são apenas alguns exemplos.

E relembrando Pessoa:

Sentir, sinta quem lê!