É quase inevitável neste contexto pandémico não se pensar em valores morais. E sendo assim, caberá questionar se não será uma pretensão tentar uma universalidade da moral?

Sabemos que ela surge da tensão social crescente e de conflitos bem significativos mas os deveres pretensamente derivados dessa moral ficam ao mesmo tempo presos “na ganga contextual de uma cultura histórica”, como nos diria Ricoeur.

O contexto não só condiciona o sujeito mas os seus valores, até porque só há valores porque há sujeito!!!

Por outro lado há que questionar o critério da universalização na medida em que esta contraria o princípio da autonomia. Autonomia essa que segundo Kant deveria integrar a “heteronímia” do discípulo; não para enfraquecê-la, mas para reforçar a exortação do artigo Que é Esclarecimento? ouResposta à pergunta o que são as Luzes:

Que são as luzes? Sapere aude! – Ouse aprender, provar, saborear por ti mesmo!

A autonomia reúne a alteridade- o outro-, o que se dá a liberdade de; o outro do sentimento sob a forma de respeito, o outro do mal sob a forma de inclinação para o mal. É esta tripla alteridade que torna a autonomia solidária e dependente da regra da justiça e da regra da reciprocidade. O diálogo com o outro; o outro que nos serve de janela / espelho; o outro que nos faz ver melhor em termos de auto-conhecimento; o outro com quem nos descobrimos; O outro plural reflexo de mim mesmo.

Assim, mais do que universalizar a moral, tornemos prática uma sabedoria que exige uma resposta responsável em situações de conflito; uma resposta com a convicção que beneficie do carácter plural do debate. Talvez, deste modo, as escolhas se tornem mais conscientes!

Será que a nossa liberdade está na escolha das nossas prisões? A nossa liberdade de escolha depende sempre do contexto situacional: família, país, língua, emprego, género, etc.

Mas a questão fundamental é a seguinte:

Como é que escolhemos e qual a motivação?

Pensamos muito? Racionalizamos? Decerto que não! Não, nas escolhas fundamentais da nossa vida: Namorados, casamentos, divórcios, filhos,...Nestas, as nossas emoções falam mais alto que todos os pratos da Balança! Escolhemos emocionalmente! A motivação é intrínseca, vem de dentro, do mais profundo afecto, sonho, querer, vontade, vem do coração!

Por isso se diz:

A Razão tem razões que a própria Razão desconhece!

E agora? Nesta época castradora de emoções, de afectos, como escolhemos nós? Já se perguntou?