Vencedor e perdedor. Dentro e fora. Ataque e defesa. Antíteses intrínsecas aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Mas a nossa edição foi um tanto diferente. Não só pelos recordes quebrados, pelos shows de abertura e encerramento ou por causa do surgimento de novas estrelas do esporte mundial. Simplesmente por conta da nossa torcida com sangue latino americano.

Usando um trocadilho intencional, o barulho da torcida caiu na boca do povo. Do presidente Thomas Bach aos atletas nas entrevistas de zona mista, todos, em algum momento, comentaram o comportamento muitas vezes exacerbadamente barulhento da torcida. Para os torcedores, tais comentários não fazem sentido, afinal existe o torcer em silêncio?

Nossa torcida é das massas. Nossa torcida é a do futebol. Torcer, para nós brasileiros, é externar todos os nossos sentimentos em uma partida: alegria, raiva, decepção. Para tudo isso temos um grito, um xingamento e um bordão, como o “Vai, Brasil!”. Diferentemente do futebol em outros lugares do mundo, aqui ele não é um espetáculo para se apreciar com os olhos e sim com a boca e com o corpo.

O ponto é que a torcida, acostumada com o futebol, levou para dentro das arenas a mesma paixão e, claro, os mesmos gritos. Nem o tênis, ao qual estamos de certa forma mais acostumados, foi poupado! Na partida entre Nadal e Bellucci, o “Vai, Brasil!” e o “Eu acredito!”, bordão criado pela torcida do Atlético Mineiro em 2013 na Libertadores da América, foram ouvidos diversas vezes em meio ao “Shhhhhhh” do restante da torcida e ao “Silence, please!” do árbitro.

Enfim, a torcida brasileira era tão ávida por participar ativamente e executar o seu papel de décimo segundo jogador que, mesmo quando não havia brasileiros nas disputas, ela fazia questão de torcer pelo mais fraco ou até mesmo pelo juiz brasileiro. Sim, você leu corretamente! Em um combate de boxe, o único brasileiro era o juiz e a torcida clamava quando ele entrava em cena.

Assim como a torcida lançava seus bordões e cantava “Eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor!”, ela também vaiava os oponentes dos brasileiros intensamente na tentativa de agourar um saque no vôlei, um lançamento livre no basquete ou mesmo uma tentativa de salto no atletismo. Quem não viu a desaprovação estampada na cara do francês Renaud Lavillenie enquanto ele era vaiado na final do salto com vara masculino?

Não defendo e nem condeno tal comportamento da torcida nos jogos olímpicos, pois se isso não é um costume no hemisfério norte, que ele seja tomado como uma diferença cultural a ser compreendida. Se tais manifestações tiram a concentração dos atletas, será que elas devem ser entendidas como um elemento contra o fair play ou devem ser incorporadas pelos atletas como um novo desafio? Será que isso é uma característica apenas nossa e que em outro lugar na América Latina teria sido diferente? Só havendo uma outra edição pelos lados de cá. Entretanto, o problema é quando a manifestação da torcida inviabiliza o jogo em si, como nas partidas de Futebol de 5 e Goalball, esportes paraolímpicos praticados por cegos e orientados justamente pelo barulho dos guizos da bola. Também nesses esportes houve uma intensa tentativa de mobilizar as pessoas para que não se manifestassem. Muitas vezes funcionou, mas dava para ver que as pessoas tinham dificuldades! Afinal, é muito chato ouvir o silêncio em meio a uma multidão vendo o seu país jogar.