Os números são assustadores. Um estudo elaborado entre a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Academia Chinesa para o Planeamento Ambiental, conclui que entre 350 000 a 500 000 pessoas morrem prematuramente devido a causas diretamente ligadas com a poluição do ar na China.

Chen Zhu, um dos mais altos oficiais do governo, antigo Ministro da Saúde e coautor deste estudo, afirma ainda que a poluição do ar tornou-se a quarta maior ameaça à saúde dos chineses, ficando somente atrás de doenças cardiovasculares, dietas de risco e tabagismo. Acrescenta ainda que, a China se tornou num dos principais líderes da poluição mundial, sendo o responsável por metade do consumo de carvão em todo o mundo.

A Organização Mundial de Saúde alertou no início do mês de Novembro que, em Shenyang, uma cidade no nordeste chinês, os níveis que medem a qualidade do ar foram ultrapassados mais de cinquenta vezes do que aquilo que é considerado seguro. Foram os piores resultados desde que a China começou, em 2013, a monitorizar e publicar os dados sobre a densidade de partículas tóxicas no ar. O PM 2.5 estabelece um índice de controlo da qualidade do ar, onde a média segura se situa numa leitura de 25, em Shenyang esses valores atingiram picos de 1400, levando a que a cidade ficasse refém de um manto cinzento.

“The winter is coming”

A frase tornou-se bem conhecida, um cliché que nos leva a imaginar que algo de significante irá acontecer, uma neblina misteriosa que se adensa, um manto cinzento que se alastra conforme o Inverno vai chegando. A imagem bem pode ter sido tirada de um filme ou série de ficção, no entanto está presente no quotidiano chinês, uma realidade que milhões têm de suportar. Para eles o inverno já chegou e com ele o smog, o manto tóxico que cobre grande parte da China, principalmente a norte do país.

No entanto, quem está a Sul também não está a salvo, se não sofrem no inverno, é no verão que vêm os níveis de poluição atingir proporções que fazem chorar como uma cebola. Seja devido ao fumo dos fogos florestais trazido pelos ventos de sudeste, seja pelo ar-condicionado e outros sistemas de refrigeração disseminados por toda a parte, aliados a um ambiente com humidade elevada, que origina um efeito estufa e asfixia as populações dos grandes centros urbanos numa tóxica neblina. No entanto, durante o Inverno esses sintomas abrandam, sentindo-se apenas em picos de maior frio.

Mas, é no norte e nordeste da China onde mais se faz sentir a poluição nesta altura do ano. A poluição que se acumula nos grandes centros urbanos tem causa-efeito direto com a chegada do Inverno, é com o agravar do frio que vemos as centrais de energia a queimar carvão sem fim.

Nestas regiões da China, que facilmente atingem os 20 graus negativos, o aquecimento doméstico torna-se um bem de primeira necessidade, o carvão passa a ser o recurso natural mais consumido, basta olhar pela janela de casa e ver ao longe as gigantes chaminés das estações de aquecimento a expelir fumo 24 horas sobre 7 dias.

A poluição já não se limita somente às fronteiras chinesas. Todos os anos, a Coreia do Sul é atingida pela tóxica neblina vinda da China, vendo os seus níveis de poluição aumentar, e conforme o Inverno vai arrefecendo, tanto as centrais de aquecimento chinesas como sul-coreanas vão contribuindo para o aumento do manto cinzento.

A mudança de paradigma

Apesar de a comunicação social se focalizar bastante nos grandes centro urbanos, como Pequim ou Xangai, é necessário perceber que existem cidades e regiões que, devido à falta de recursos económicos presentes nas regiões mais ricas, se vêm a praticar políticas ambientais iguais às da revolução industrial do século XIX. É urgente haver uma política de controlo destes picos sazonais. Se no inverno é o Norte que sofre, no verão é o Sul. Os fatores que potenciam o aumento da poluição têm de ser controlados, tem de haver medidas que incentivem a própria população a tomar medidas, tem de haver um apelo à consciencialização das pessoas e empresas.

Contudo, começamos a ver, aos poucos, por várias cidades e regiões, políticas ambientais. Desde a proibição de barcos a motor de combustão em lagos e rios, incentivos à utilização de motas elétricas, o uso de gás natural em detrimento do carvão, etc. Ainda assim num país com mais de um bilião de pessoas, medidas a conta-gotas demoram a fazer efeito, é necessário haver um real desejo de mudança.

Os esforços para abrandar a poluição têm de ser realmente visíveis. Basta de elaborar medidas com nomes pomposos que a nada levam, tem de haver um esforço conjunto entre governo, empresas e pessoas. Tem de haver uma responsabilização para com toda a sociedade chinesa, para que todos percebam que, apesar de a China ser o Império do Meio, eles pertencem a algo maior que os rodeia, o planeta Terra.