O termo resiliência, muito utilizado na área da ecologia por representar a capacidade, maior ou menor dos ecossistemas, em responder às situações de estresse, também tem sido utilizado no campo social e pessoal, ou seja, sociedades e ou pessoas que tem a habilidade natural ou desenvolvida para suportar pressões, sejam elas quais forem.

Sem dúvida como no caso dos ecossistemas, sociedades com alta resiliência estão capacitadas a encarar e ultrapassar obstáculos, tragédias, desafios sem maiores consequências.

No entanto, sob meu ponto de vista, algumas sociedades, como no caso da brasileira, a resiliência já ultrapassou quaisquer limites jamais vistos, já tomando características de uma patologia sistêmica.

Digo isso diante do momento que vivemos nesse país com nome de árvore mas que pouquíssima importância dá para a questão ambiental.

"Nunca em tempo algum", viu-se tamanha "escancaração" das chagas históricas culturais das relações para lá de promíscuas entre os interesses econômicos e políticos.

Independente da quadrilha ideológica que tenha por preferência, quase sem exceções, exceções que devem existir, mas são uma minoria absoluta, observa-se o jogo imundo, amoral, transformando a coisa pública num imenso e sem fim balcão de negócios, seja na escala municipal, estadual e federal, envolvendo todos os poderes, seja pelo envolvimento direto em crimes de todos os tipos como de privilégios medievais das castas do poder público ou ainda pela omissão e prevaricação quase que sistêmica, onde cada um cuida de seus interesses em detrimento do "bem da Nação".

Isso tudo acontecendo, segundo os experts, na maior crise econômica que atingiu essa colônia de exploração moderna do século XXI, produto da luta das facções criminosas que tomaram de assalto o poder por meio das urnas eletrônicas e de suas lambanças na área econômica que vitimaram o emprego de mais de uma dezena de milhões de brasileiros.

Reitero que não há mocinhos nesse lugar, seja por ação ou omissão.

Em particular no estado do Rio de Janeiro, a metástase dos poderes públicos em todas as instâncias explica o estado falimentar do mesmo, bem como o estado de guerra civil existente, onde parcelas significativas da região metropolitana, simplesmente são administradas por criminosos sem foro privilegiado e onde não raro, diariamente são mortos policiais, moradores, trabalhadores, estudantes, crianças e criminosos.

Diante disso tudo, além do medo e das lágrimas dos que enterram seus entes queridos, a sociedade, pagadora de uma extorsiva e colonial carga tributária, simplesmente não faz coisa alguma.

Os telejornais jorram sangue diariamente com conflitos armados por toda a cidade, onde simplesmente não há lugar 100% seguro e as tragédias pessoais se sucedem de forma praticamente diária.

Em contraponto, milhares, beirando o milhão de foliões em alguns casos, de norte à sul do país e principalmente em minha cidade, em todos os últimos finais de semana se esbaldam em dezenas de blocos de carnaval que percorrem a cidade com suas marchas de carnaval, praticamente alheios a carnificina em andamento.

Como dizia meu pai italiano, com ar de perplexidade, nos carnavais dos anos 70 em plena ditadura militar: "É um povo feliz!"

Quarenta anos depois de ouvir as sábias frases de meu pai, sou eu que fico perplexo diante de cenário tão inexplicável para um biólogo. Vai ver que antropólogos, sociólogos, historiadores, geneticistas e principalmente políticos sabem explicar o que anda se passando na cabeça do "polvo" que simplesmente não reage diante de tamanha desordem, diante de tamanha barbárie, caindo no samba!

Com certeza para tudo há uma ou mais explicações, e paralelamente a essa minha perplexidade monumental, encontro as respostas para tamanha degradação ambiental em minha cidade e região metropolitana.

No último voo efetuado em 31 de janeiro de 2018, vi aterros ocorrendo praticamente dentro da lagoa da Tijuca na área de maior crescimento da cidade, lixo concentrado em lixões e flutuando por toda a parte da baía de Guanabara e das lagoas de Jacarepaguá, rios mortos por esgoto, crescimento urbano desordenado por toda parte, obras de saneamento que não levaram à lugar nenhum, consumindo centenas de milhões de reais sem resultado algum, praias contaminadas e os hotéis com ocupação de 90%, alheios a toda essa tragédia sócio-ambiental. A questão ambiental como tantas outras que afetam mais diretamente e explicitamente a sociedade, simplesmente, não são prioridade e se são, não são motivo suficiente para algum tipo de reação das pessoas que pagam, não levam e fica por assim mesmo.

Sem dúvida o excesso de resiliência por aqui, se tornou uma doença social onde nada mais mobiliza a sociedade como massa crítica, exigindo das autoridades gestão profissional e resultados concretos à curto, médio e longo prazo para as chagas históricas que flagelam nossa Nação, nossos estados e nossas cidades.

Todas as manhãs me pergunto, se ainda vale a pena?

Precisamos de reforços imediatamente, disso, eu não tenho a menor dúvida.