O final do ano de 2018, lembrou bastante os primeiros meses do ano de 2000 em relação aos graves problemas ambientais ocorridos naquele ano na região metropolitana do Rio de Janeiro.

Primeiro foi o rompimento do duto da empresa petrolífera estatal, que "asfaltou" 4 km do rio Estrela, bem como estimados 80.000 metros quadrados de manguezais (ainda à serem confirmados).

Visitando a área por cima como embarcado, era como rever o pesadelo de 2000, quando a estatal derramou por rompimento do duto de sua refinaria, estimados 1.4 milhões de litros de óleo em manguezais, baía, praias e costões.

Mais uma vez, manguezais tomados por óleo, animais contaminados e morrendo seja por asfixia como por intoxicação.

Diferente de 2000, o atual acidente, segundo a estatal, foi gerado em virtude da tentativa de roubo de óleo e com um volume de óleo vazado muitíssimo menor do que em 2000.

Eu sempre considero bastante inexplicável para uma empresa reconhecidamente expert em obter óleo em condições tão adversas, no "fundo do fundo" dos oceanos, não conseguir desenvolver mecanismos de controle e resposta mais rápida do que as observadas, em casos de vazamento de seus dutos, seja por quais causas forem.

Enfim, coisas típicas de lugares onde o ambiente é ainda considerado um empecilho ao "desenvolvimento" em pleno século XXI.

Uma semana após o asfaltamento, mesmo tendo sido alertados publicamente (autoridades) a respeito da forte probabilidade de uma eminente mortandade de peixes, fruto de uma combinação de fatores conhecidos (esgoto e troca eficiente de água com o mar) bem como de um outro cada vez mais atuante (temperaturas cada vez mais escaldantes), nada foi feito, e em meio às respostas protocolares de sempre, lá se foram mais 90 toneladas de peixes mortos, boiando na Lagoa Rodrigo de Freitas, em pleno coração da zona sul da cidade do Rio de Janeiro.

Outro pesadelo que me remeteu ao ano de 2000, com o famoso jogo de empurra, onde filho feio não tem pai ou quando dá merda não é comigo e onde o que deveria ter sido feito logo depois de meus alertas, simplesmente foi operacionalizado tardiamente após o início da mortandade, apesar do esforço individualizado de uma única autoridade municipal do executivo.

Visto que peixe e crustáceos não votam, não pagam impostos e ultimamente nem chamam muita a atenção do distinto público eleitor, sobrou mesmo para a empresa de limpeza urbana municipal (Comlurb) recolher 90 toneladas de comida, transformada em lixo pela repetição do mesmo filme com os mesmos atores e a mesma vítima, a Natureza.

Eram abundantes os robalos de 10 à 15 kg, tainhas de 1-3kg mortos por asfixia, onde cada um tinha sua receita para o morte dos mesmos.

Finalmente, com a posse dos novos administradores públicos, eleitos nas eleições passadas, alimenta-se a expectativa de alguma melhoria, por mínima que seja, nas questões ambientais apesar das sinalizações, pouco entusiasmantes.

De forma regionalizada, das 203 metas apresentadas pelo novo governo do Estado do Rio de Janeiro para os próximos 180 dias, nenhuma, salvo meu engano, fez referência ao tema saneamento. Chaga ambiental histórica que entra e sai governo, nunca é equacionada tecnicamente. Talvez, passemos mais quatro anos, pagando por um serviço de baixíssima qualidade, isso quando ele é prestado, transformando o estratégico tema na eterna máquina de fazer dinheiro, sem muito esforço, em detrimento da destruição sistêmica de rios, lagoas costeiras, baías e praias, todos ativos econômico/ambientais que em qualquer região tida como turística, deveriam ser tratados como prioritários, protegendo e gerenciando de fato o recurso natural. Não esqueçamos também da economia que se faria na área de saúde pública, evitando doenças de veiculação hídrica, além de inúmeros outros benefícios como o da geração de empregos em áreas como o ecoturismo e atividades afins.

Aliás, reitero minha sugestão aos governos estadual e federal, no sentido da geração de grande volume de empregos: Invistam em obras de saneamento e habitações populares, atacando justamente duas das grandes demandas sociais e causas da degradação ambiental por todo o país, isto é, falta de saneamento universalizado e crescimento urbano desordenado.

Infelizmente, apesar de meu empenho e do apoio da imprensa, praticamente nada consegui que fizesse chegar ao presidente da república e ao governador, os relatórios que além de mostrar o quadro dramático de degradação de nossos recursos hídricos na região metropolitana do Rio de Janeiro, indicasse o caminho de geração de empregos e melhoria da qualidade ambiental.

De qualquer forma, como em outros governos, continuarei nessa trincheira, na última linha de defesa do ambiente, pois missão dada é missão cumprida.

Feliz ano velho.