Recentemente uma conversa com uma garota chilena fez com que eu entrasse em choque. Ela me disse:

“Eu não era nascida na época que ocorreu, mas minha avó me contava que antes de Pinochet quem não era comunista não tinha o que comer em casa. É verdade que Pinochet matou muita gente. Nenhum chileno nega seus crimes. Quem não concordava com o Governo ditatorial de Pinochet era assassinado. Porém também é verdade que foi ele o responsável pela melhora da qualidade de vida de mais da metade do país. Antes de Pinochet somente os relacionados com o Governo possuíam dinheiro e boas condições”.

O efeito dessa informação no meu cérebro foi como um soco que faz deslocar o queixo para o lado. Afinal, eu sempre aprendi na escola (ironicamente, diga-se de passagem, de forma nenhum pouco democrática...) que Pinochet teria sido um dos maiores ditadores sanguinários que o mundo já conheceu. Entretanto, pelo visto, para uma significante parcela de pessoas ele talvez não teria sido tão ruim assim.

Na Alemanha ainda é possível encontrar pessoas que admirem a Adolf Hitler, mesmo depois dele ser considerado o maior vilão do séc. XX. Na Itália, o nome de Mussolini ainda é bradado com fervor por muitos de seus admiradores.

O Conde Vlad Tepes da antiga Romênia, também conhecido como Vlad o Empalador, considerado um monstro pelos exércitos e um libertador para seu povo, depois de defender a Romênia contra a segunda invasão do Império Otomano. Willian Wallace na Escócia é excomungado pelos livros de História, entretanto foi retratado como um revolucionário no filme Coração Valente (original: Braveheart) contracenado e dirigido pelo ator Mel Gibson.

Essa dualidade de perspectiva de visões ocorre também muito no campo das religiões e seitas. O próprio João de Deus, tema central do meu último artigo publicado no mês passado, possui uma gama de pessoas que acreditam na sua inocência mesmo sob todas as acusações e escândalos que estão envolvendo o líder religioso atualmente. Assim como a Igreja Católica não perdeu sua legião de seguidores mesmo após 25 anos de escândalos, em mais de 7 países, terem sido registrados abusos de mais de 1.000 crianças e 70 scouts.

E não é somente no campo da política que podemos observar essa dualidade de visões. Até mesmo na arte e na poesia podemos encontrar casos de perspectivas distorcidas. Pablo Neruda, poeta chileno, e provavelmente o poeta latino-americano mais famoso do mundo, possui um poema que exalta como ele teria violado a sua empregada quando jovem e burguês durante o verão de 1929.

Heróis para uns. Vilões para outros. Essa é a dualidade de opiniões que gira em torno de tudo e de todos. O Ying Yang da vida. Talvez nunca será possível encontrarmos no mundo alguém que não seja odiado por alguns e louvados por outros. E quando encontramos, são mestres eternos, como Jesus, Buda e Maomé.