Com uma primavera apresentado temperaturas de verão, microrganismos patogênicos encontram as condições ambientais ideais para se multiplicarem no sistema de lagoas que há muito tempo servem de latrinas para o crescimento urbano ordenado e desordenado da baixada de Jacarepaguá.

Enquanto delinquentes ambientais, públicos e privados, faturam alto com suas respectivas atividades, geralmente associadas com a degradação dos recursos naturais, sem que sejam de fato incomodados, o prejuízo ambiental dispara em diversas direções.

A saúde pública fica comprometida na medida que todos os corpos d´água, doces, salgados ou salobros, acabam sendo transformados no destino final do esgoto precariamente ou simplesmente não tratado, promovendo por exemplo, a explosão demográfica de cianobactérias e consequentemente a liberação de suas cianotoxinas que podem gerar de dermatites, diarreias e nos casos mais extremos até câncer de fígado.

Pode-se imaginar que essa situação absurda em pleno século XXI na segunda metrópole brasileira esteja ocorrendo exclusivamente em áreas paupérrimas. No entanto isso acontece em plena Barra da Tijuca, a área que mais crescia até antes das "crises pós olimpíadas", sede da maioria dos principais equipamentos olímpicos. A economia também se ressente da degradação na medida que cada dólar economizado porcamente em saneamento gera um prejuízo no sistema de saúde de quatro dólares mais o afastamento dos contaminados, seja do trabalho ou da escola por um tempo variadíssimo.

Outro aspecto importante é que a degradação ataca o principal ativo econômico e ambiental da cidade do Rio de Janeiro que são suas praias.

Destacando que a situação descrita não é nova, visto que desde 1999, eu pessoalmente, tenho denunciado publicamente essa situação sem maiores consequências, nem para os criminosos e muito menos para as consequências, em setembro passado, notei que a explosão demográfica de cianobactérias ocorria de forma prematura tanto na lagoa de Jacarepaguá como na da Tijuca.

Em outubro percebi que a intensa mancha verde abacate, avançava das lagoas, durante a maré baixa, em direção à praia da Barra.

Consegui com apoio de um amigo biólogo, especialista em cianobactérias e cianotoxinas, que o mesmo efetuasse algumas análises de amostras de água, na qual centenas de cariocas, alegremente mergulhavam num dia de sol escaldante. Em poucos dias veio o resultado esperado: a água em todos os pontos amostrados, na lagoa da Tijuca como na praia da Barra, junto da saída das águas das lagoas, estava contaminada por cianobactérias e suas toxinas.

Imediatamente encaminhei o documento com os resultados aos secretários de meio ambiente da cidade e do estado, sugerindo providências imediatas, bem como para os meios de comunicação que vêm acompanhando o assunto.

Espero que dessa vez, diante da repercussão tida na imprensa escrita e televisiva, as autoridades tomem as ações necessárias visando defender ao menos a saúde de centenas de cariocas que sem conhecimento da gravidade da situação exponham sua saúde ao risco.

Infelizmente para a fauna não humana que sobrevive no sistema lagunar, só resta a contaminação criminosa, sentença dada por uma cultura que se especializou em destruir o que havia de mais belo na cidade.

Vamos ver no que vai dar dessa vez...