Imagine algo que você ama fazer e de repente se vê privado disso. Qual sua reação? Desistir ou tentar encontrar outras maneiras de continuar fazendo isso? Muitas pessoas desistem de seus sonhos e aspirações no primeiro percalço da vida. Mas João Carlos Martins não é uma delas. Ele é um exemplo de superação e uma inspiração para todos aqueles que almejam algo, mas por algum motivo, é impedido de continuar. Conheça a história desse grande artista brasileiro que tem nas mãos o dom de emocionar corações.

Considerado uma das maiores personalidades da música, o pianista e maestro João Carlos Martins tem uma trajetória marcada pelo sucesso, mas também pela luta para continuar fazendo o que mais ama: tocar. Nascido em 24 de junho de 1940, começou desde muito cedo a apresentar as características de alguém predestinado a fazer algo especial. Aos 8 anos começou a estudar piano com o professor José Kliass e aos 11, já dedicava seis horas do seu dia aos estudos do instrumento. Iniciou sua carreira no Brasil aos 13 anos e com apenas 18, já havia conquistado o exterior. Seus primeiros concertos chamaram tanta atenção da crítica musical mundial, que Eleanor Roosevelt patrocinou sua estreia no Carnegie Hall.

Após um início tão promissor, quem imaginaria que este homem seria marcado por tragédias pessoais que poderiam tê-lo levado a desistir da sua carreira. Ninguém esperava muito menos ele. Então, quando em um simples bate-bola ele lesionou a mão direita e posteriormente contraiu uma doença chamada Contratura de Dupuytren que tirou grande parte dos movimentos que ele utilizava para tocar piano, João achou que estava acabado.

Agora imaginem como se sentiu João, após ter tocado com as maiores orquestras norte-americanas e ser considerado um dos maiores intérpretes de Bach do século XX, ao perceber que talvez nunca mais poderia voltar a fazer o que mais amava. Ele poderia ter desistido, claro. Mas não o fez. Pelo contrário, encontrou novas maneiras de tocar, usando a mão esquerda para realizar grandes concertos.

Quando ele achou que poderia seguir a vida e continuar tocando, sofreu um assalto na Bulgária e um golpe na cabeça o fez perder também, parte dos movimentos da mão esquerda. Mais uma vez, João era impedido de seguir seus sonhos. E mais uma vez, achou que nunca mais poderia voltar a tocar. O pianista perdeu anos de sua carreira entre tratamentos, fisioterapia e cirurgias (19 no total). E mesmo com todo seu esforço e determinação, estava cada dia mais difícil continuar tocando. Cada dia ele tentava encontrar novas maneiras de manusear o piano e conseguiu, com os poucos movimentos que tinha em alguns dedos das mãos, reinventar sua forma de tocar. Apesar disso, sentia muitas dores e teve vários momentos em que sentiu-se deprimido. Mas desistir, jamais.

Depois de alguns anos e muitas tentativas frustradas de voltar a tocar com a desenvoltura de outros tempos, João decidiu que se quisesse continuar a trabalhar com música teria que mais uma vez se reinventar. Então, em 2003, já se sentindo sem rumo, ele teve um sonho onde o regente brasileiro Eleazar de Carvalho o estendia a mão e dizia “vem pra cá que vou te ensinar a reger”, contou João em uma entrevista.

Para se tornar um regente, João Carlos teve mais uma vez que exercer um esforço sobre humano. Incapaz de segurar a batuta ou virar as páginas das partituras dos concertos, ele memorizou nota por nota até que pudesse executá-las com perfeição. Isso demonstra que somos mais capazes de ir além do que sequer imaginamos e João provou que com determinação, esforço e amor pelo que se faz, as pessoas são capazes de ir além de suas capacidades.

Recentemente, João voltou a tocar piano. E cada dia para recuperar sua capacidade de tocar foi um desafio. Cada dia uma nova luta para recuperar o movimento das mãos. Cada dia uma nova possibilidade de descobrir do que ele ainda era capaz. Foram momentos de transformação, superação e dedicação extrema. Para João, foi como se suas mãos nunca tivessem se separado das teclas. Como se ele nunca tivesse saído de frente do piano. “A música venceu”, ele disse em uma entrevista.

A música venceu e nós ganhamos um belo presente, pois João Carlos Martins é uma inspiração para cada um de nós. Um homem que nunca ousou desistir e que sempre acreditou que suas dificuldades eram apenas uma ponte que tornariam seu caminho mais difícil, mas jamais impossível de seguir.