Café Society, de Woody Allen, é, antes de mais, uma metáfora romântica. Porquê?

O conflito Eu versus Mundo; o dilema Eu e os Outros; o drama dos Espelhos: a qual quero Eu agradar? Ao meu Espelho ou ao espelho Social?

Do princípio ao fim, o filme fala-nos de escolhas; apela claramente à consciência dessas mesmas escolhas, sobretudo no que diz respeito às mais importantes de todas na Vida: as escolhas emocionais, afectivas! Woody Allen é o mestre da narrativa, conduz-nos com a sua voz doce e meiga aos anos 30 Nova Iorquinos, questionando simultaneamente os anos 30 Hollywoodescos. Todavia, as questões colocadas no filme não têm anos, data ou idade; são humanas e por isso de todos os tempos.

A ênfase vai igualmente para a estrutura pré-narrativa da própria vida. A vida conta-se. Vivemos todos narrativamente, em constelações mais ou menos familiares, pois as nossas histórias de vida contaminam-se umas às outras e os sentimentos, se forem inefáveis, acabam por nos encontrar, para além do espaço/tempo. A função terapêutica do cinema encontra-se aqui bem vincada no que diz respeito à condição humana e à sua insatisfação no passeio da FAMA. Este filme, em particular mostra-nos as armadilhas em que o sujeito cai, sem se aperceber. Como é fácil desdenhar das aparências, da futilidade, dos mexericos sociais e depois vir a personificar tudo isso num abrir e fechar de olhos; tornar-se em tudo aquilo que mais detestava! Mais uma vez Woody Allen usa a metalinguagem do cinema para nos fazer lembrar que o cinema é a arte da ilusão, da magia e que os verdadeiros filmes e “happy ends” somos nós , espectadores, que os fazemos e desfazemos, a toda a hora.

Nietzsche é aqui convocado, no sentido da sua máxima explícita no Ecce Homo: “Torna-te aquilo que és”; pois na maioria das vezes o ser humano desvia-se de si próprio e dos seus ideais para se tornar aquilo que não é! Os actores vão surgindo como estrelas cadentes e carentes, cada vez mais sozinhos na jornada da vida. Por outro lado o título do filme é desde logo um convite a entrarmos na Party Social e por alguns minutos sentirmos o entusiasmo e as ilusões de “ ir para a festa” e de repente sentirmos a desilusão e a frustração de “ vir da Festa”; sim, porque ela acaba rapidamente, como acabam os "make Ups", e as falsas promessas, e os sonhos cor da lua…

Até que ponto é que desejo este Café para mim? Até que ponto é que este lugar tópico, de transformação social, não se torna o meu pior inimigo? Até que ponto é que prefiro a Utopia, o Não lugar?