Drez anos já merecem uma retrospetiva, um relato sintético sobre os efeitos e consequências de um determinado evento numa cidade. Em dez anos cruzaram-se experiências, ofereceram-se acontecimentos inéditos, pontos de partida para carreiras fulgurantes, se impuseram para desvanecer logo a seguir tendências sociais, tribos urbanas e standards musicais dando lugar a novas tendências, novos ritos e a um novo entendimento do que é ser alternativo hoje. Uma mutação constante dentro de uma confusão frenética de sinapses estéticas e choques culturais.

O festival Minhoto, Milhões de Festa, foi testemunha abrasiva de uma década em que os festivais ditos independentes, conceptuais e ideológicos (sim, há em quase tudo aqui uma crença numa ideia) democratizaram a música ao vivo, renovando o panorama previsível e lúgubre de um sector de espectáculos ainda bastante preso nos seus horizontes, prestando-se a outros serviços de fusão estilística, scouting de novos projectos e a uma nova dinâmica de ‘happenings’ sequenciais. Este festival no coração da pequena cidade de Barcelos teve também o condão de alterar as normas no eixo entre público e artista e recalibrar esta relação mutualista que definiu em si, muito do espírito caótico e irregular dos seus concertos.

Foram como eles próprios disseram, “consumados dez anos a derreter fronteiras, a transpor barreiras de tempo, de género e espaço” para chegar a esta 10ª edição do Milhões de Festa, fruto da colaboração entre o Município de Barcelos e a editora Lovers & Lollypops. Para 2017, a organização tem preparado um caldo exótico com inúmeros ingredientes que se estendem desde a pop mais dançável ao metal mais extremo, sem deixar de parte linguagens vindas de África, da América Latina e da Ásia traduzidas entre electrónica, rock e folk. Uma composição eclética e inclusiva, sempre conciliada com a representação local e nacional de nomes que pululam e galgam o seu percurso dentro de portas.

O Milhões de Festa regressa então a Barcelos de 20 a 23 de Julho, com nomes notáveis como Graveyard, The Gaslamp Killer, Faust & GNOD, Powell e Meatbodies e a promessa única a que nunca faltou: subir o astral com música de coordenadas e influências tão dispersas e desafiantes quanto soberbamente captivantes. Serão os dias da piscina, da boa onda e da partilha a matar saudades acumuladas ao longo de um ano inteiro de espera.