A integração de elementos europeus e africanos deu origem a uma das expressões mais importantes da cultura brasileira, a sua música. Na virada do século XIX para o século XX, com a propagação do lundu, do frevo, do choro e do samba, a música popular brasileira começou a tomar forma. Desde então, houve um notável crescimento no campo da música erudita e popular no país, obtendo mais autonomia e identidade. Esse aumento na atividade e na qualidade musical levou à criação de diversas escolas, gravadoras, emissoras de rádio e televisão, lojas de instrumentos musicais, orquestras sinfônicas e festivais de música. Logo, a música popular brasileira, tornou-se objeto de apreciação e estudo no Brasil e no exterior.

No atual cenário da música brasileira, sobretudo no que concerne à música de concerto, novos compositores e intérpretes aspiram por uma chance de divulgar o seu trabalho. É grande a demanda por projetos e empreendimentos musicais inovadores. Foi com esse propósito que os músicos Batista Junior, Marina Spoladore e Marco Catto reuniram-se para formar o Trio Paineiras. Com o intuito de promover e encorajar a produção de novas obras para formação mista – violino/viola, clarinete/clarone e piano – o grupo lançou, em Julho desse ano, o seu primeiro CD Trio Paineiras Interpreta Compositores de Hoje (A Casa Discos). O álbum reúne obras dos renomados músicos: Pauxy Gentil-Nunes, Rami Levin, Liduino Pitombeira, Marcos Lucas e Sérgio Roberto de Oliveira, que também foi o responsável pela produção. O trio, formado no Rio de Janeiro, percorreu o significativo repertório escrito a partir do início do século XX.

Sobre os Músicos do Trio

  • Batista Junior: Nascido em Aracajú (SE), o musicista mora no Rio de Janeiro desde 1998. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), graduou-se em Música/Clarinete e concluiu mestrado em Música/Práticas Interpretativas. Entre 2002 e 2012, trabalhou como clarinetista e claronista na Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Em 2011, foi aprovado em concurso público para a UFRJ, onde desde então, leciona Música/Clarinete na Escola de Música/UFRJ. O músico também já tocou como convidado em diversas orquestras do Brasil. Atualmente, desenvolve atividades ligadas à música de câmara e contemporânea, sendo integrante do Abstrai Ensemble – grupo de música contemporânea que combina instrumentos tradicionais com novas tecnologias – e do Trio Paineiras.

  • Marina Spoladore: Nascida no Paraná, a musicista terminou o seu bacharelado na classe do renomado professor Luiz Senise. Desde 2014, atua como professora assistente de piano e música de câmara na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). A pianista já foi premiada em mais de trinta concursos nacionais, sendo muito elogiada pela crítica. Hoje, ela faz parte do grupo carioca Abstrai Ensemble, do PianOrquestra – com o qual vem se apresentando com muito sucesso na Europa e nas Américas – do Trio Paineiras e, além disso, atua em parceria com o violinista Daniel Guedes e com a cantora Veruschka Mainhard.

  • Marco Catto: Nascido em São Paulo, o musicista formou-se pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Como bolsista da Fundação Vitae estudou na Franz Liszt Music Academy em Budapeste e atuou como solista da Sinfônica de Szolnok. Mudou-se para Chicago onde estudou na DePaulUniversity, na classe do professor Ilya Kaler, concluindo o seu mestrado com honras. Nessa época, foi integrante da Civic Orchestra of Chicago e da Advent Chamber Orchestra. Hoje em dia, o musicista atua na Orquestra Sinfônica da UFRJ (spalla), no Trio UFRJ, no Trio Paineiras, no Quarteto Radamés Gnattali (violista) e na Orquestra Johann Sebastian Rio, sendo seu membro fundador.

Repertório

O álbum começa com a peça em dois movimentos Asas, de Rami Levin. O primeiro movimento da composição foi inspirado pelo som do Bem-te-vi; o segundo movimento - escrito em 2015 para o Trio Paineiras - é uma descrição musical de vários pássaros, tendo a voz do Sabiá predominância. A peça explora as chamadas de dois pássaros muito comuns no Brasil.

A segunda obra é Paineira (Barriguda), de Sérgio Roberto de Oliveira. A peça fala sobre a árvore em seus diferentes aspectos. No primeiro movimento evoca a sua ancestralidade africana com a linha do clarone aparecendo como uma “fala de preto-velho”. No segundo descreve a paina, leve e delicada. No terceiro fala sobre a fase de maturidade da árvore, quando ela passa a hospedar passarinhos e seus ninhos. A obra foi composta especialmente para o CD e dedicada ao Trio Paineiras.

A terceira composição é Três Telas de W.M.Turner, de Marcos Lucas. A peça é fruto da enorme admiração do músico pela obra do pintor inglês William Turner (1775-1851). Foi composta em 2016 para o Trio Paineiras. O primeiro movimento é o mais gestual em sua livre representação do gigante mitológico que tenta afundar o barco de Ulisses. O segundo é uma nostálgica elegia à Revolução Industrial e o terceiro é uma interpretação da obra que retrata o velho navio de guerra, The Fighting Temeraire, sendo rebocado para desmonte; uma referência aos últimos anos de vida do pintor.

A quarta obra é Paineiras, de Liduino Pitombeira. A composição para violino, clarinete e piano foi dedicada ao Trio Paineiras. O primeiro movimento possui uma série de doze notas que se descortina no início do movimento. O cromatismo e os gestos bruscos criam uma atmosfera misteriosa e ao mesmo tempo agitada. O segundo movimento é construído a partir de sonoridades quartais que se desenvolvem em uma estrutura recidiva, denotando a ideia de circularidade. O terceiro movimento abrange a agitação do primeiro com vestígios do segundo.

A quinta e última composição do CD é Tríptico, de Pauxy Gentil-Nunes. A obra é composta por três peças quase gêmeas, onde elementos comuns são organizados de maneiras diferentes em cada uma delas de forma a encontrar expressões distintas para o mesmo material. São organizados a partir da mesma estrutura de alturas, chamada de Carrossel, constituída de 12 conjuntos ligados por relações de condução melódica que não se alteram durante toda a obra, tornando as três peças ainda mais conectadas.