Foi nos idos de 2016. Durante uma conversa informal de escritório, fui informada por minha colega de trabalho: as calças skinny estavam com os dias contados. Até então, as únicas calças que eu sabia usar eram jeans e leggings. Por causa da pouca altura e dos quadris largos, achava que calças sociais, estilo alfaiataria, ficavam horríveis e destacavam só o que me desfavorecia. Não me sentia bem, estilosa, nem conseguia usar esse tipo de peça com naturalidade. Ainda não consigo.

Mas saber que o único tipo de calça que eu conseguia combinar numa configuração estética coerente deixaria de ser o item mais básico da moda, depois da camiseta branca e do tubinho preto, me deixou desanimada. Ainda por cima, fui avisada de que as skinny seriam substituídas por calças largas, com inspiração esportiva. Corri para os blogs de moda gringos – e lá estava: a tendência do futuro era oficialmente a modelagem esportiva. Estava saindo nas coleções das semanas de moda europeias, e dos Estados Unidos. A autora de um dos artigos (publicado no refinery 29, se minha memória não falha) também parecia preocupada, sem saber exatamente o que antecipar para nós, pessoas normais, com corpos normais e orçamentos normais também.

Por alguma razão, imaginei algo totalmente sem glamour, deselegante, meio molambento. Algo como as calças cargo do final dos anos noventa, aquelas cheias de bolsos inúteis, que só servem para fazer um volume bizarro, sem o menor charme. O tipo de peça que só deveria ser usado durante atividades pesqueiras, ou de manutenção. Ou talvez nem assim. Estaria o meu senso, minha ousadia fashion envelhecendo, condenados a ficarem desatualizados indeterminadamente?

Decidi, por fim, descobrir a verdade e averiguar os fatos: fui fazer uma pesquisa de campo, uma sondagem em lojas, brechós, sites, vitrines, lookbooks. Foi então que eu descobri que poderia estar julgando precipitadamente a turma dos estilistas luxo, aparentemente decididos a reavivar o look da Sporty Spice.

Primeiramente, foram voltando as pantalonas com elástico na cintura. Confortáveis, soltinhas, mas com o caimento bonito da viscose, do lyocel, linho e afins. Modelagem bonita, que marcava a cintura, mas caia bem larguinha pelas coxas, alongando a silhueta, criando um shape ampulheta, que favorece bastante as mulheres com quadris largos.

Um pouco depois, os modelos foram se diversificando e vieram as pantacourts, que não já não alongavam tanto, mas mantinham o conforto dos materiais e o caimento bacana da cintura alta. Mas o melhor, ainda estava por chegar.

Entre o final de 2016 e começo de 2017 chegou ao mundo real (onde a gente vive e não a Giselle) a cartada final, e a calça jogging finalmente entrou no nosso armário para ficar. Cintura de elástico com amarril, imitando a velha calça de agasalho mesmo, mas com modelagem mais reta e com menos tecido que a pantalona, barra reta, ou às vezes até italiana (super charmosa e na altura ideal – pra quem é mais alta fica parecendo uma capri, pra quem é pequena ela fica na altura certinha do calcanhar). A grande jogada a favor da jogging são os tecidos, cada vez mais nobres e sofisticados, do veludo à seda, que incluem lindas estampas, texturas e acabamentos. As vantagens são quase infinitas: valoriza a cintura sem marcar e criar volume onde não deve; fica maravilhosamente moderna com um cropped, mas também acolhe com carinho aquela camiseta (de 300 anos) da sua banda favorita; te deixa elegante sem ser séria demais com uma camisa por dentro e/ou um blazer; aceita todos os tipos de calçado, do tênis ao scarpin metalizado com salto agulha.

Isso tudo, se levarmos em conta apenas a questão do estilo. Quer saber a principal vantagem mesmo? Conforto, conforto, conforto, nossa, muito conforto. Você tá lá, linda, toda trabalhada na mais fina flor da tecelagem e da estamparia, mas soltíssima, sem nada prendendo, nada pegando em lado nenhum. Que é o que a gente deveria sentir sempre, não é não? Algo para refletir.

Meus jeans que me desculpem, mas quando preciso usar uma calça, não consigo mais nem olhar na cara deles. E acho que nem vou (ou quero! ou devo!) voltar pra essa vida de aperto.