Bettie Page era muito mais do que uma modelo bonita: era simplesmente a melhor. Carismática, ousada, exótica, com um olhar e sorriso inocentes, Bettie brilhou como nunca antes na indústria da moda.

Bettie Mae Page nasceu no dia 22 de abril de 1923 em Nashville, Tennessee. Segunda de seis filhos do casal Walter Roy Page e Edna Pirtle, ela passou seus primeiros anos viajando por todo o país com seus pais em busca de estabilidade financeira. Logo cedo teve de enfrentar as responsabilidades de cuidar de seus irmãos mais novos e ajudar a mãe nas tarefas da casa. O divórcio de seus pais só piorou a situação econômica da família. Sua mãe passou a trabalhar como cabeleireira durante o dia, lavando roupas à noite. Seu pai também teve problemas com alcoolismo e acabou sendo preso.

Aos dez anos de idade, Bettie e suas duas irmãs ficavam em um orfanato enquanto sua mãe trabalhava. Bettie ficava horas inventando penteados e imitando as estrelas de cinema da época. Mas apenas quando lhe sobrava tempo, pois teve que ajudar a mãe a sustentar a família trabalhando como cozinheira e costureira. Sua habilidade na costura lhe rendeu bons frutos pois, anos mais tarde, ela mesma passou a criar seus próprios biquínis e roupas. Aos quinze anos de idade Bettie foi violentada pelo próprio pai, que havia voltado para morar com a família.

Como estudante, foi uma aluna exemplar. Coordenava grupos de artes dramáticas e, como destaque da turma, ganhou uma bolsa de estudos da Peabody College. Depois de se formar ela se mudou para São Francisco com Billy Neal, seu namorado havia já dois anos, se casando logo em seguida, em 1943.

Foi em São Francisco que Bettie conseguiu seu primeiro trabalho como modelo em uma loja de casaco de peles. Bettie pôde então viajar para diversos lugares, inclusive para o Haiti, onde ela se apaixonou pela cultura local.

Em 1947, de volta aos Estados Unidos, Bettie se divorciou de Billy e se mudou para Nova York, onde continuava trabalhando como modelo. Em 1950, durante um passeio, conheceu Jerry Tibbs, um policial apaixonado por fotografia. Tibbs tirou fotos de Bettie e criou sua primeira coleção no estilo pin-up. Tibbs dizia a ela que sua testa era larga demais para usar o cabelo partido ao meio. Bettie então eternizou a franja convexa e lisa conhecida e copiada até hoje.

A partir daí, sua vida mudou completamente.

Ela se tornaria a modelo mais famosa dos anos 50 devido às suas fotos sensuais de estilo boneca. O que lhe rendeu a fama de “rainha das pin-ups”. Sua marca registrada eram os olhos azuis, os cabelos pretos luminosos e a franja, criando um visual exótico e um estilo único que influenciou vários artistas. Bettie amava a câmara, mas a câmara amava mais ainda Bettie.

Tibbs apresentou Bettie a vários fotógrafos. Consequentemente, sua carreira de modelo já estava feita. Apareceu em várias capas de revistas da época como Wink, Eyeful, Titter e participou de vários desfiles de beleza. Com isso, Bettie ganhou o título de “Miss Garota Pinup do Mundo” em 1955, sendo chamada até de “a menina mais perfeita”. Suas fotos apareciam em praticamente todos os lugares. Impossível andar pelas ruas das cidades e não se deparar com um cartaz, uma capa de revista, um álbum de disco ou até mesmo cartas de baralho com o rosto de Bettie estampado neles.

Em 1953, Bettie fez um teste de interpretação com Herbert Berghof, ator, diretor e escritor de teatro. Incentivada por ele, atuou em diversas produções de Nova York e apareceu algumas vezes na televisão. Desenhistas criavam quadrinhos com histórias baseadas em seus filmes.

Em 2005 estreou nos Estados Unidos a cinebiografia de Bettie Page. O filme é dirigido por Mary Harron e Gretchen Mol interpreta Bettie. Apaixonada pelo cinema chegou a afirmar: “Minha atriz favorita de todos os tempos é Bette Davis em Dark Victory. Eu vi o filme seis ou sete vezes e ainda choro”.

Mas do que Bettie gostava mesmo era de ser fotografada ao ar livre, em barcos, e nas praias. Sua inspiração era Luz del Fuego, nome artístico de Dora Vivacqua (bailarina e naturista) que adorava se exercitar e tomar banhos de sol nua. Bettie, sempre que possível, fazia o mesmo. “Eu amo nadar e andar nua. Me sinto livre como um pássaro”.

Os responsáveis pela imortalização de Bettie como pin-up foram os fotógrafos Irving Klaw e Bunny Yeager. No contrato assinado para posar para Klaw, Bettie só receberia seu pagamento mediante poses no estilo bondage (tipo específico de fetiche, geralmente relacionado ao sadomasoquismo). Nas fotos, Bettie era amarrada e espancada por uma dominatrix com trajes de couro e salto alto, atuando em cenários fetichistas de rapto como uma vítima indefesa.

O presidente do Senado da época, Carey Estes Kefauver, não aprovava as fotografias de Klaw devido à apologia do sadomasoquismo. Bettie chegou a prestar depoimentos, pois as suas fotografias provocativas violavam todos os tipos de tabus sexuais. Os negativos de muitas de suas fotos foram destruídos por ordem judicial e alguns foram proibidos de serem revelados.

Com ou sem adereços e figurinos elaborados, ela produziu algumas das mais belas fotos de capas de revistas estampando, inclusive, a capa da mais conhecida de todas do gênero erótico: a Playboy, em 1955. A famosa foto mostra Page usando apenas um chapéu de Papai Noel diante de uma árvore de Natal, piscando o olho para a câmara. Hugh Heffner, fundador da revista, declarou: “Eu a achava uma mulher notável, uma figura emblemática na cultura pop que influenciou a sexualidade, os gostos, a moda. Alguém que causou um impacto tremendo em nossa sociedade”.

Em 1957, Bettie deixou Nova York e se mudou para a Flórida. Casou-se em 1958 com Armond Walterson, desaparecendo aos poucos da vida pública. Alguns culpam Klaw por seu desaparcimento, outros atribuem seu sumiço ao casamento com Walterson. Em 1959, Page se converteu ao cristianismo. Ela tentou se tornar uma missionária mas não foi aceita devido a seus inúmeros divórcios. Seu casamento com Walterson terminou em 1963. Nesse mesmo ano ela voltou a se casar com Billy Neal, seu primeiro marido, mas os dois se divorciaram novamente pouco tempo depois. Ela então voltou para a Flórida, em 1967, e casou-se com Harry Lear. Divorciaram-se em 1972.

Sua carreira estava chegando ao fim. O final de sua vida foi marcado pela depressão. Para proteger sua privacidade, ela dizia que não sabia quem era Bettie Page quando abordada pelos fãs nas ruas.

Em 1979 se mudou para a Califórnia, onde teve um colapso nervoso e foi diagnosticada com esquizofrenia aguda. Ficou alguns meses em um hospital psiquiátrico e depois de uma briga chegou a ser presa por agressão, mas foi inocentada por razões de insanidade e permaneceu sob a tutela do Estado por oito anos.

Em 2008 sofreu um ataque cardíaco do qual não recobrou a consciência e entrou em coma. Uma semana depois, falecia a Rainha das Pin-ups, aos 85 anos de idade, de pneumonia. Foi sepultada no cemitério de Westwood Village Memorial Park. Em sua lápide aparece seu nome como “Bettie Mae Page” juntamente com a legenda “Rainha das Pin-Ups”.

Seu estilo permanece vivo até hoje. Um exemplo disso, na cultura pop atual, é a franja de Katy Perry, alguns modelos de lingerie usados por Madonna em sua fase “Erotica” e, principalmente, toda a carreira da dançarina burlesca Dita Von Teese.