De forma tímida, percebo que, pouco a pouco, as Filipinas começam a aparecem nos roteiros turísticos daqueles que decidem visitar o Sudeste Asiático. É verdade que a maioria daqueles que decidem passar alguns dias nessas ilhas faz parte de um grupo de pessoas que gostam de aventuras, mas as Filipinas oferecem muitos destinos incríveis que merecem ser incluídos no roteiro de qualquer pessoa que goste de paisagens incríveis ou praias paradisíacas.

O primeiro texto que escrevi para o WSI foi sobre Boracay. Desta vez, focarei em na província de Palawan, um arquipélago localizado em Mindoro, e conhecido pela belíssima região de El Nido cuja formação rochosa é similar àquela de Ha Long Bay, no Vietnam.

Existem muitas lendas sobre a origem da palavra "Palawan": enquanto alguns acreditam que seu nome vem do índio "palawans", que significa território, popularmente se acredita que é uma versão da palavra espanhola "paraguas", já que a ilha se assemelha a um guarda-chuva fechado. Outros, ainda, acreditam que ela é uma derivação do chinês "pa-lao-yu", que significaria, em uma tradução livre, terra das baías bonitas.

Três são os principais destinos escolhidos em Palawan: Puerto Princesa, El Nido ou Coron. A região, no entanto, conta com dois aeroportos principais, um em Puerto Princesa e outro em Busuanga, em Coron; para se chegar ao El Nido, além do voo, é necessária outra viagem, ou em barco (desde a cidade de Coron) ou em van (desde Puerto Princesa). El Nido conta apenas com um aeroporto minúsculo, mas poucas aerolíneas voam diretamente para lá e dizem que seus preços são bastante altos.

Embora a formação rochosa de El Nido seja bastante similar a de Ha Long Bay, sua atmosfera é completamente diferente. Se Ha Long Bay lembra a Terra do Nunca de Peter Pan, El Nido é uma região lotada de praias escondidas por trás de rochas ou dentro de cavernas. Se Ha Long Bay lembra um conto de fadas, El Nido parece mais uma região de praias escondidas e secretas, quase como se você fosse a única pessoa do mundo que a conhecesse.

A praia onde ficam os resorts não é muito atrativa, mas vale a pena reservar um dos hotéis ao longo da mesma pela localização: essa é a avenida onde estão muitos dos restaurantes e bares. Existem quatro tours oferecidos por todas as agências na região (deve-se barganhar. Aliás, barganha é um must no país inteiro e na Ásia, em geral) e os lugares a serem visitados oferecem paisagens maravilhosas, tanto dentro quanto fora da água. A última cena de Bourne Legacy, a quarta parte da saga Bourne estrelada por Jeremy Renner, Edward Norton e Rachel Weis, é filmada lá e, segundo o guia de um dos tours, embora o filme a Praia, de Leonardo de Caprio, tenha sido filmado em Koh Phi Phi na Tailândia, El Nido foi uma das inspirações para ele. Cada um dos tours dura um dia e o almoço, com peixes e/ou frutos do mar frescos, está incluído.

Caso o voo seja muito caro, existem formas mais baratas de se chegar à região, mas ambas requerem muita força de vontade: de Coron, se pode pegar um barco cuja viagem dura até oito horas; de Puerto Princesa, existem vans que o levam ao El Nido em uma viagem por uma estrada de terra que dura, aproximadamente, seis horas. Independente da forma escolhida, El Nido é uma das regiões que se tem que conhecer, uma vez que se visita Palawan.

A cidade de Puerto Princesa é a capital da província e, embora ela não tenha nada de muito especial (não se surpreendam: as cidades nas Filipinas, em geral, não são o forte do país) fica a aproximadamente 80km ou 50 milhas do Rio Subterrâneo (ou Underground River), localizado próxima à cidade de Sabang e considerado, em 2011, uma das Sete Maravilhas da Natureza (www.new7wonders.com/).

O parque natural no qual está localizado (Puerto Princesa Subterranean River National Park) é uma reserva natural e a sua praia serve somente para que os barcos possam chegar com os turistas: deitar-se na areia para tomar banho de sol é proibido. Considerado Patrimônio Mundial da UNESCO, o Rio Subterrâneo é navegável por apenas 4,3km de seus mais de 20km de extensão e sua formação inclui enormes estalactites e estalagmites que são iluminadas para que o turista possa apreciá-las.

De Puerto Princesa também se pode fazer o island hopping por Honda Bay que fica bem perto de lá. Essa baía é ideal para se praticar o snorkeling e muitas estrelas do mar podem ser encontradas por lá.

Por último, mas nunca em último, está a região de Coron. Arquipélago (convenhamos: todas as regiões nas Filipinas são arquipélagos!) localizado ao norte da província e conhecida por duas coisas: o safári localizado em Busuanga e os navios afundados localizados próximos à cidade de Coron.

O Calauit Wildlife Sanctuary é uma área de 3,800 hectares considerada santuário da vida selvagem durante a década de 70, no governo do infamo Ferdinand Marcos. As boas linguas dizem que essa foi a resposta de Marcos para o pedido feito pelo governo queniano a International Union for Conservation of Nature para a ajuda na conservação da sua vida selvagem. As más linguas dizem que foi investimento do governo filipino para incentivar o turismo. Independente da versão dos fatos, esse santuário recebeu, no final da década de 70, 104 animais selvagens africanos de 8 espécies distintas, entre eles girafas, empalas, zebras e gazelas. De todos eles, somente as zebras e as girafas sobreviveram e se reproduziram: as outras espécies africanas não se adaptaram à região e se extinguiram no final da década de 90.

Hoje, no entanto, além das zebras e girafas, é possível encontrar alguns animais que fazem parte da vida selvagem local como crocodilos, o veado de Calamian, o gato-almiscarado e o porco selvagem.

Do outro lado da ilha, encontra-se a cidade de Coron. A verdade é que a Coron pode designar a municipalidade, a cidade que fica na ilha de Busuanga ou a ilha localizada em frente à cidade, de domínio da população indígena local chamada Tagbanwa (ou Tagbanua), o que é bastante confuso.

Enfim, a região é linda e oferece uma infinidade de coisas para se fazer. Ainda que a cidade não tenha praia, a Malcapuya Island, uma ilha de areia branca sem construções, fica a um passeio de barco de distância e é um lugar onde se pode esticar o pareô e curtir o sol. O importante é lembrar-se de levar água e comida porque, como disse, não há construções na ilha.

A região ou arquipélago de Calmian é destino de muitos mergulhadores por suas belas paisagens subaquáticas. As maiores atrações da região, no entanto, são os barcos japoneses naufragados: em 24 de setembro de 1944, uma frota de navios japoneses que ali se escondia foi afundada por um ataque americano.

Quando imagino a cena, chego a arrepiar: um dia, uma calma região que se desenvolveu por seu potencial de mineração, desperta por barulho de bombas. De repente, da calma faz-se o caos, as pessoas gritam e correm de um lado para outro. Barcos são afundados, levando sua tripulação para baixo da água. E, do nada, de repente, faz-se o silêncio novamente. E os barcos que antes estavam aportados na baía de Coron não estão mais lá.

Esses barcos estão localizados a profundidades que variam de 3m a 43m. Embora a maioria só possa ser visitada por mergulhadores, dois deles (o Lusong Gunboat Wreck e o Skeleton Wreck) podem ser vistos com máscaras de snorkel já que estão muito próximos à superfície: é incrível ver como a natureza volta a dominar o que foi deixado pelo homem já que hoje, apenas 60 anos após o naufrágio, esses barcos tornaram-se corais incríveis.

A ilha de Coron tem 13 lagos considerados sagrados pelos locais Tagbanwas e apenas dois deles estão abertos ao público: o Barracuda Lake (nomeado em homenagem à barracuda que, supostamente, ali mora) e o Kayangan Lake, um lago de água doce de onde se tem a vista de um dos cartões-postais mais famosos da região.

Para se visitar e conhecer bem a região é necessário o mínimo de uma semana. E vale à pena. Como sempre comento, viajar pelas Filipinas pode não ser fácil, mas os destinos costumam ser incríveis.