Em fins da Idade Média e começo da Idade Moderna, importantes cidades mercantis, em sua maioria do norte da Europa, firmaram uma aliança que ficou conhecida como Liga Hanseática. Inicialmente de natureza essencialmente econômica, tornou-se com o tempo uma aliança política. Enquanto existiu (séc. XIII ao séc. XVII), a Liga Hanseática comandava o comércio do norte da Europa, e entre os seus membros, estavam cidades como Londres e Novgorod (Rússia). Sendo, contudo, as mais importantes Hamburgo e Lübeck, a qual, na época, era a cidade sede da Liga. No começo do século XVI em decorrência de problemas internos, reformas políticas e sociais, em parte advindos da Reforma Protestante, a Liga começou a decair. A despeito do declínio da Liga várias cidades ainda permanecem ligadas à Liga. Hamburgo, Bremen e Lübeck, ainda hoje, levam o título oficial de “Cidades Livres e Hanseáticas”.

Conhecida como a rainha das cidades hanseáticas, Lübeck possui pouco mais de 215 mil habitantes, e está localizada ao norte da Alemanha, sendo a maior cidade do estado de Schleswig-Holstein. É uma cidade independente fundada em 1143, porém tem sua área ocupada desde o século I a.C. Lübeck, cercada de água por todos os lados, possui um dos maiores portos da Alemanha e o maior do Mar Báltico, em Travemünde. A cidade foi amplamente destruída durante a 2° Guerra Mundial e demorou anos para ser reconstruída. Durante séculos, Lübeck preservou a atmosfera de uma cidade medieval com mais de 1800 edifícios históricos incrivelmente preservados e restaurados do século XII ao XVIII. Sua arquitetura de enorme importância histórica e artística foi reconhecida pela UNESCO em 1987, que a declarou Patrimônio Histórico da Humanidade.

A cidade possui o título de capital cultural do norte e teve entre os seus moradores três ganhadores do Prêmio Nobel: Thomas Mann (1871-1955) que ganhou o Nobel de Literatura em 1929; Willy Brandt (1913-1992), ganhador do Nobel da Paz em 1971 e Günther Grass (1927- 2015), ganhador do Nobel de Literatura em 1999. O escritor Thomas Mann e o político Willy Brandt nasceram em Lübeck. O escritor Günther Grass mudou-se para Lübeck em 1968, onde permaneceu até os seus últimos dias. Lübeck também é conhecida como a cidade das “Sete Torres”, devido às enormes torres de suas cinco principais igrejas. A igreja de Santa Maria é conhecida como a terceira maior de toda a Alemanha, enquanto a Catedral de Lübeck, tem torres que atingem mais de 100 metros de comprimento.

A deslumbrante prefeitura da cidade começou a ser construída em 1230, no famoso estilo gótico de tijolos ou gótico báltico, chamado de ”Backsteingotik”, sendo a prefeitura de tijolos mais antiga da Alemanha. As construções em tijolos eram recorrentes em muitas regiões da Europa, mas no norte da Alemanha elas deram origem a um estilo próprio, tornando o Norte distinto do resto da Alemanha. Os tijolos são sobrepostos de um jeito a formar contornos e formas surpreendentes. O uso do tijolo impediu a elaboração de uma decoração figurativa associada à arquitetura, porém houve um intenso uso de outros tipos de elementos, como a subdivisão das superfícies com frisos de diferentes padrões e o contraste entre diferentes tipos de tijolos e linhas de gesso branco a fim de conseguir efeitos decorativos criativos.

Esse estilo foi característico de um grande número de abóbadas de igrejas da época, com a utilização de contrafortes ao invés de arcos de apoio nos prédios. Considera-se que a Igreja de Santa Maria (Marienkirche) em Lübeck, construída no estilo “Backsteingotik” a partir de 1250, serviu de modelo para as igrejas tipo basílicas da região, tendo grandes basílicas deste tipo também construídas em Wismar, Stralsund, Riga, Malmö, entre outras cidades. Esse estilo arquitetônico foi utilizado não apenas nas construções de igrejas e prefeituras da região, mas em portões, casas e mansões, formando desenhos fascinantes.

Lübeck também é mundialmente famosa como a cidade do Marzipan, um doce de origem árabe, preparado a partir de uma pasta feita de amêndoas moídas, açúcar e claras de ovos, que pode ser moldada e adicionadas essências. Inicialmente, quando os barcos dos mercantes hanseáticos traziam especiarias e outros ingredientes apreciados para o Norte, apenas os boticários eram autorizados a negociar com açúcar e especiarias. Posteriormente, quando a confeitaria tornou-se um comércio que os primeiros “confeiteiros” foram autorizados a produzir e vender o marzipan, porém devido ao seu elevado valor na época, seus clientes eram apenas reis e pessoas ricas. Apenas na primeira metade do século XIX, que a população em geral, pode experimentar o marzipan em casas de café, pois como o açúcar começou a ser extraído da beterraba, a iguaria tornou-se um pouco mais acessível. Em 1806, Johann Georg Niederegger abriu uma loja especializada em marzipans em Lübeck, a qual já forneceu o produto para reis e czares. Atualmente, Niederegger é a mais famosa produtora de marzipan de Lübeck, e um dos seus principais pontos turísticos, exportando os seus produtos para todo o mundo.

A cidade ainda dispõe de mais de 22 museus para serem visitados, localizados, em sua maioria, na parte antiga da cidade, a qual pode ser facilmente explorada a pé. Lübeck, a rainha hanseática, não decepciona em beleza e cultura, proporcionando a cada visitante um roteiro rico em história, arte e gastronomia.