Logo na chegada, o choque é inevitável. Tudo que já te contaram sobre o país é verdade - e inacreditável. Bruno Calzavara

Imagine mais de um bilhão de pessoas se amontoando num território 2,6 vezes menor que o do Brasil. Na realidade, nem é preciso imaginar: segundo país mais populoso do mundo, a Índia une misticismo, espiritualidade e muita, muita gente. Mas vamos por partes.

Ninguém fica em cima do muro quando o assunto é a Índia. Eu, por exemplo, odiei o lugar. Isso não significa, entretanto, que não reconheço a riqueza do subcontinente. Porém, as diferenças culturais e sociais entre nós e eles pode chegar a níveis insuportáveis para os não-iniciados (como eu).

Logo na chegada, o choque é inevitável, embora sua primeira cidade seja provavelmente a capital Nova Délhi, em tese a mais cosmopolita e melhor estruturada do país. O aeroporto internacional Indira Gandhi, eleito o melhor do planeta na sua categoria em 2015, de fato dá essa impressão, mas a situação muda drasticamente na hora de enfrentar o mundo lá fora.

Uma das coisas que mais procuramos quando estamos de férias é sossego, paz de espírito, relaxamento. Infelizmente, isso é bem difícil de encontrar na Índia, embora recebamos essa vibe zen espiritual das religiões de lá. Os pouco mais de 8 milhões de turistas estrangeiros que desembarcam no país (no Brasil são pouco mais de 6 milhões) são constantemente alvos de motoristas de tuk tuk, pedintes, dono de lojas, vendedores de caldo de cana com sal (?), entre outros.

O trânsito indiano é um capítulo à parte. Quando (ou se) você um dia visitar a terra de Brahma, Vishnu e Shiva faça o teste: tente contar quantos minutos você consegue andar pelas ruas de qualquer cidade do país sem ouvir nenhuma buzina. Dificilmente o período superará 3 segundos (!). Outro tópico que pode causar certa revolta é a inexistência por completo de calçadas, item que nunca damos seu devido valor por aqui. Lá, os locais e os visitantes disputam a tapa (quase literalmente) um lugar para exercer o famoso direito de ir e vir com carros, motos, tuk tuks, bikes, vacas, porcos (!) etc.

Nem tudo, no entanto, é desgraça. A Índia é o berço de quatro grandes religiões - hinduísmo, budismo, sikhismo e jainismo - e faz jus a seu passado sacro. O país está repleto de templos, o que obriga leigos no assunto a prestar bastante atenção em cada detalhe da construção para tentar decifrar qual é a religião em questão. Em tempo: os sikhs são aqueles que usam turbante no cabelo, enquanto um dos símbolos do jainismo é a suástica, que também é adotada por diversas outras crenças do Oriente, mas que é mais conhecida para nós por sua associação ao nazismo.

Os monumentos (religiosos ou não) são os maiores atrativos concretos do país. O mais importante dele, é claro, é o singelo mausoléu chamado Taj Mahal. A visão de uma das edificações mais admiráveis do planeta pode ser a maior emoção que você sentirá na Índia. Outros locais menos conhecidos, porém, são capazes de provocar sensações semelhantes. O complexo de Akshardham, por exemplo, localizado na capital indiana, é o maior templo hindu do mundo e digno de tal título. Dica: programe sua visita de modo a estar lá para o show das águas, que acontece ao anoitecer. Apesar de não conseguirmos entender nada do que é dito, a beleza do espetáculo compensa.

Entre ruas abarrotadas de gente e construções impressionantes, a Índia passa seu recado de maneira clara e direta: o país deles, assim como o nosso, não é para principiantes. E isso vai te fazer odiá-la. Ou amá-la.