Veja o mundo num grão de areia,
veja o céu em um campo florido,
guarde o infinito na palma da mão,
e a eternidade em uma hora de vida!

(William Blake)

Agosto, férias. Destino: Bolonha!

Tinha acabado de me sentar no avião quando me apercebo da personagem que iria sentar-se ao meu lado. Na verdade parecia saída de um conto; olhos azuis gigantes e doces, cabelo aloirado apanhado a meio, idosa mas vestida à hippy, magra e com uma saca que parecia trazer este mundo e o outro lá dentro. A primeira coisa que tira é um livro. Abre-o e olha para mim. Fixei-me no título: Nel piccolo l`mmenso, de Claudia Casanovas. Atraíu-me igualmente o sub-título: Ricerca spirituale e vita quotidiana. A partir daquele momento, percebi que aquele livro era um sinal qualquer e que teria que ver com o meu destino de chegada: Bolonha.

Não me enganei.

Depois de 3 dias na cidade onde Dante e Petrarca estudaram, verificamos que Bolonha está para a Europa como o Egipto está para o Mundo. É um berço cultural imenso e surpreendente!

O centro histórico domina-se a pé mas os seus tesouros levam tempo a assimilar e a descobrir. Comecemos pela sua Universidade; considerada a mais antiga do mundo ocidental, fundada em 1088, sendo na Idade Média uma das mais importantes do Mundo com as suas escolas de humanidades e direito Civil. Quando entramos no Anfiteatro de Anatomia viajamos no tempo até ao primeiro cirurgião plástico simbolizado numa das esculturas da sala toda em madeira. Viajamos no tempo quando vamos em direcção à biblioteca e o nosso olhar perde-se na infinidade de livros que percorrem corredores ad infinitum. Viajamos no tempo quando nos deparamos com um relógio de sol no tecto da Basílica de S. Petrónio, que lê as horas num meridiano traçado no solo do templo. Viajamos no tempo quando a Guia nos diz que ali viveu o Papa S. Gregório que instaurou o cântico Gregoriano e que o calendário como o conhecemos hoje nasceu ali mesmo, em Bolonha.

Entre mercados velhos, torres inclinadas por causa da água que jaz por debaixo da cidade, um Urban Center com a Biblioteca Borsa gigante e a sua Praça coberta Umberto Eco, tagliatelis e pastas e mais pastas; gelados e vinhos deliciosos, temos Ferraris e Lamborginis a curta distância e um écran majestoso no meio da Piazza Majori porque há Festival de cinema e a noite de Bolonha transforma-se; milhentos olhos numa mesma direcção; depois, limonadas no Café Victor Emmanuel e pirilampos no ar!

É, de facto, Nel piccolo, l`imenso, que levo desta cidade quando regresso ao Porto.

Bolonha é uma Mandala; capaz de nos religar ao Universo num ápice e de nos fazer redescobrir a nossa essência ao sonharmos acordados com mil e uma hipóteses de Ser; de ser Si Mesmo como um Outro, num outro tempo e lugar. Bolonha é uma viagem entre caminhos subtis, visíveis e invisíveis, entre arcadas que levam ao Santuário de S. Luca e arcadas que conduzem às excêntricas livrarias da cidade e aos sentidos ocultos do verbo sentir!

Há que ler esta cidade, interpretá-la, avaliá-la, para depois podermos fazer o mesmo connosco e sermos mais humanos e mais felizes!