Dinheiro…incontornável quando se fala em empreender, não é verdade? Uns não têm dinheiro, outros ganham muito, alguns perdem tudo e apenas poucos sabem o que fazer com ele. Mas qual é verdadeiramente a função do dinheiro nos negócios?

Para uns é uma prisão

Querem empreender, sonham em mudar de vida, ser livres dos seus empregos com horários rígidos e ordens a serem cumpridas, querem ter poder de decisão e fazer a diferença… e deixam-se ficar por aí. Pelo querer, sonhar, desejar… “É demasiado arriscado”, dizem…acham melhor ficar pelo plano B, pelo emprego “seguro”, pelo salário que vai pagando as contas e alimentando o conforto desconfortável de quem vai deixando a vida passar ao lado. Não têm dinheiro para investir, pois acham que começar o negócio com que sonham é sempre muito caro. Para essas pessoas, o dinheiro é uma prisão. Obriga-os a trabalhar e impede-os de fazer o que realmente querem.

Para outros é uma obsessão

Empreendem para ganharem muito dinheiro, ambicionam riqueza, liberdade financeira. Inspiram-se em casos de “sucesso rápido” e atiram-se de cabeça para logo a seguir desistirem, porque afinal o “sucesso rápido“ dos outros, para eles demora muito, dá muito trabalho e não dá assim tanto dinheiro. Não entendem que cada um tem o seu percurso, que a maior parte dele é invisível aos olhos do público, e que é a longo prazo que se conquista a tão desejada liberdade financeira. Não aprenderam a apreciar o processo, os altos e baixos, as aprendizagens e os desafios. Não aprenderam que empreender é para mudar a nossa vida, sim, mas enquanto mudamos a vida dos nossos clientes.

Entre as pessoas obcecadas pelo dinheiro há também as que já têm um negócio rentável e se esquecem que para continuarem competitivas, precisam de continuar a reinvestir, a melhorar, a inovar. Ficam agarrados à riqueza da empresa como se fosse sua, como se agora que a conquistaram não a pudessem voltar a perder, e acabam por levar a empresa à falência.

E para outros é uma ferramenta

Uma das coisas mais interessantes no documentário “Elon Musk: The Real Life Iron Man”, da Netflix, é o espanto e admiração com que os entrevistados (todos pessoas que trabalham ou trabalharam de perto com o empreendedor) mencionam que Musk não para. Poderia passar a vida toda sem trabalhar depois de vender o Paypal, mas prosseguiu e investiu grande parte do seu dinheiro na criação da Tesla e da Space X. Mesmo sendo milionário, trabalha incansavelmente e usa o dinheiro apenas como uma ferramenta para pôr em prática a sua visão do mundo, bocadinho a bocadinho. Vemos esse mesmo padrão em tantos outros gigantes do empreendedorismo, como Bill Gates, Steve Jobs, Richard Branson e Daniel Ek.

E isso leva-nos, ou devia levar-nos, à reflexão sobre o que é empreender, o que é um empreendedor? Não será um empreendedor precisamente uma pessoa cheia de ideias, de vontade de fazer acontecer, de mudar o mundo à sua maneira? Uma pessoa que não se fica pelas ideias e realmente as executa, uma e outra vez, até que tenham sucesso e lhe permitam perseguir a próxima ideia, o próximo projeto?

Neste documentário, o que mais me espantou foi o espanto das pessoas. O que queriam que ele fizesse? Fosse beber martinis na praia durante os próximos 40 anos? E fazia o quê com todas as ideias e todos os projetos que lutam na sua cabeça para ver a luz do dia? Enfiava-os numa gaveta e via o seu espírito empreendedor definhar lentamente, como uma alga a secar na areia da praia paradisíaca, onde devia passar os dias? Claro que o dinheiro é apenas uma ferramenta! E se para ti não for, não estás a pensar da maneira certa.

O dinheiro, ou a falta dele, não te está a impedir de fazer nada. É a tua crença de que não podes avançar porque não tens dinheiro que chegue que te está a impedir. E ainda assim, tantos, se não todos os grandes exemplos que mencionei anteriormente, começaram numa garagem ou pouco mais do que isso. Compreendo que isso te possa parecer distante e inalcançável. Eram outros tempos, apanharam a crista da onda tecnológica, são excepções. Não somos, todos nós empreendedores, as excepções? As excepções ao conformismo de uma vida mecanizada e sem sentido?

Sejamos excepções

Vamos então para um exemplo mais terra a terra, mais atual e mais pessoal para mim? Aqui posso falar na primeira pessoa. Este ano, o Synergy Porto, o meu espaço de cowork no Porto, comemora 5 anos de negócio. E que 5 anos foram, com 2 de pandemia… Quando quisemos começar, não tínhamos dinheiro suficiente para investir no imóvel, remodelação, mobiliário, decoração e marketing. Podíamos ter desistido, mas não o fizemos porque queríamos mesmo criar um local onde as pessoas se sentissem em casa, um ambiente que as inspirasse a trabalhar nos seus projetos e uma comunidade onde sentissem que pertencem, onde todos colaboram e se entreajudam.

Por isso, começámos como podíamos, fizemos nós mesmos a maioria das obras e mobiliário, com a ajuda de amigos e familiares. Demorou mais de um ano a ter o espaço pronto, e começámos com poucas mesas e pouca mobília, até porque qualquer negócio deve ir testando o mercado antes de investir a fundo. Ao longo dos últimos 5 anos fomos melhorando continuamente, já com clientes a pagar e a dar-nos feedback sobre as suas necessidades. Colocámos este ano (sim só 5 anos depois), a última mesa no openspace, embora soubéssemos desde o início qual era a lotação máxima.

E se hoje podemos dizer com orgulho que temos um dos coworks do Porto com os melhores testemunhos de clientes e uma comunidade muito unida. Se podemos dizer que quintuplicamos a faturação do ano passado face ao ano anterior e que, este ano, em 2 meses e meio, já faturámos quase metade da faturação do ano anterior. É porque há 6 anos e meio não deixámos que a falta de dinheiro nos impedisse de começar. E durante todos estes anos fomos reinvestindo e melhorando, não só o espaço físico, mas a nossa ligação com os nossos clientes. Não começámos com tudo pronto, bonito e brilhante. Não começámos com tudo o que imaginávamos no nosso negócio. Mas começámos e continuamos até hoje, e isso fez toda a diferença.

Qual é a tua relação com o dinheiro? É um potenciador das tuas ideias ou o motivo pelo qual as fechas dentro da gaveta? Se também és ou queres ser uma excepção, vamos conversar nos comentários.