Há exatos oito anos, em 05 de novembro de 2015, o Brasil presenciou um dos maiores desastres ambientais do mundo: o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, Minas Gerais. Cerca de 34 milhões de metros cúbicos de lama resultantes da produção de minério de ferro foram jogados ao meio ambiente, trazendo dor e devastação aos moradores locais.

Foram 663 quilômetros de rios e córregos atingidos e 1.469 hectares de vegetação comprometidos. No distrito de Bento Rodrigues, 207 de 251 edificações foram soterradas. Com o acidente, a enxurrada de rejeitos rapidamente se espalhou pela região, deixando mais de 600 famílias desabrigadas e 19 pessoas mortas.

Em questão de horas, a lama chegou ao rio Doce, cuja bacia é a maior da região Sudeste do País - área total de 82.646 quilômetros quadrados – e provocou a morte de milhares de peixes e outros animais. Além disso, o fornecimento de água para os moradores de cidades abastecidas pelos rios da região, como Governador Valadares, em Minas Gerais, teve que ser temporariamente interrompido, sendo retomado dias depois, quando laudos de órgãos técnicos do governo descartaram a contaminação da água por materiais tóxicos.

A lama avançou pelo rio com grande velocidade, chegando ao Espírito Santo em menos de cinco dias. No dia 21 de novembro de 2015, alcançou o mar em Linhares onde blocos de contenção foram posicionados na foz do rio para controlar o impacto ambiental da chegada da lama ao mar.

Para comunidades em que 98% da população baseava sua alimentação fortemente em peixes e mariscos – e que 66% pescavam o próprio alimento – o impacto da lama na pesca local foi avassalador. As tradicionais espécies de guaibira, manjuba, robalo e pescadinha garantiram durante o verão anterior uma renda relevante para as famílias de pescadores atravessarem o ano. No entanto, o verão que se seguiu ao desastre foi igualmente desastroso. Mesmo o pescado capturado antes da chegada da lama não teve saída ou foi vendido a um preço muito baixo.

Em 25 de janeiro de 2019, os brasileiros viram a destruição ambiental causada pela ganância do homem se repetir após o rompimento da barragem I, na mina Córrego do Feijão. O mar de lama se espalhou pela cidade e destruiu casas, plantações, estradas, fauna e flora local. No momento do desastre, cerca de 300 funcionários trabalhavam no local e, devido ao inesperado rompimento e a forte velocidade da lama, houve 241 vítimas fatais.

Segundo uma análise do Ibama, 133,27 hectares de vegetação nativa da Mata Atlântica foram devastados assim como 70,65 hectares de Áreas de Preservação Permanente (APP). Além disso, um dos afluentes do Rio São Francisco – o Paraopeba foi tragicamente contaminado. De acordo com estudiosos da área, o impacto ambiental do rompimento da barragem de Brumadinho foi tão devastador que ainda não pôde ser totalmente mensurado.

É notável que os danos causados por este acidente vão muito além dos prejuízos econômicos. A falta de responsabilidade socioambiental por parte da mineradora destruiu a coesão social dentro das comunidades, a afetividade, a cultura e a saúde das pessoas. Como consequência, houve alteração das atividades rotineiras dos atingidos, como o convívio laboral, familiar e social, além da ocorrência de altos prejuízos locais na agricultura, comércio/ turismo e no lazer comunitário, aumento nos gastos domésticos e perda da autonomia financeira ou dependência da empresa, ampliação dos conflitos entre vizinhos, amigos e familiares, desemprego, endividamento, abalo emocional e males de saúde.

Fica claro que o egoísmo e a ganância humana atingem patamares que superam o entendimento comum. A impunidade brasileira é outro fator de extrema importância nesses dois casos, primeiro porque a empresa cometeu crime ambiental e de homicídio por duas vezes e, segundo, pois passados mais de anos desses desastres, ninguém foi preso ou se quer condenado. Por isso, faz-se necessário que haja renovação, não só em que toma decisões importantes, mas também no sistema de justiça em si. O maior patrimônio de uma empresa não é o seu valor de mercado ou o quanto ela lucra por ano e sim seus colaboradores, que muitas vezes perdem a vida pela cobiça humana.

Desejo toda a minha solidariedade aos familiares das vítimas dos desastres de Mariana e Brumadinho.