Qual é a diferença de assistir a um show da Ludmilla em alto mar para as apresentações que costumam arrastar multidões em terra firme pelo Brasil? O conforto, a qualidade do som, o repertório ou a tal “experiência premium”?

Os cruzeiros temáticos tornaram-se a nova tendência por aqui. Nomes como Ana Castela, Maiara e Maraisa, Raça Negra, Bell Marques, Luan Santana e Roupa Nova já trataram de abocanhar sua fatia e prometem impulsionar o número de novos passageiros neste segmento de lazer.

Embora o último relatório da CLIA Brasil (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos) apresente dados bem equilibrados entre as faixas etárias que costumam embarcar em cruzeiros, popularmente, esse tipo de programa ainda conta com a fama de ser voltado para idosos ou para passeios em família. A diversificação de atrações encabeçadas por figuras dos mais diferentes estilos ajuda a desvincular essa percepção e atrair um público mais jovem a viajar em alto-mar.

A grosso modo, gosto de equiparar a moda dos cruzeiros temáticos com as residências feitas em Las Vegas, nos Estados Unidos, onde, por um determinado período, o artista apresenta um show exclusivo em algum hotel cassino da região. Esse modelo até então era adotado por cantores que tinham um apelo a um público mais velho como Frank Sinatra, Barry Manilow, Celine Dion e Cher.

A reviravolta veio em 2013, quando Britney Spears estreou sua residência por lá e contribuiu para a revitalização da cidade do pecado, ganhando até mesmo um feriado local em sua homenagem. Depois da princesa do pop, outros nomes como Bruno Mars, Lady Gaga, Adele, Mariah Carey, Jennifer Lopez e U2 aderiram à tendência.

No Brasil, os cruzeiros temáticos tiveram uma rota semelhante a esse formato. Roberto Carlos deu o pontapé inicial em 2005, com o Emoções em Alto-Mar, que até hoje é um verdadeiro sucesso. Três anos depois, foi a vez da dupla Zezé Di Camargo e Luciano lançarem o Navio ZCL. Mas foi a partir de 2018, quando Wesley Safadão estreou o WC on Board, que outros projetos semelhantes surgiram em uma quantidade maior que em ciclos anteriores.

Esses projetos propiciam aos artistas mergulhar os fãs em seu universo, vivendo quase como uma realidade paralela durante a estadia, trazendo a tal “experiência premium” e deixando seu público cada vez mais encantado. Um bom exemplo é o Navio da Xuxa. Além dos shows da rainha dos baixinhos e seus convidados, os passageiros puderam assistir aos seus filmes no cinema do navio, conhecer os figurinos icônicos e prêmios em uma exposição, além de ter a possibilidade de tirar uma foto com a própria apresentadora. Basicamente, 72h respirando Xuxa.

Em outro extremo, podemos destacar também o projeto Ney em Alto Mar, do jogador de futebol Neymar. Embora não seja um artista, ele utilizou o seu lifestyle como base para as atrações que estiveram à disposição do público no MSC Preziosa, que puderam se sentir praticamente um “parça” nas famosas festas privadas organizadas pelo atleta. Em uma espécie de festival, 29 nomes entre cantores de pagode, funk, trap, rap, DJs e humoristas se apresentaram no navio.

Seguindo essa mesma estratégia, as marcas também usam os cruzeiros temáticos como forma de reforçar ou comunicar ao público a sua identidade. É o caso do Gloob, canal de TV paga do Grupo Globo, que há dois anos promove o projeto Navio Gloob, com gincanas, shows, além de reproduções dos cenários das séries do canal como “Detetives do Prédio Azul” e “Bugados”. A Chilli Beans também segue esse ritmo, e claro, as rádios também já estão aproveitando para levar seus famosos festivais para o oceano.

Em todo caso, quem ganha mesmo é o turismo. De acordo com a CLIA Brasil, a temporada de cruzeiros 2022/2023 foi a maior no setor nos últimos 10 anos, com impacto econômico de aproximadamente R$3,6 bilhões.

De uma coisa eu tenho certeza: Essa onda está longe de passar e muitos outros nomes ainda embarcarão nessa estratégia seja para fidelizar seu público ou para garantir mais alguns milhões.