Você já participou da brincadeira: o que eu vejo?

Muito comum no meio escolar e em treinamentos, também é utilizada em brincadeiras informais e rodas de conversa.

Alguém pergunta: O que você vê? O outro responde: Eu vejo...

As mais possíveis e improváveis respostas podem surgir, onde para uma criança de 4 anos poderemos ter a resposta: você, papai, mamãe, tio... etc. Para crianças de 6 anos, ela olhará ao lado, ao redor e poderá citar algo bem próximo ou falar: seu batom, seu boné, seus óculos, pois são capazes de identificar detalhes.

A partir daí, cada criança terá uma resposta e, como já foi dito, podem ser as mais improváveis possíveis.

Um adolescente terá falas talvez até confusas. Os namorados num ímpeto apaixonado falarão: você, meu amor, a menina mais linda do mundo, o amor da minha vida, a pessoa mais maravilhosa que já conheci, e assim vai. Em outro contexto, onde o idoso está inserido, as falas poderão ser muito desconexas, como: quem eu gostaria de ver não está mais aqui, meu mundo está triste, não consigo ver muita coisa, minhas vistas estão ruins.

Observe que para cada momento e faixa etária da vida, as respostas são diferentes e com tonalidades diversas.

Aqui vamos retratar possibilidades de respostas em settings terapêuticos.

Quando abordamos em um ambiente profissional, longe dos amores e desamores, os holofotes viram sobre si, pois agora é sobre ele (a), sobre o que está acontecendo recentemente, atualmente, no momento.

O intuito nesse momento é que ele (a) sinta-se à vontade para expressar seus sentimentos, suas queixas, suas felicidades e suas emoções e quando vamos nos reportar a essa pessoa com a pergunta o que você vê? Modificamos para como você se vê?

Impressionante como as respostas mudam, pois a maioria poderá responder, não sei, sei lá, não consigo me ver, uma pessoa destruída, estou acabada (o), com saudades, sem forças, lutando, muito mal. Observe que as respostas são de cunho negativo, enquanto outras poderão de forma positiva dizer: muito bem, feliz, apaixonado (a), ansioso (a), com expectativas, a pessoa mais sortuda do mundo, bonito (a), vigoroso (a), com desejos, e assim por diante.

A pergunta realmente tem um cunho de tentar entender o que a pessoa está sentindo naquele momento e a partir daí direcionar um atendimento coerente com a situação atual. Uma das minhas falas no setting terapêutico sempre foi: “você está no seu melhor momento”, sendo esse um chavão que utilizo em todas as situações, sendo elas boas ou não tão boas assim.

Um dos meus primeiros clientes em setting terapêutico (ele irá ler essa conversa e saberá que foi ele... rs) foi um rapaz que inicialmente não queria passar comigo, mas sim com a Natália, minha esposa, que também é Psicóloga e que foi super recomendada para ele por uma amiga que já estava em acompanhamento com ela, mas que por motivos de agendas de ambos acabou iniciando sua terapia comigo.

Quando conversamos, ele apresentava irritabilidade com o trabalho e de certa forma com a vida, e sendo estudante de Psicologia, sentiu a necessidade de estar em terapia.

Ao término de toda sessão eu falava “você está no seu melhor momento”, sei que muitas vezes ele não aceitava (me confidenciou depois que tinha vontade de me xingar), mas sempre retornava e ao fim da sessão ouvia a mesma fala.

Hoje formado em Psicologia e iniciando seus atendimentos, tivemos a oportunidade de conversar e acabei colocando para ele (agora colega de profissão) as mudanças ocorridas na minha vida, onde fui desligado de um cargo. Ouvi dele: “você está no seu melhor momento”, - eu sempre quis dizer isso (risos), agora falei!

Brincadeiras à parte, o setting terapêutico é um espaço reservado no qual a relação do cliente e terapeuta acontece, com limites, risos, choros, descobertas e em alguns casos, silêncio.

O intuito dessa conversa é falar que todo terapeuta é um mesclado de sentimentos, empatia, emoções, felicidades e tristezas, pois nem todos os casos correm como queremos, sendo que na verdade não somos nós que definimos o que será cada sessão, por mais que estejamos preparados para ela, pois cada dia é um dia, cada momento é único e exclusivo e, portanto, a afinidade, confiança e ética no setting são características definidoras de um bom terapeuta.

Se você é um psicólogo, pode concordar comigo, ou também não, pois como já dissemos, são situações pontuais de cada momento. Se você é um estudante de Psicologia ou de profissões similares, interessem-se pelo assunto, sintam a importância do viés para um bom atendimento. Se você está pensando em uma terapia, faça! Se de alguma forma tocou seu coração para o bem, que bom! Se não tão bem assim, me perdoe, mas lembre-se “você está no seu melhor momento”, mesmo que as distrações e adversidades digam ao contrário.