Os tempos modernos têm proporcionado inúmeros avanços nas mais variadas áreas do convívio humano. Nas interações sociais, adventos tais como a internet, o telefone celular e seus respectivos aplicativos, como por exemplo o FaceTime, Whatsapp, Skype e tantos outros, aproximam as pessoas, ampliam a capacidade, velocidade e as formas de se relacionar com o outro. A mesmo modo, em relação aos estudos, nos permite acessar plataformas tais como o Youtube, Google Acadêmico, e mais uma infinidade de plataformas digitais que incluem bibliotecas com livros, artigos e periódicos totalmente gratuitos, o que amplia significativamente a capacidade de se aprender nos tempos modernos. Outra área que merece destaque é a área profissional, isto é, relativa ao mercado de trabalho. Hoje em dia tornou-se relativamente fácil acessar vagas de trabalho (o que não necessariamente significa que seja fácil conquistar um trabalho, devido à ampla competividade ocasionada justamente por essa comodidade).

Nesse ambiente, é inegável que a tecnologia digital beneficiou a humanidade. Contudo, ao mesmo tempo que é benéfica, esta nova era nos traz uma série de dificuldades. Apesar dos benefícios no sentido das possibilidades de autodesenvolvimento dos indivíduos, os quais podem utilizar meios digitais para realizar networking (conhecer e se conectar com outras pessoas), desenvolver os soft skills (conhecimentos implícitos, interpessoais, internos ao indivíduo) e hard skills (conhecimentos técnicos, explícitos, o saber fazer), aprender novos idiomas, novas habilidades, etc., bem como acessar novas oportunidades profissionais, um outro ponto do mundo digital nos traz alguns desafios: a falta de educação financeira na era moderna.

Apesar de contraditória, causando até certo ponto um paradoxo, isto é, se temos maior facilidade em acessar a informação, consumir conteúdo e, de certa forma nossa vida é mais fácil hoje do que era a 50 anos, considerando as tecnologias que possuímos, como podemos estar enfrentando dificuldades na educação financeira?

São diversos os pontos que podem nos auxiliar a entender esta situação. A própria disponibilidade de tecnologias pode afastar a população dos estudos, por exemplo, principalmente nas populações mais jovens. Isto não significa que artifícios como jogos eletrônicos atrapalham a educação, pelo contrário, eles auxiliam no desenvolvimento de uma série de habilidades tais como o raciocínio lógico, a capacidade analítica para resolver problemas e a criatividade, inclusive atualmente temos o conceito de gamification, a aprendizagem baseada por jogos. O que ocorre, no entanto, é uma falta de interesse pelos estudos, que tem origem em aspectos sociais, políticos e econômicos nos países.

O que por muitas vezes acontece é o desinteresse pela educação, em especial as áreas da matemática, área esta que é fundamental para o entendimento do planejamento financeiro e dos conceitos que envolvem o uso do dinheiro para os mais diversos fins. Adicionalmente, as vastas tecnologias causam confusão em relação ao futuro, por exemplo, qual escolha de carreira seguir? Como usar meu dinheiro? Etc.

Educação financeira no Brasil

No Brasil, por exemplo, atualmente cerca de apenas 35% da população adulta é educada financeiramente, segundo dados da S&P Ratings Services Global Financial Literacy Survey, (Pesquisa Global de Educação Financeira da divisão de ratings e pesquisas da Standard & Poor’s), e o país é o 74º colocado na lista mundial em relação ao nível da educação financeira na população.

Ainda segundo este estudo, para entendermos e calcularmos o entendimento da educação financeira, são considerados conhecimentos em quatro áreas básicas, que incluem: (a) diversificação de riscos, (b) inflação, (d) numerácia (habilidade de resolver conceitos matemáticos) e (d) juros compostos.

A falta desses conhecimentos pode incorrer em diferentes e graves problemas financeiros. Por exemplo, ao desconsiderarmos a diversificação de riscos em investimentos, podemos perder todo o nosso capital em investimentos de risco. Por outro lado, a falta de entendimento sobre juros compostos pode nos trazer complicações na hora de financiar um bem ou adquirir crédito para pagar por despesas inesperadas. Também é comum a falta de conhecimentos sobre operações básicas, que envolvem a matemática básica e o raciocínio lógico, o que pode causar escolhas ruins, financeiramente falando.

Esses problemas são uma realidade na população brasileira. Cerca de 78% das famílias do Brasil possuem dívidas. Vale ressaltar que este é um problema mundial. São diversos os países que ainda carecem de educação financeira mesmo com as maravilhas tecnológicas que vivenciamos, as quais podem nos auxiliar em inúmeros aspectos em torno de uma boa gestão financeira doméstica.

As origens em torno desse problema são inúmeras. Por um lado, podemos citar aspectos educacionais propriamente ditos, onde a educação é subutilizada pelo governo, isto é, os investimentos na área não são adequados. Por outro, a facilidade do crédito é ampla em sua maior parte, o que pode trazer tentações ao trabalhador, levando a dívidas caso este não possua uma boa educação financeira. Ainda, podemos citar as altas taxas de juros e os altos preços do mercado, que automaticamente dificultam o poder de compra dos indivíduos, levando a problemas financeiros.

Também é válido ressaltar alguns aspectos culturais em relação ao uso do dinheiro. Por muitas vezes o dinheiro é visto como um problema, como a origem de algo ruim, um mal. Enriquecer em geral desperta inveja, sentimentos negativos. Ainda, o dinheiro por vezes é considerado o fim de um trabalho (trabalhar pela renda e não pela vocação), ou mesmo pode gerar situações em que quanto mais dinheiro temos, mais gastamos este dinheiro. A este ponto também é interessante considerarmos o aspecto familiar, onde a cultura exerce grande influência na forma em como vemos e como usamos o dinheiro. Ora, se um pai não planeja o uso de seus recursos financeiros, quais seriam os motivos para que seus filhos o fizessem? A educação financeira, ou melhor dizendo, a falta dela por muitas vezes se origina no ambiente familiar, por questões sociais e culturais atreladas a esse convívio.

Por fim, um outro ponto de origem dos problemas financeiros pode ser identificado na educação básica, em específico na matemática. Dominar a matemática básica é a porta de entrada para conhecermos conceitos básicos de fluxo de caixa, poupança, reserva de emergência, investimentos, financiamentos, etc. Assim como o uso e a visão sobre o dinheiro podem ter impactos familiares, por vezes as circunstâncias da vida afastam alguns indivíduos dos estudos, o que perpetua gerações que seguem na mesma geração. A este ponto, não estamos julgando as pessoas que não estudaram, muito pelo contrário, por muitas razões as pessoas ainda hoje não conseguem estudar (isso era mais comum antigamente). A educação financeira pode servir como uma ferramenta para mudar essa situação, esse status quo.

Considerando todas essas situações, como poderíamos resolver esses problemas? O que fazer para evitar problemas financeiros na população? Como melhorar o futuro? Para responder essas perguntas, uma alternativa pertinente consiste em promover a educação financeira para os jovens, que ao envelhecerem educarão os seus filhos, seus netos e assim sucessivamente, promovendo gerações futuras mais conscientes em torno do dinheiro.

Os jovens e a educação financeira

A partir de 2020, o governo brasileiro reformulou e implementou mudanças na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) com o objetivo de modificar os componentes da educação básica, incluindo nesta base a educação financeira para os estudantes do ensino fundamental e médio. Os benefícios da educação financeira para jovens são amplos, variando do auxílio à educação dos familiares do aluno em torno da importância do planejamento financeiro doméstico, até o planejamento financeiro para o futuro do aluno, gerando condições para que este usufrua melhor dos seus futuros recursos financeiros, também evitando problemas com as suas finanças pessoais.

Ao proporcionar conhecimentos orientados à educação financeira (juros, inflação, risco e retorno, fluxo de caixa, etc.), seja em matérias específicas ou juntamente do ensino da matemática, esses jovens poderão crescer e se desenvolver de uma melhor forma, evitando cometer erros em relação a suas finanças, ou ao menos diminuir a incidência destes.

Voltando a falar de tecnologia, atualmente existem inúmeras profissões que não existiam a alguns anos atrás, o que traz novas possibilidades. A mesmo modo, os jovens da atualidade estão mais conectados, mais conscientes a certo modo, em relação às possibilidades do uso do meio digital para se inserir no mercado de trabalho. Contudo, essa maior conectividade de nada adianta se estes jovens não souberem lidar com o seu primeiro salário

Por exemplo, é muito comum encontrar jovens com problemas financeiros relacionados com o cartão de crédito. O Brasil apresenta o índice de 18% (equivalente à 9 milhões) de jovens com até 20 anos que possuem problemas com cartões de crédito. O cartão de crédito pode ser uma ótima ferramenta para aquisição de bens de valor elevado, para consumo esporádico ou uma ferramenta financeira para planejamento financeiro. Porém, sem a devida educação financeira os problemas do endividamento logo aparecem.

Ao experimentar um endividamento, ou mesmo problemas em usar corretamente a sua renda logo na juventude, as pessoas podem se frustrar em relação a seus estudos, por exemplo, ou mesmo por necessidade (pagar contas, sustentar uma família, etc.) se encontrar presas em torno de um ciclo sem fim, isto é, trabalhar para pagar contas, que devido aos juros parecem nunca diminuir.

A educação financeira nesse sentido, pode ser uma importante ferramenta para o desenvolvimento da geração mais jovem, e consequentemente para aumento da produção econômica, geração de empregos e desenvolvimento social da nação.

A educação financeira como auxílio aos mais jovens

Nessa discussão, devemos considerar também que o período da juventude por si só já representa um período conturbado, com muitas mudanças acontecendo a todo o momento. São muitos hormônios aflorando, novos aprendizados, pressões, exigências, sonhos. A esse emaranhado de fatores ainda incluímos a transição da vida de adolescente para a vida adulta, cheia de novas responsabilidades. Logo que terminam o ensino médio os jovens ingressam em cursos superiores com o intuito de ingressar no mercado de trabalho. E nesse ambiente outro problema surge: qual profissão escolher?

A educação financeira também se faz presente nessa escolha (quem não é nada fácil), ao considerarmos que em geral, nos primeiros salários o jovem ainda não possui grandes responsabilidades em relação ao uso de seus rendimentos e planejar esse uso desde o início da vida profissional é essencial.

Nesse sentido, educar nossos jovens em torno da educação financeira ajuda a controlar melhor os seus gastos, planejar compras, poupar recursos e evitar o endividamento, logo, desenvolvendo melhores capacidades de gestão financeira. Adicionalmente, esta educação é uma importante ferramenta para quando esses jovens envelhecerem. O uso do dinheiro nada mais é do que uma ferramenta, não o fim de algo. Ao possuir um bom controle financeiro (que se desenvolve com base na educação financeira), esses jovens poderão constituir uma família com maior conforto, usufruir de bens de melhor qualidade, viver experiências diversas, e usar o dinheiro para tudo o que lhes for interessante de forma satisfatória, tornando o dinheiro uma fonte de alegria, não de preocupação.

Ao possuir uma boa educação financeira desde sua juventude, o jovem poderá se preparar melhor para o futuro, e consequentemente poderá ter um sucesso mais consistente e até certo ponto mais rápido (ao considerarmos que este não queimará a largada com problemas financeiros).

Com base em uma gestão e planejamento financeiro adequado, realizada em conjunto pelo setor público e privado, com certeza utilizaremos a tecnologia para promover maiores níveis de desenvolvimento, renda e crescimento as nações, o que passa necessariamente pela educação financeira.