Nós, brasileiros, dizemos orgulhosos que "saudade" é uma palavra rara, não encontrada facilmente nos demais idiomas. No entanto, ela ganha um peso ainda maior quando tomamos a decisão de deixar "nossa casa".

O curioso é que, mesmo repetindo constantemente para aqueles que amamos a saudade que sentimos, ela não consegue definir fielmente as emoções que nós, que decidimos arriscar tudo, seja qual for o motivo, sentimos.

Se você já esteve longe dos seus, mesmo que por um período curto, compreende o que estou a dizer.

Entre a decisão de partir e o dia em que realmente nos despedimos, esse período que antecede o início dessa nova jornada reúne um misto de sentimentos. Estes estão carregados da ilustre expectativa: vou conhecer pessoas novas, lugares diferentes, trabalhar, estudar, provar um café, vinho, chocolate ou mesmo biscoitos que só existem lá. E tudo isso mascara que, quando estivermos lá, não estaremos mais "em casa".

O dia da viagem chega, e bem, lembrando da minha, teve choro, muitas lágrimas, palavras bonitas e amorosas, mas o que predominava era a felicidade, a empolgação.

Acredito que a chegada ao novo lugar seja bem parecida para a grande maioria, ou seja, regada de mini-incêndios que precisam ser controlados - nunca conversei tanto com um advogado como nessa fase. E isso faz com que os dias passem rápido, e a vida vai se ajeitando. Surgem problemas, resolvemos, mais dias se passam e não percebemos que estamos tão longe. Bem, isso é ótimo, afinal, se fosse para chegar, sentar no chão e chorar sentindo falta do que ficou, não faria sentido vir.

Tudo parece bem, até que, em uma noite qualquer, você pega o celular e encontra uma foto de alguém que ficou. Podem ser seus pais, um filho, avós, irmãos, os amigos mais próximos, e então acontece: aquela foto é suficiente para te fazer desabar em lágrimas. Não há um motivo, nada triste aconteceu, você apenas se deu conta de que não estará mais presente na maioria dos momentos importantes de pessoas especiais. Terá que esperar pelas fotos que irão te enviar e celebrar de longe. E eles também não poderão te abraçar a cada conquista, e o que resta é contar por mensagem.

Nesse momento, a gente percebe que fazer novos amigos, cruzar fronteiras, aprender inúmeros idiomas, nada disso se compara a uma conversa com sua mãe sobre a novela das 9h, a história do trabalho, ou ouvir seu pai reclamando que as plantas estão morrendo devido ao calor, e qualquer outra pessoa que você adorava conversar por horas assuntos aleatórios, aquelas conversas em que muitas vezes o assunto nem chegava ao fim e já iniciavam outro.

Apesar de tudo isso, acredito que nós, imigrantes da era digital, temos que celebrar o fato de vivermos em uma época onde temos inúmeras formas de falar com as pessoas que ficaram. E podemos fazer isso a qualquer hora do dia e sem sair de casa. Podemos compartilhar as histórias que temos vivido, ouvir o que acontece lá, ajudar uma amiga a escolher as roupas para sua mala de viagem, escolher com o irmão o presente de aniversário para sua mãe, até cantar parabéns para seu pai. Mas, ainda assim, falta algo, e esse algo não pode ser explicado, ao menos eu não consigo. O coração se aperta, se espreme, desejando abraçar cada pedacinho daqueles que ficaram para trás.

Mas aí é hora de se recompor. Nos damos conta de que, de certa forma, nunca estaremos completamente nesse novo lugar, mas o pouco (ou uma boa quantidade) de nós que estiver ali, precisa dar conta. Afinal, ser adulto é isso, lidar com as consequências das escolhas que fazemos. E nesse caso, agradecermos por termos tantas boas memórias.