O ser humano tende a enxergar o clima da terra como algo constante, com o equador quente e os polos gelados. O planeta se aquecendo no verão e por sua vez esfriando no inverno. Perto do equador, por outro lado, existiriam as estações de seca com as chuvas escasseando, e as de chuva com grande umidade. De fato, a previsibilidade do tempo era tão grande que durante o século 19 com o avanço da ciência em compreender tanto a natureza quanto a sociedade, era comum pensar que o comportamento humano era condicionado ao clima, com pessoas de temperaturas quentes sendo preguiçosas e indolentes para não se desgastar no forte calor, enquanto populações de climas frios seriam trabalhadoras e prestativas, pela necessidade de sobreviver no ambiente inóspito. A chegada do aquecimento global afetou essa noção do clima fixo, com agora o mundo tendo medo de como seria o clima no futuro.

Apesar da intervenção humana no clima ser algo inédito, cujas consequências são difíceis de prever, o clima sempre foi algo inconstante, mesmo antes da chegada humana, o ambiente passou por diversos momentos com temperaturas diferentes. Houve períodos em que o planeta inteiro esteve congelado, ou coberto por desertos. Continentes que hoje ocupam enormes massas de terra, antes eram cortados por mares interiores que os dividiam em dois. Locais que atualmente são desertos insalubres, foram áreas verdejantes e ricas e pequenas ilhas modernas são vestígios de territórios muito maiores. O nível do mar subiu e desceu, e a terra foi de muito seca a extremamente úmida.

Uma das mudanças mais perceptíveis e bruscas ocorreu na metade do período Triássico, no começo da era dos répteis. Essa mudança foi desencadeada por um dos fenômenos mais corriqueiros do ciclo da vida: A chuva. Em si, tal fenômeno não teria nada de impactante, exceto por um único detalhe, a duração, a chuva se prolongou por um período muito maior do que qualquer outra antes ou depois, alcançando a incrível marca de 2 milhões de anos. Quando ela finalmente cessou, o planeta estava irreconhecível, com uma flora e fauna muito diferente. E dentro desse novo mundo, um tipo de animal teve sua oportunidade de prosperar: os dinossauros.

No período anterior a chuva, a Terra era formada por um supercontinente que cobria metade do planeta: Pangeia. Os animais podiam se locomover por todo o mundo sem restrições geográficas, mas isso tinha consequenciais. Blocos de terra continentais muito grandes costumam ter o interior seco, pois, as massas de ar que se formam no oceano, ao viajar para a terra acabam se precipitando em chuva antes de atingirem o interior. Motivo pelo qual locais como Ásia, e Austrália terem desertos em seus territórios interiores.

Com o planeta tendo seu maior continente, também teve seus maiores desertos que cobriam todo o interior da Pangeia. A vida tinha que se adequar à esse ambiente hostil. E claro, vários animais com estilo de vida propício ao deserto viviam nele. Entre eles, se encontrava o estranho dicinodonte. Animal que possuía um parentesco com os primeiros mamíferos, os dicinodentes era diferentes de quase qualquer ser vivo atual. Eram animais grandes, corpulentos, com uma estrutura corpórea semelhante a um hipopótamo ou rinoceronte, entretanto, não tinham chifres e não pareciam viver na água, ao invés disso, tinham dois grandes e protuberantes dentes saindo da boca que provavelmente eram usados para lutar pelas fêmeas. Também eram dotados de bicos similares aos das tartarugas, que os ajudavam a se alimentar da vegetação dura do deserto.

Um grupo de dicinodontes se tornou tão bem-sucedido no começo do triássico que tomou quase o ambiente todo da época: O Lystrossauros. No começo da era dos repteis quando a quantidade de seres vivos era reduzida (uma grande extinção havia acontecido pouco antes), toda a terra foi tomada pelos Lystrossauros, chegando a ocupar 95% da vida em alguns locais. O animal mais bem sucedido da história do planeta Terra. Antes da chegada do ser humano, nenhuma grande criatura havia conseguido ter relevância tão grande sobre o planeta quanto o Lystrossauro.

Apesar do domínio indiscutível, o Lystrossauro não estava sozinho, outros animais viviam no seu planeta desértico. Com eles convivia o rincossauro, um pequeno animal levemente similar aos atuais lagartos. Mas que não tinha relação próxima e que possuía um bico para cortar plantas duras e se alimentar.

Para caçar esses animais exóticos, havia predadores também únicos, como o Protesuchus ancestral distante dos crocodilos, mas que caçava em Terra. Os dinossauros possivelmente já estavam presentes, mas deviam ser animais pequenos, com pouca relevância nesse ambiente difícil. Não é conhecido muito sobre os dinossauros nesse primeiro momento, pois, os registros deles são tão pobres que não se sabe como eram e quando apareceram, como no caos do Nyasassauro que parece ter sido um parente próximo dos dinos, ou talvez um dos primeiros do grupo. Mas tudo isso mudou depois que começou a chover.

Esse período de 2 milhões de anos chamado de “Episódio Pluvial Carniano” não foi como se pode parecer, uma única chuva ininterrupta durante todo esse tempo, mas sim um período em que enormes quantidades de chuvas em sequência (dando a impressão de contínuas) se desenrolaram por milhões de anos. O motivo foi a erupção de um vulcão que causou uma onda de aquecimento global, mudando o clima e disparando chuvas em massa. A chuva tornou o que era um lugar seco e áspero em um novo ecossistema aprazível e acolhedor. A enorme quantidade de água disponível permitiu substituir as plantas do deserto por grandes árvores, multiplicando a vida.

Quando a chuva parou, o mundo estava irreconhecível, o enorme deserto que cobria Pangeia tinha dado lugar a florestas prósperas com grande quantidade de plantas. Os antigos animais, adaptados ao clima árido, não tinham como sobreviver nessa nova casa. O pequeno rincossauro, especializado em comer plantas do nível do solo, não conseguia alcançar as folhas da altas árvores que agora dominavam. Mas os dinossauros sim, o fim da chuva viu uma explosão na diversidade de dinossauros. Com alguns dos primeiros dinos se destacando sem dificuldade. O Plateossauro, de pescoço comprido, logo assumiu o espaço de herbívoro comedor de folhas das árvores. o Herrerassauro tomaria o lugar como um dos predadores mais temidos do local. O pequeno Eoraptor se adaptaria para caçar diminutos animais.

Pelos 180 milhões de anos seguintes, os dinossauros iriam se espalhar para tomar todo o planeta, a maioria dos seus rivais pereceu e o restante fugiu para ambientes que os dinos não ocupavam, como os mamíferos que as adaptaram para só sair à noite, ou os répteis marinhos como os ictiossauros que mergulharam nos oceanos para tomar um lugar que os dinossauros não colonizaram. O restante da era dos dinossauros foi comparativamente bem mais amena do que o começo, com o clima mudando pouco e a vida em relativo equilíbrio. O que ajuda a entender por que foram animais tão bem-sucedidos e atingiram tamanhos colossais.