Desde as culturas e tradições seculares, o trabalho sempre foi visto como algo que dignifica o homem em toda a sua plenitude. Isso gerou acalorados debates entre os intelectuais sobre se o homem trabalha por remuneração ou apenas por mera ocupação. No entanto, essas considerações não são o foco aqui; o que merece nossa atenção é a busca por uma vaga de emprego em Moçambique. Nos dias de hoje, a obtenção de emprego no país parece depender muito da sorte, visto que o nepotismo atingiu níveis alarmantes no sistema de seleção de pessoal, resultando em milhares de desempregados que não possuem as tão conhecidas "costas quentes", como se diz na gíria popular.

O aspecto mais preocupante dessa problemática é que os concursos públicos, em sua essência, já são viciados, com as vagas frequentemente sendo preenchidas por familiares de funcionários que dominam os recursos humanos em quase todas as instituições, especialmente as do Estado. O suposto concurso público, lançado publicamente para legitimar um processo que já foi concluído internamente, frequentemente apresenta testes de seleção manipulados, no mínimo, para beneficiar parentes próximos por laços sanguíneos. É lamentável, mas a realidade é essa: a excessiva autonomia dos recursos humanos em alguns setores de trabalho resulta em injustiças nos concursos públicos. Isso ocorre porque, se os envolvidos prosperam na falta de transparência desses processos, uma antiética que deveria ser ética, os resultados nunca serão justos.

Precisamos considerar a implementação de limites para garantir a transparência tão desejada, que ainda é um desafio em nosso país. Quando alguém participa de um concurso público em Moçambique, aguarda ansiosamente o recebimento de seus documentos, a fase de seleção, os testes e a entrevista, mas muitas vezes fica esperando indefinidamente por uma ligação que o convide a assinar um contrato de trabalho.

Enquanto isso, existem indivíduos que ignoram completamente essas etapas devido às suas conexões familiares, desfrutando das famosas "costas quentes". Aqueles que não têm essas conexões enfrentam a informalidade e outros desafios para conseguir uma colocação. Quer conseguir um bom emprego em Moçambique? Às vezes, isso envolve comprar, fazer trocas ou contar com um suposto "padrinho" - não de casamento ou batismo, mas de emprego. Sim, até mesmo padrinhos de emprego existem em Moçambique.

No país, não basta apenas estudar, se vestir bem, ser inteligente ou falar corretamente a língua portuguesa. É necessário muito mais: estar no lugar certo e na hora certa, ou seja, ter os chamados padrinhos em cargos de influência, preferencialmente na área de recursos humanos, ou, no mínimo, ter conexões com pessoas influentes nas áreas-chave do emprego. Caso contrário, você passará a vida enviando currículos sem receber resposta. Isso não acontece porque não há empregos disponíveis, mas porque o país tem uma cultura arraigada de fazer negócios, independentemente da natureza dos mesmos, e os mais prejudicados são os desfavorecidos que não têm influência ou poder de compra. É possível que alguém que se formou hoje na universidade tenha cinco anos de experiência? Não tenho uma resposta para isso, pois até mesmo ingressar em uma universidade é uma batalha para muitos cidadãos.

Pode ser necessário considerar a implementação de um novo curso nas universidades moçambicanas com o tema "experiência" para atender à demanda por indivíduos com experiência nas vagas de emprego. No entanto, é importante ressaltar que os concursos públicos para empregos em Moçambique são viciados e carecem de credibilidade, servindo muitas vezes apenas para legitimar contratações que ocorrem nos bastidores. Isso aumenta as estatísticas de empregabilidade, mas apenas como uma fachada, já que os anúncios de vagas de emprego em jornais não são suficientes para garantir a credibilidade do processo. A pergunta que fica é: quem são esses indivíduos que conseguem empregos sem sequer passar pelos testes de seleção? Isso é transparência na gestão do setor público ou nepotismo?

Para enfrentar essa situação, a mudança de comportamento deve começar com as lideranças, caso contrário, continuaremos a murmurar por um futuro melhor. A solução está em nossas mãos!