Adaptar – verbo transitivo direto; modificar algo para que se acomode se ajuste ou se adeque (a uma nova situação, um determinado fim, um meio de comunicação etc.).

O ato de adaptar uma obra literária para outras mídias não é um desafio recente. Pouquíssimas obras adaptadas acabam tendo boa recepção por parte dos críticos e dos fãs, principalmente obras onde existe uma fã base gigantesca. E a primeira pergunta se que vem à mente é por quê?

Há algumas respostas para isso:

  • A dificuldade em se adaptar obras que tenham um universo fantástico;
  • A necessidade de atrair um novo público para a obra;
  • A necessidade de agradar os fãs da obra;
  • Mudanças na história e em personagens, assim como em suas personalidades;
  • Falta de fidelidade com o material original;

Esses são alguns dos principais pontos que definem se uma adaptação pode ser bem-sucedida ou não. Recentemente o ator Henry Cavill abandonou a adaptação de The Witcher por não sentir que a adaptação da Netflix estava respeitando a obra original, Bridgerton também acabou duramente criticado por mudanças na história original dos livros e por mudanças na personalidade e na etnia de diversas personagens, a adaptação de Death Note, Saint Seiya e Dragon Ball também foram completamente rechaçadas pelo público por divergir e não respeitar as obras em que elas foram baseadas.

Contudo, Game of Thrones foi ovacionado quando estreou por respeitar integralmente a obra, com pequenas mudanças que não afetavam o material original, a saga de filmes Harry Potter, apesar de duras críticas em relação aos seus últimos três filmes, também foi completamente aceita tanto pelo público em geral quanto pelos fãs da obra. Então por que algumas adaptações deram certo e outras são duramente criticadas?

Bom, primeiro temos que levar em conta certos aspectos das adaptações, o primeiro deles é a obra em que ela foi baseada. Quando se adapta obras literárias, as chances de a adaptação ser mais bem-sucedida é extremamente maior do que em obras baseadas em videogames, mangás e HQs, pelo fato de o livro não contar com a ajuda visual para mostrar as personagens. Claro que, na maioria das obras, as personagens têm descrição de suas características, seu porte físico, etc., claro que há exceções como é o caso de Harry Potter em que as personagens principais aparecem na capa, mas na maioria das vezes as personagens não têm uma forma concreta, ficando a cargo da imaginação do leitor a aparência da personagem.

Com as outras três mídias o caso já é mais complicado, pois o leitor/jogador tem uma imagem concreta das personagens da obra, então qualquer adaptação que mude o que eles já conhecem acaba por gerar críticas massivas a adaptação. Os filmes do Percy Jackson foram duramente criticados por terem mudado a história dos livros e características físicas das personagens, como por exemplo umas das protagonistas ter o cabelo loiro nos livros e nos filmes a atriz ter o cabelo castanho.

Então veja, mesmo que nas obras literárias a “forma” da personagem não seja concreta, certas características são, portanto, mudá-las, na visão dos fãs, é uma total falta de respeito com a obra, mesmo que o próprio autor da obra as tenha aprovado.

Porque Game of Thrones é considerada uma das melhores adaptações já feitas? Simples, pois além de respeitar a obra original em que foi baseada, respeitou integralmente a maioria das características das personagens, além de suas personalidades. As adaptações que foram feitas foram escolhas do próprio autor dos livros, o mesmo aconteceu com os filmes de Harry Potter e sua autora, que além de escolher o elenco a dedo, de acordo com a própria visão do que ela tinha escrito, cuidou também da supervisão dos roteiros do filme e das mudanças que foram feitas.

The Witcher e Bridgerton, como já mencionado antes, sofreram críticas por terem mudanças que destoavam demais do material original, mudança na caracterização e na etnia das personagens, além das mudanças não terem sido feitas pelos autores das obras e sim por produtores e diretores. A Netflix é um dos serviços de streaming que é campeão de reclamações sobre suas adaptações, mesmo a mais recente adaptação de One Piece não passou ilesa de críticas a respeito de mudanças na história, mesmo com o próprio autor da obra as supervisionando.

Mas a questão que fica é, afinal é ou não difícil fazer adaptações? A resposta é sim e não. O fato de se adaptar uma obra não faz automaticamente com que ela sofra críticas, há diversas obras que foram adaptadas e foram elogiadas tanto por fãs como pela crítica. Os fãs entendem que nenhuma adaptação vai conseguir reproduzir uma obra com 100% de fidelidade, entretanto, eles esperam que elas sejam o mais fiel possível a obra em que são baseadas.

Os filmes da Marvel foram um sucesso pois mantiveram as características das personagens das HQs, mesmo que as histórias tenham sido altamente modificadas. O seriado Gossip Girl (2007) também fez sucesso, pois a adaptação foi feita modificando completamente a história dos livros, quase como se fosse um universo a parte do universo dos livros, contudo, a maior parte das características das personagens foram mantidas.

Como podemos notar, mais do que a adaptação da história, a fidelidade com a imagem que a personagem tem é muito mais importante para os fãs da obra. Dragon Ball Evolution, Death Note, The Last Airbender e Saint Seiya são considerados pelos fãs verdadeiras abominações por lembrarem em nada as obras em que foram baseadas e apenas utilizarem o nome delas para ganhar visibilidade, além das personagens terem etnias mudadas para personagens caucasianos. Note que tanto Dragon Ball Evolution quanto Saint Seiya (2023) tiveram supervisão dos autores das obras, ou seja, nem mesmo com a supervisão do autor se há garantia de que uma adaptação será um sucesso.

Outro fator que contribuiu para o sucesso de Game of Thrones, Harry Potter e O Senhor dos Anéis é o fato de que as adaptações foram pensadas para agradar os fãs da obra em primeiro lugar e só depois em atrair um novo público. Outras adaptações acabam sofrendo críticas devido ao fato de que elas são pensadas em atrair um novo público primeiro e depois agradar os fãs, o que acaba sendo contra produtivo, pois você acaba não agradando totalmente o público que é garantido (os fãs) e acaba não conseguindo um público tão novo assim, pois esse público acaba atraído pelos fãs que gostaram da adaptação, como aconteceu com The Last of Us e Bridgerton, mas claro que ainda com muitas críticas, portanto acaba sendo uma aposta arriscada demais.

Há também obras que, por mais que se queiram, não servem para ser adaptadas. Praticamente todas as adaptações de mangás que aconteceram foram extremamente criticadas pelos fãs e pela crítica. Um dos maiores problemas é que as obras sofrem uma ocidentalização por parte dos estúdios e das produtoras na tentativa de atrair o público para assistir à adaptação, mas como dito no parágrafo anterior, essa ideia é contra produtiva e pior, mangás acabam tendo um público muito mais nichado de fãs do que obras literárias ocidentais, então priorizar agradar o grande público ao invés dos fãs da obra é um verdadeiro tiro no pé.

Mesmo a recém adaptação de One Piece da Netflix não consegue o mesmo êxito que, por exemplo, The Last of Us. Como dito, adaptações de mangás para o live action não funcionam, pois, muitas coisas acabam se perdendo durante a adaptação com atores reais. Um dos exemplos que podemos dar é que na obra One Piece, as personagens são conhecidos por terem características absurdas como tamanhos gigantescos, caras e bocas exageradas, cabelos esquisitos etc., mas na adaptação da Netflix isso acabou sendo perdido, mesmo que o próprio autor tenha supervisionado tudo, pois há elementos que só funcionam na mídia de origem da adaptação, como é o caso das críticas a adaptação de The Last of Us e da falta de ação do seriado em relação ao jogo.

Dois vilões de One Piece que foram adaptados na série acabaram por perder características que os tornavam únicos. Buggy, o palhaço, perdeu o ar absurdo e cômico que ele possui no mangá e Arlong, que por ser de uma raça de homens peixes possuí o tamanho muito maior do que o de um humano normal, acabou por perder o seu ar intimidador e grandioso.

Além disso, One Piece em si, assim como Dragon Ball, Saint Seiya e Death Note, são obras gigantescas onde se torna impossível se adaptar a obra em apenas um filme ou poucos episódios, fazendo com que as histórias sofram cortes e modificações enormes. Mas não apenas isso, mas as obras são altamente conhecidas pelo mundo afora, além de terem animes, então uma adaptação em live action acaba sendo mais exclusivamente por lucro em cima do nome da obra do que por divulgação para novos fãs.

O que podemos concluir no fim é que, independente dos fatores apresentados, não há uma fórmula mágica para se fazer adaptações. Claro que focar em atrair um público novo é importante, entretanto, se a adaptação não agradar nem aos fãs, a chance de agradar as outras pessoas vai acabar sendo mínima. E por mais que seja uma boa ideia, há obras que não tem como serem adaptadas sem elas perderem a sua essência, por isso, talvez seja uma boa ideia deixar elas em paz.