Se você é artista ou tem um sonho, tenho certeza que já deve ter pensado em desistir algumas vezes… assim como eu. Acredito que escrevo mais para me consolar, do que à espera de que alguém leia. Escrevo para tentar encontrar alguma resposta que nem eu mesmo sei onde procurar. De qualquer forma, acredito que eu vivi um luto mais duradouro do que eu esperava. Tentava me justificar pois havia parado de cantar porque tinha uma questão contratual, porque eu não queria nenhum que sanguessuga estivesse recebendo ainda mais dinheiro em cima dos meus direitos autorais, porque eu estava cansada das redes sociais, não tinha tempo, tinha mudado de cidade, estava trabalhando muito, mas a verdade era que eu não queria.

Não queria encarar a verdade de saber que sou boa o suficiente para ocupar o lugar de destaque de alguns artistas que não tem o mesmo talento que eu, não queria encarar a verdade de que eu não tenho o investimento para a minha carreira, de que junto com as músicas que levaram, também foi junto uma parte de mim, a parte que sonha.

Hoje quero te contar sobre a minha parte que sonha.

Eu nasci na cidade de Caxias do Sul, uma cidade pequena no Sul do Brasil e canto desde que eu aprendi a falar. Tenho atualmente 26 anos de idade, e além da música eu trabalho com estética. Tive uma empresa em 2021 que depois de um tempo vendi para poder me dedicar à música, tudo isso para não dar em nada e acabar voltando para o mesmo lugar onde eu estava… um tanto quanto engraçado, mas não me arrependo.

Antes da música, eu não lembro o que eu fazia. Meus primeiros cadernos eram meus confidentes, eu devia ter uns 10 diários em casa, um para cada ano da minha vida, desde que aprendi que poderia escrever para aliviar a tensão e compreender toda a imensidão dos meus pensamentos, com uns 12 anos eu já tocava um pouco de piano e meu pai havia tentado me ensinar violão, mas eu tinha uma aversão tão grande a isso, que nunca me interessei pois julgava ser muito comum e não queria aprender. Até que, um menino da minha igreja, estava numa roda de conversa se gabando de como os professores gostavam dele por ele ter tocado e cantado uma música no violão. Já podem imaginar, voltei para casa naquele dia, e comecei a aprender a tocar violão, praticamente sozinha. Meu pai me deu um livro velho com umas notas musicais e como fazê-las no violão. Foi o que eu fiz pelos próximos 3 anos, o que era extremamente frustrante, pois além de aprender sozinha, eu era canhota. Isso quer dizer que eu levava o dobro de tempo para conseguir fazer qualquer nota, pois a minha mão dominante era a oposta a que eu estava usando para tentar tocar. Até que eu decidi tocar uma música de cada vez, quando eu aprendia uma música suficientemente bem para tocar e cantar, eu ia para a próxima e é assim até hoje. Ou então, eu pensei que era…

Um tempo depois, comecei a postar vídeos no youtube e pela insistência, eu acabei crescendo e até criando uma mini comunidade de fãs, até que com 18 anos eu fui chamada para ser a “aposta” do Festival Brasileiro de Música de Rua, foi aí que tudo começou mesmo. Era tudo um sonho, até então tinha encontrado uma empresário, que aparentemente trabalhava com os melhores artistas e eu tinha sido escolhida. Eles fazem a gente se sentir especial para não vermos o que estava por trás de tudo. Nisso tudo, muita água rolou, mas o resumo é que, quando eu estava no estúdio, compondo tanto para mim quanto para os outros, a minha alma estava lá, em cada nota, cada melodia, cada voz e som da minha voz. E quando eu perdi minhas músicas eu perdi junto uma parte de mim, essa parte que sonhava com dar certo, que confiava no talento, acreditava fielmente que seria reconhecida, que poderia viver de música, entre todos tantos sonhos, mas depois disso, eu acredito que tenha me tornado muito pessimista, inclusive, preciso pedir perdão aos meus amigos de estrada pelas duras palavras e desacreditar durante tanto tempo.

Depois de todo luto, esses últimos dias foram necessários, pois eu não fiquei parada, eu estudei. Baixei a minha cabeça e estudei o mercado, estudei a indústria, estudei cultura, música, investimento musical, como funciona a máquina, por isso hoje, eu consigo falar muito sobre isso, tanto aqui, quanto para amigos. Mas a boa notícia é que, essa semana, eu recuperei a minha parte que sonha.

A parte interessante sobre a nossa parte que sonha é que, ninguém pode arrancar de você, podem tirar tudo que você tem, podem roubar dinheiro, músicas, letras, melodias, direitos autorais, sua arte, suas roupas, mas ninguém pode tirar a sua chama que queima por aquilo que arde dentro do seu coração. Isso não significa que quando jogam tanta água e tentam apagar, ela não fique fraca, mas ainda há dentro de si, uma chama, pequena que seja, no fundo do seu coração, que quando estás sozinho em seu quarto, assim como eu no meu, quando qualquer coisa lhe desperta um gatilho, lá está ela… pequena, escondida, onde ninguém vê, no seu interior, quase morrendo, o que muita gente esquece é que ninguém apaga a sua parte que sonha.

A motivação é um impulso interno que direciona nossas ações para atingirmos certos resultados, ela é ativada pelo sistema de recompensa do cérebro, ou seja, quando são detectados estímulos gratificantes ou de reforço, liberando dopamina no corpo. Essa descoberta foi feita nos anos 50 pelos neurologistas James Old e Peter, que perceberam que os mamíferos experimentaram uma maior motivação se fossem estimulados em certas áreas do cérebro. Um estudo recente feito por cientistas da Technical University of Munich, revelou que as moscas melhoram sua performance ao máximo quando estão famintas, enquanto as que já foram alimentadas, desistem mais facilmente. Para o psicólogo Albert Bandura, a motivação é um fenômeno complexo que avalia muitos caminhos para que possa ser atingido o objetivo final. Essa avaliação pode levar em conta a quantidade de esforço necessária para conquistar o objetivo e por quanto tempo esse esforço será feito, assim não considera não somente o que será buscado, mas também leva em consideração a duração e intensidade do esforço.

Algumas variáveis devem ser consideradas quando falamos sobre a motivação, como: a Probabilidade Subjetiva do Sucesso, ou seja, a própria pessoa avalia as chances que têm de acordo com o conhecimento e habilidades que a tem e considera que são necessários para atingir o seu objetivo. Neste quesito também existe o Medo de Falhar, que é quando mesmo tendo os conhecimentos e habilidades não seja possível atingir o objetivo, por motivos como ansiedade perante situações desconhecidas ou concorrência. Uma terceira variável é chamada de Percepção de Desafio, neste caso, um objetivo só representa um desafio quando a pessoa considera que após a sua conquista o conceito que ela sobre si mesma irá melhorar, se sentirá mais capaz e segura de si mesma. Ainda temos uma quarta variável que é o Interesse, que leva em consideração toda as alternativas anteriores mas também considera o quão agradável será ir em busca desse objetivo, é nesta variável que podemos encaixar a frase que muitas vezes dizemos ou ouvimos sobre “eu faria isso até de graça” pois está relacionado com a quantidade de prazer e bem estar relacionado a tarefa que está sendo feita.

Podem existir mil variáveis e probabilidades que impulsionam e catalisam a motivação, mas a verdade é que ela é interna, individual e muito particular e às vezes é muito difícil manter-se motivado. Uma rotina exaustiva, trabalho, casa, vida social, afazeres domésticos, palavras que ouvimos de pessoas que amamos nem sempre são as motivadoras entre mil outras coisas, que passam à frente dos nossos sonhos. Um sonho não morre do dia para a noite, ele morre aos poucos, são as pequenas atitudes que o matam, mas também são as menores ainda que o mantém vivo. Um sonho não precisa de muito, apenas de um pessoa que acredite nele.

Qualquer que seja o motor da sua motivação, é importante manter-se perto de pessoas que motivem você e aqui segue um vídeo que impactou muito a minha vida, e me fez lembrar da minha parte que sonha… espero que você encontre a sua parte que sonha.