Mas afinal o que é, e quais são os públicos de cultura?

Engraçado pensar cultura de vários ângulos, mas observar o público torna toda a trajetória muito mais entusiasmante!

Públicos de cultura trata-se como o nome indica, de um conjunto de pessoas, ora de forma coletiva ora de forma individual, que encontram em comum o ponto de frequentarem com uma certa regularidade espaços culturais.

Daí se divergem públicos, gostos, feitios e opiniões.

Antigamente, não assim numa realidade tão distante, falar de públicos requeria gosto, requinte, amplitudes estéticas e bolsos grandes, na verdade, só se queriam os mais poderosos nas suas audiências, e poucos trabalhadores de sol a sol tinham a possibilidade de frequentar certos locais. As habilitações literárias eram outros quinhentos. A verdade é que o trabalho cansa, apesar de ser novidade para alguns, e o trabalho ocupa demasiado tempo, não sendo sempre, tão bem renumerado quanto se devia. Permitindo assim, a continua diferença negativa que existe entre a elite e a ralé.

Contudo, coisas boas também acontecem e a sociedade lá vai evoluindo. Permitindo assim, deixar-se o desdém de lado e abrir portas a todos os que queiram estar presentes. Nem sempre, nem em todo o lado, nem em todos os espaços, nem em todas as classes. Mas vai sendo possível gerir. E políticas culturais passo a passo vão permitindo um pouco mais de equidade de públicos, melhores acessos, aberturas a todos independentemente de qualquer traço distinto.

Os equipamentos culturais transmitem insistentemente sensações positivas e de abertura aos públicos, cada vez mais, são os espaços a implorar públicos variados, que acrescentem de certo modo, conteúdo. Lutamos pela democratização cultural, não obstante, sabemos que os filtros são essenciais no momento do sucesso. Assim, apelasse a todos os públicos, mas também se delineiam públicos-alvos essenciais. Ora vejamos... Eventos infantis lutam por todas as crianças, focando o evento claramente nessa faixa etária e com as respetivas características, o mesmo se adequa a um público juvenil ou sénior, por exemplo.

Não obstante, luta-se com feitios peculiares, os simpáticos, os antipáticos que não seguem as normas, os suspeitos que saltam a revista quando em museus se tratam, ou os barulhentos quando em silêncio se pede que estejam. Fora os demais.

Encontramos os velhinhos, que adoram tocar em tudo, observar de perto das obras, ler factos e comentar histórias que lhes lembra a vida.

Necessitam claramente de um banquinho que os acompanhe ao longo do percurso, quase derrubando obras que os curadores entenderam ali colocar e admiram as obras quase que de um banco de jardim. Descansam o corpo, e dão alimento à alma.

Adoráveis, de facto.

Ainda há também os adultos, que se encontram exaustos, e vão nas suas poucas folgas a todo o tipo de espaços, especialmente quando domingo grita grátis. Cheios de olheiras e sempre prontos para o café, antes ou depois da tertúlia. Não estão para se chatear com os filhos, e pretendem tirar dos espaços uma ocupação para as crianças, acreditando que haverá quem os ature por perto. Há exceções claro. Não querendo generalizar, mas generalizando.

As filas enchem, fazem-se serões em espera, os apoios de fila dão suporte e na picagem de bilhetes se contam as multidões, em certos espaços. Parecem caixas de supermercado.

De seguida, há os adolescentes, com os seus filtros criativos, a tirar fotos hilariantes a peças com mais valor que o património de toda a família junta, uma Mona Lisa com o filtro de “choro” a fazer furor nas novas redes sociais, e por fim as crianças, que no meio de tanta gente, são as mais irrequietas e prontas a percorrer meia-maratona, ainda não querem entrar no mundo das formalidades. Não há olhos que consigam vigiar.

Em certos espaços...e com certos públicos.

Cada qual se dedica ao público e não apenas em si, talvez esse seja o segredo do sucesso. Foco no ambiente cultural que queremos criar, apenas e somente pelo público que queremos receber. Assim, teremos mais visitas, mais entusiastas. É fulcral focar na experiência do visitante, permitindo assim uma segunda visita. Como tal, a experiência é fulcral.

Assim, cada espaço enquadra-se de acordo com os públicos que pretende cativar, não sendo por isso, fator eliminatório, pois o objetivo parte por inteirar qualquer idade ou grupo social, em qualquer ambiente cultural, de pequenino se torce o pepino, já diziam os antigos.

Assim, podemos separar os espaços por categorias, cada espaço é dedicado ao que melhor pode oferecer e de forma a cativar uma maior diversidade. Mas ainda assim, notamos a divergência, a escolha de públicos, a definição errada de democratização cultural, ao excluir e denegrir.

Então, cada vez mais, lutamos enquanto agentes de cultura por uma amplificação de resultados, e dedicamos os eventos culturais e os respetivos espaços a quem os decide procurar. Não retirando por isso, o engraçado que cada público tem para oferecer.

E damos espaço aos velhotes, que na biblioteca adoram ler os seus jornais, ao invés de no café que depois de várias tacinhas de vinho tudo se torna manchete. Os adolescentes e jovens adultos que enchem as mesas com computadores e cadernos soltos, em busca de um futuro melhor, e por vezes procuram eventos e interações digitais quando nos museus se mostra evolução, tentando desconstruir a figura tradicional que os permeia, mantendo claro a sua celeridade.

Os teatros, que se esforçam continuamente para serem ocupados e esgotados com a maior regularidade, apresentam bilhetes acessíveis, e largam lágrimas de suor por todo aquele palco gasto. Abertos a todos os que os queiram receber. Mas é uma vida ingrata.

Afinal cultura e os seus públicos partem disso, certo? Da união e equilíbrio social, da democratização cultural cada vez mais assente e ainda bem, mas também da ingratidão.