"Minha dor é perceber
Que apesar de termos feito tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos como os nossos pais".

(Antonio Belchior)

Lendo os meus artigos da coluna Boca do Mangue, referentes às tragédias de 2002 em Angra dos Reis e de 2010 na cidade do Rio de Janeiro, nada tenho a acrescentar às atuais tragédias de 2019 em nossa cidade, pois as pessoas desse lugar insistem em não aprender com seus erros. Repetem os mesmíssimos erros ano após ano, eleição após eleição e parece que não há nada que as faça reverter dessa marcha ao abismo.

Achei incrível como os comentários, causas, conclusões são exatamente as mesmas a cada tragédia que insistimos em cultivar e cultuar nesse lugar. Não é preciso escrever nada de novo, pois tudo é velho, tudo igual, pútrido e impune como sempre foi.

Como biólogo, não tenho solução e tão pouco explicação para comportamento social tão autodestrutivo que ultrapassa todos os parâmetros conhecidos de miopia. Literalmente estamos cegos nesse nevoeiro que nós mesmos produzimos e nos perdemos dentro dele sem perspectiva no momento de encontrar alguma saída.

No final do artigo de 2010, eu alertava para o que nos esperava para os próximos 20 anos! Estava errado dessa vez. Bastaram apenas mais nove anos!

Repito. Algumas sociedades aprendem com seus erros e prosperam. Outras repetem insistentemente os mesmíssimos erros e desaparecem. Já aconteceu antes e continuará acontecendo.

O meu artigo de 2010:

«Em 2002, escrevi um texto intitulado Roleta Russa analisando as consequências das fortes chuvas ocorridas em Angra dos Reis naquele fim de ano, que vitimou inúmeras pessoas. Hoje relendo o texto escrito há oito anos e relembrando as imagens que tenho de Angra desde meus quatorze anos, ou seja, desde 1978, vejo que pouco aprendemos com nossos erros ao lidar com os recursos naturais que insistimos em degradar.

Leia aqui o artigo na íntegra.

Pois bem, passou o tempo, as fotos dos relatórios do projeto Olho Verde se multiplicaram sem parar, denúncias foram e continuam sendo feitas ao Ministério Público, à mídia e ao legislativo, governos saíram, outros entraram, mas o passivo ambiental, de uma forma geral, continuou a crescer e hoje agravado a cada dia pelas conseqüências inevitáveis associadas ao aquecimento global.

Moral da história: Independente do lugar, se nesse exato momento chover intensamente, teremos tragédias acontecendo em qualquer município de nosso Estado. Esse fato é exclusivamente devido ao imenso passivo ambiental existente que cobra e continuará cobrando de todos os administradores públicos incapazes e principalmente da sociedade omissa, a promissória mais do que vencida da ausência de gerenciamento que temos com os assuntos que variam das questões ambientais como daquelas que envolvem necessidades básicas dos seres humanos, tais como políticas habitacionais, de transporte, saneamento e educação que levem em conta no mínimo um horizonte de vinte à trinta anos de duração, independente da bandeira político-partidária que ocupe a situação.

Infelizmente, apesar das medidas que deverão ser tomadas pelo poder público sob o efeito e pressão das recentes tragédias em Angra dos Reis e na Baixada Fluminense, o processo de ocupação desordenada e outras mazelas da miopia de nossa classe política e da passividade da sociedade, continuarão não só em Angra como em tantos outros municípios, explodindo “bombas relógio sócio-ambientais” de forma cada vez mais furiosa, cobrando em vidas os dividendos de nossa histórica irresponsabilidade. Vocês acham que já foi demais? Pois esperem para ver e sentir o que nos espera nos próximos vinte anos...

Quem viver, verá!»

(Moscatelli, 2010)