Começo esse texto questionando, se você trabalhador, seja funcionário, dono, prestador de serviço e com qualquer outra posição dentro de uma empresa, já reparou que dentro dos sete dias da semana e 24 horas do dia, geralmente passa a maior parte desse tempo no seu ambiente de trabalho?

E quando digo ambiente, estou me referindo ao espaço propriamente dito. O lugar escritório, aquele que em períodos pré-pandêmicos normalmente era o espaço físico da empresa, hoje muitos adotaram o próprio ambiente do lar. Mas de qualquer jeito todos tem um espaço físico destinado ao trabalho.

Sendo assim, durante muito tempo esse assunto me intrigou. Em meados dos anos 2015 empresas brasileiras estavam perdendo alguns funcionários para empresas multinacionais que estavam abrindo seus escritórios no país. Essa mudança, além do fator remuneração e outros temas levantados por estudos mais focados em recursos humanos me geraram uma curiosidade em relação a diferença de espaços de trabalho. Foi então que fiz uma grande pesquisa para entender se o ambiente de trabalho tinha alguma relação na motivação e bem-estar do trabalhador.

Falando sobre a jornada de trabalho de um brasileiro, que passa em média oito horas diárias no ambiente de trabalho por 35 anos da sua vida, o tema qualidade de vida relacionado ao espaço físico do trabalho surgiu em estudos datados dos anos 90, após uma revolução no modo de trabalho relacionado com a alta produtividade e cobrança.

Um teórico sobre o assunto foi Elton Mayo que tinha uma filosofia baseada na importância do ser humano em sua totalidade e defendia reconhecer o valor do funcionário para que ele se sentisse importante e útil. Ao longo dos anos surgiram inúmeros estudos sobre essa temática. Trabalhando na área de arquitetura, percebi uma significativa mudança nos espaços de trabalho. Uma mudança onde os ambientes se moldaram à cultura de cada empresa.

Vi grandes empresas de tecnologia e mídias se tornarem referências em ambientes de trabalho, onde o funcionário tinha ao seu alcance espaços como salas de jogos, minicozinhas com máquinas de snacks disponíveis durante toda a jornada de trabalho, sala de descompressão com sofá, pufes e redes para descanso. Além disso, o mobiliário, as cores, o layout dos novos escritórios começaram a ser pensados para cada área e setor de uma empresa.

Um teórico chamado Herzberg fala sobre os espaços físicos e ambientes das empresas como fatores de higiene, comparando aos princípios médicos de higiene que não curam, mas previnem doenças. Assim esses fatores não são considerados motivadores, mas como paliativos para que os funcionários não tenham do que se queixar.

Durante toda essa revolução na arquitetura de espaços corporativos, percebi as empresas se dedicando para atrair o funcionário, fazendo com a arquitetura fosse uma aliada.

Hoje após o período da pandemia e a introdução de forma quase forçada do trabalho remoto em muitas empresas, sinto-me curiosa para entender qual é o futuro dessa temática. O que as empresas estão desenvolvendo para proporcionar aos seus funcionários. Visto que já percebemos uma volta ao trabalho presencial por parte de muitas empresas, questiono o que isso vai gerar? Já que muitos funcionários perceberam as facilidades do trabalho remoto e até mesmo o híbrido (parte presencial e parte remoto).

Uma estudiosa da área, Bergamini, diz que fatores ligados ao ambiente de trabalho uma vez oferecidos aos funcionários não podem ser retirados, para que não ocorram insatisfações aos funcionários. Seria então um problema a retirada do modo de trabalho remoto dos funcionários? Ou foi um problema a ida dos funcionários para suas casas trabalhar durante o período da pandemia?

Acredito que ainda teremos que avaliar esses impactos, mas que o futuro dos ambientes de trabalho acabou de passar por mais uma mudança, isso é fato. Entendo que a satisfação completa no trabalho é quase uma utopia. Sempre existirão necessidades não satisfeitas que conformarão novas condutas de motivação, que exigirão a busca de patamares mais elevados a serem atingidos. Mas o que a arquitetura pode fazer por isso? Onde os arquitetos, treinados para projetar perfeitamente os lares dos seres humanos, podem contribuir para o espaço onde esses mesmos seres humanos passam mais tempo de suas vidas?

Deixo minha inquietação compartilhada, e espero poder falar mais em breve.